Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 16 de março de 2012

Idem!


Rapaz, que situação! Daquela vez, balancei. Uma vampira. Certa grandeza em tanto oferecimento de carne – me tome, me destrua. Ardor de viver? Mulher/chama? Assustava todo mundo, quem receberia tanto presente? A gente adivinhava um excesso qualquer naquela mulher, ela sobrava e era demais. Maluca? Neurótica? Sabe uma dessas para as quais só importa mesmo a vida amorosa/erótica? Temperamental, possessiva, ciumenta, isso me deu um susto. Tive de fazer força para sair logo de baixo. Com certa dor no coração – necessitada, também, de proteção, é engraçado. Tinha uma espécie de infantilidade, como a Marilyn Monroe era infantil, aquele tipo de coisa. Fútil e desamparada. Procurei ser bem objetivo – vejo você é na cama, eu disse a ela, logo no começo.
(Quando chego perto de você, eu sinto um frio, mas é um frio gostoso. Nem que seja só uma vez, quero apertar você em meus braços).
Afinal, não era mais criança, e passada por outras mãos. Eu não era louco de desarrumar minha vida. Mas ficou uma nostalgia, sabe?

(COUTINHO, Sônia. Uma certa felicidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, pp. 65 – Trecho do conto Essas tardes de maio)

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