Louquética

Incontinência verbal

domingo, 4 de dezembro de 2011

Filha da mãe


Um dia o cafajeste encontra a periguete e, neste dia, nada será como antes para as duas partes. E assim foi.
Num reino longínquo chamado Laemcasa, aconteceu da mãe do meu primo entrar em desespero pelo fato dele ter 18 anos e ainda ser virgem. Por isso, essa ocupada mãe deu um jeito e entrou em acordo com a empregada da vizinha para que aquela profissional dos serviços domésticos fizesse uma hora extra nos serviços sexuais.
E assim foi – o que novamente fundamenta a minha dor de cotovelo eterna porque eu não achei estas facilidades em minha vida. Pelo contrário, meu primeiro namorado recebeu tiros de sal grosso no traseiro e meu pai evitou o quanto pôde qualquer contato meu com meninos que pudesse resultar em perda da virgindade.
Os tempos se passaram em Laemcasa e depois de uns quatro anos aquela moça que auxiliou meu primo e tranqüilizou a mãe dele acerca da heterossexualidade do rapaz apareceu, trazendo uma menina de quatro anos que ela alegava ser filha dele.
Meu primo, futuro cafajeste, entrou em polvorosa, apesar de alegar ter usado preservativo, e disse que se a moça estava interessada no assunto, ela que desse providência no teste de DNA.
Naquele tempo não havia ainda a ideia de paternidade presumida, isto é, atualmente, se o homem se recusa a fazer o teste, presume-se que ele é o pai. Ponto final e cartório para todos.
O tempo voltou a correr, agora em mais de uma década.
Meu primo se firmou no cargo de cafajeste, tendo mais mulheres que o mais rico sultão da Arábia, praticando salto sobre cerca sem barreiras, duzentos metros livres da casa dele à casa das mulheres casadas; entrando em aglomerações sexuais; transando com qualquer mulher que respirasse e estivesse a fim e, já no final da temporada, após o cansaço decorrente de tanta olimpíada sexual e talvez alguns traumatismos penianos, optou – como convém a quase todos que estudam na universidade – por casar com a coleguinha, competente, inteligente, esforçada e de um mau humor de afugentar multidão.
Dois anos depois, meu primo cafajeste se tornou pai. Pai exemplar. Pai que qualquer ser humano merece, porque ele participa, ele brinca, ele planeja, ela conversa com a criança... coincidentemente, os cafajeste que eu conheço são excelente pais...
Então, lá vem a moça de novo, alegar a paternidade não reconhecida. Desta vez a Justiça patrocinou o teste de DNA.
Até a esposa chata do meu primo cafajeste presumiu que a mocinha era filha dele e toda a família foi aquiescente com a ideia. De minha parte, não para ser do contra, lembrei bem que acreditava que ele não tinha a menor chance de ser o pai, por mais que houvesse a tentativa escusa da parte da”mãe” de armar qualquer coisa: eu confio no preservativo. Ok, há acidentes e há sabotagens, mas estava na cara que ali estava se armando um grande golpe.
ACREDITO que ela, a que iniciou meu primo, apostou que ele se recusaria ao teste. Outra chance de herdar bens e de conseguir uma grana mensal e outros benefícios ela não teria e ele seria um alvo fácil.
Nesta sexta-feira saiu o resultado: Negativo para a paternidade de meu primo. Eu, de cá, ri: DNA, ou seja, De Nada Adiantou. E a parte reclamante esbravejando impropérios no Fórum, em meio aos seus “não pode ser”; “tem alguma coisa errada”; “Eu quero outro teste” a que a Oficial de Justiça replicou.
Ao dar os parabéns ao meu primo ele estava triste, infeliz, arrasado: se limitou a dizer que eu tinha razão, que só eu acreditei nele, arrolou argumentos e conclusões que eu usei e transferiu os parabéns para mim, pela lógica. Ele, na verdade, aceitou a mocinha como filha subjetivamente.
Ele teve pena da mocinha, assim como eu tive. Não deve ser fácil perceber que a mãe não tem a menor ideia sobre quem seja o pai dela, encarar as expectativas frustradas, sentir o desamparo...
Deve ser esquisito pensar que se é apenas "filha da mãe"...
Meu primo saiu de lá e foi até o Shopping Iguatemi com as duas, comprou um celular para a mocinha e voltaram todos aqui para Feira, cada um, a seu modo, bastante triste.
Ontem ele me ligou de novo, querendo desabafar: acho que ele entendeu que perdeu uma filha. Mesmo não sendo a filha dele, em poucos meses ele realmente aceitou a ideia. Sorte dela, porque ele já discutiu comigo o quanto a mocinha, que eu vou chamar de D., porque é a inicial do nome dela, era boa em Matemática e que ele faria o possível para ajudá-la.
Ele continua triste, bem triste... E me dá muita pena deles. Por outro lado, confirmam minha tese: família é aquela que o coração escolhe. Não tem jeito, consangüinidade não supera afeto.
Olha aí, também, o machismo nosso de cada dia, desde o começo da história, quando a mãe do meu primo quis garantir a vida heterossexual dele; quando a empregada da vizinha (mãe da mocinha) negociou o sexo; quando, posteriormente, ela se mostrou mega-periguete; quando, ainda depois, nós todos (a saber, eu, a filha dela e os demais) concluímos que sob todos os interesses materiais estava uma mulher promíscua – e os cafajestes também não são promíscuos?.
E ali não foi apenas a Justiça a emitir julgamentos e sentenças, porque humanamente somos assim, dominados pelos desígnios de uma cultura machista. E, claro, não é toda mulher que é boazinha e muitas se valem de artimanhas calculadas para levar vantagem nas coisas. Não dá para negar.
Sei que meu primo é um bom pai e seria um bom pai de qualquer pessoa que ele escolhesse como filho ou filha. Considero isso um atenuante na carreira de cafajeste. Sem mais, Meritíssimos!

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