Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 20 de março de 2012

Tudo nonsense


Hoje o dia foi bem nonsense e por isso o post será bem nonsense, quase um mosaico.
Fui à dentista.
Excepcionalmente uma dentista: sexo feminino, como nunca antes. Namorei três dentre os quatro dentistas com que já fiz tratamento. Acho que eles me deixaram de boca aberta em muita coisa. Mas, mera coincidência: não escolhia os dentistas pelo sexo.
Dei risada durante metade da profilaxia, porque ela me entupiu com uns aparelhos e produtos que me davam cócegas na mucosa, na gengiva, na língua... E acho que o meu sorriso só se desmanchou na hora de pagar a conta astronômica, que me fez ver estrelas. Ai, doeu!
Saí de lá já um pouco após as onze horas.
Olhei nos olhos dele, depois de ter hesitado tanto em aceitar o almoço, e o que vi foram pelo menos uns três divórcios ou coisa parecida. Só pensei em complicações, em um bando de ex, em um bando de filhos... De modo que achei que o passado dele era bem maior que o meu e que isso já determinaria uma desvantagem para mim.
Todo mundo tem passado, já disse mil vezes... Mas, vá lá, o dele poderia interferir para além de uma pensão judicial.
Coitado! Olhava para a minha cara na maior animação, cheio de esperanças... E minha cabeça ali, complicando, complicando... Nem era a minha cabeça: é que eu gosto de outra pessoa, que está longe, e nem sei como me deixei convencer a ir ao almoço. Talvez porque as melhores escolhas que a gente faz são mediadas por um leque de alternativas, de opções... aí pensei como minhas amigas e resolvi ir ver mais de perto a situação. Mas já fui com idéias pré-concebidas.
Sei lá se há divórcios mesmo... Sei que há um passado grande, maior que o meu, e um bando de complicações à espreita.
Pensei em quem deseja a morte, mas não viaja de avião porque tem medo de morrer. Achei que nonsense mesmo é isso.
Voltei e pensei em mim mesma, que tenho medo de viver demais, enquanto também não quero definhar e preferia morrer sem perceber que morri e isso é um troço genérico e generalizado: mil pessoas dizem que preferiam morrer enquanto dormem.
Desisti de uns planos malucos que não tinham nada a ver com a morte.
Não eram planos tão malucos, mas era obra e graça de desespero. E meus desesperos não são questão devida ou morte, são coisas de minha pressa em resolver as coisas.
Odeio coisas que só se resolvem aos quarenta e quatro do segundo tempo: se eu pudesse resolveria tudo o quanto antes; faria o que houvesse para fazer; tomaria as iniciativas e faria os preparativos fosse lá do que fosse.
Descobri que me magoei por causa de uma pessoa ruim, daquelas que se deve amar à distância: é que tenho pena dela. Olha, tenho pena de verdade, compaixão absoluta... Mas está ali alguém que sabe magoar o outro. E como eu também não tenho medidas na hora de devolver os estragos das feridas, acabo batendo bem mais forte do que o meu ferimento e sendo desproporcional ao devolver a ofensa que teoricamente teria que ser apenas à altura do agravamento. Ela é uma mulher sozinha. Bem sozinha. E quando ela descobrir isso será muito tarde.
Pelo menos os outros sabem que são sós – disfarçam, procuram filhos, amigos, festas, igrejas, mas sabem que são sós. E os que não sabem, o que será deles?
Conversei em pensamento com Lacan. Mas, que coisa, ele anda me perturbando: “ O melhor destino de uma mulher é ser mulher de um homem”... Está aí a única coisa em que costumo ser procrastinadora: questões psíquico-sentimentais. Ah, decisões que eu não queria tomar nunca...
Fui lá, tomei a bênção.
Gosto de passar por ali.
Vi uns quatro homens bonitos hoje, verdadeiramente bonitos. Depois, pensei em Thales, que é o homem mais bonito desta cidade... Sempre me pergunto: “onde estão os homens?”
Depois da bênção, rezei para que Lacan me deixasse em paz – ora, pois, que perturbação! – porque amanhã viajo cedo, “a estrada é longa, o caminho é deserto e o Lobo Mau pode estar por perto!” e se brinco com essa parlenda, penso no Lobo Mau, E., pai do meu ex-flerte... Mais um pouco e eu seria Juliet Binoche em Perdas e Danos...
Descasquei uns abacaxis e dei uns chiliques em cima de uma pessoa folgada. Será que estou de mau humor ou acabou o meu tão pequeno estoque de paciência? Pensei no quanto eu gosto da criatividade da minha amiga que subescreve o seu blog como Pensamentos Histéricos: poxa, diz tudo, tudo! Um título desse e nãos e precisa dizer mais nada... Bom, pelo jeito nem Freud nem Lacan me largam até que eu pague as dívidas acumuladas que tenho com os dois.

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