Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 6 de março de 2012

Para Pedro e outros amigos


Muitas vezes, Pedro, você fala
Sempre a se queixar da solidão
Quem te fez com ferro, fez com fogo, Pedro
É pena que você não sabe não

Vai pro seu trabalho todo dia
Sem saber se é bom ou se é ruim
Quando quer chorar vai ao banheiro
Pedro as coisas não são bem assim

Toda vez que eu sinto o paraíso
Ou me queimo torto no inferno
Eu penso em você meu pobre amigo
Que só usa sempre o mesmo terno

Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou

Tente me ensinar das tuas coisas
Que a vida é séria, e a guerra é dura
Mas se não puder, cale essa boca, Pedro
E deixa eu viver minha loucura

Lembro, Pedro, aqueles velhos dias
Quando os dois pensavam sobre o mundo
Hoje eu te chamo de careta, Pedro
E você me chama vagabundo

Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou

Todos os caminhos são iguais
O que leva à glória ou à perdição
Há tantos caminhos tantas portas
Mas somente um tem coração

E eu não tenho nada a te dizer
Mas não me critique como eu sou
Cada um de nós é um universo, Pedro
Onde você vai eu também vou

Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou

Ofereço a música Meu amigo Pedro, de Raul Seixas, ao meu amigo Pedro e a alguns outros.
Acho que com o tempo eu passei a me deixar tomar pela compostura. Eu queria mesmo era dizer a vocês, meus amigos: "Oh, cambada de filhos da puta, por que vocês vivem complicando a porra da vida, que já é tão complicada?"...
Porque tem certos amigos com quem eu tenho intimidade para isso e com os quais a conversa só pode ser nesse nível!
Poxa, é um queixume infinito: "Ah, estou sem namorado (a)"; "Ah, estou sem emprego"; "Ah, não tenho isso e não tenho aquilo; e não sou como eu queria ser e blablablá o amor de minha mãe"... E quando finalmente têm tudo, do emprego ao namorado, passando por um acerto de contas com o passado na família, ainda acham jeito de reclamar das soluções.
Tenho dois amigos que se odeiam. Para esclarecer, vou fazer a recontagem dos meus amigos heterossexuais: tirando o Leonardo eu tenho mais três amigos heterossexuais. São dois, dentre estes, que se odeiam. E quando eles se encontram aqui em casa eu me sinto na Faixa de Gaza.
Eles têm um ódio estrondoso: batem portas, batem a tampa do vaso sanitário,batem a porta da geladeira, batem papo para segurar a tensão,com os olhos brilhando no fulgor do ódio recíproco - controlado pelo pacto da religião de um; e por um exercício de polidez do outro - mas, hoje foi um pouco demais, porque eu tive que ouvir mais uma vez, em separado o que um pensa do outro:
- "Hipócrita. Medíocre. Pendante. Insuportável. Antipático".
Por incrível que pareça eles têm isso em comum: usam exatamente os mesmo adjetivos para descrever um ao outro.
Fico pensando que, diante disso, devo concluir que tenho dois amigos hipócritas, medíocres, pendantes, insuportáveis e antipáticos, que pelo jeito eu amo muito.
E que ningem pense que eu convido os dois para a mesma mesa: a coincidência, a velha coincidência... E aí, depois que um vê o outro aqui em casa, nenhum dos dois recua, para não dar o braço a torcer
Mais coisa em comum: os dois são poetas, da mesma escola... talvez esteja aí o verdadeiro problema.

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