Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Tribos


Não sou mais desqualificada: passei honradamente em meu Exame de Qualificação. Fiquei preocupada comigo mesma apenas porque não fiquei nervosa, o que poderia ser interpretado como excesso de autoconfiança ou convencimento, mas, ainda bem nada disso aconteceu.
Vi minha banca surpresa, conforme assumido por uma das professoras, porque eles presumiam que eu tivesse problemas com a escrita e problemas com criatividade e com metodologia, porque a isso poderia ser atribuído o processo de minha ruptura com a ex-orientadora. A leitura de minha tese, segundo a banca, eliminou o equívoco. Fiquei ainda mais feliz pelo meu orientador ter dito: não consigo entender o que houve com “X” (a orientadora) para perder, assim, uma orientanda com um trabalho deste nível, com uma escrita fluente e com uma postura acadêmica tão responsável.
Mais do que a aprovação, fiquei feliz pelo resultado subjetivo.
Gosto muito do meu orientador e volto a repetir a necessidade de trabalharmos com quem nos é simpático. Ficar ao lado do inimigo, do antipático e do desafeto incomoda e prejudica a pesquisa e o nosso desenvolvimento.
Tenho, pois, um imenso compromisso moral com meu orientador. Gosto dele e sei dos esforços dele para driblar a greve dos aeronautas no aeroporto de Lisboa horas antes do vôo dele para Brasil, para honrar os compromissos de minha defesa. Deu certo, mas antes ele já havia acionado mil contatos por aqui pelo Brasil só para salvaguardar o compromisso. Se já sou responsável, ele reforça em mim a preocupação em continuar sendo.
Não quero jamais ser uma aluna medíocre. Fazer qualquer coisa, escrever qualquer coisa, fazer da vida acadêmica uma coisa qualquer.. Isso não é comigo: entro no jogo, me comprometo.
Achei que meu orientador ficaria retido na alfândega, cheio de vinhos do Porto mal declarados, mas ele foi prudente. A bagagem veio foi cheia de histórias e observações interessante sobre o povo português, sobre Portugal, país tão adorado por ele. E como não poderia deixar de ser, as gafes culturais ocorrem: Por aqui, chamamos a qualquer homem de “Moço”. É um vocativo comum: “Moço, por favor, onde fica isso?”; “Obrigada, moço!”; “Certo, moço!”, até que o homem português se declara ofendido porque “moço” por lá é referência para os homossexuais. Interessante como universalmente qualquer coisa afeta a integridade moral masculina. Para nós, moço é só um homem jovem, uma maneira cortês de chamar um homem. Que pena!!!nós, seres humanos, em nossas eternas lutas interiores com essa dificuldade de reconhecer o outro, o diferente como sendo tão humano quanto nós mesmos.
Com todas as brincadeiras que eu faço, acho que é uma dádiva ter um orientador que nunca passou perto da mediocridade.
Achei por bem, após tudo isso, aproveitar aquela oportunidade em que as coisas eram favoráveis e o sol resolveu aparecer: me mandei para Guarajuba, aceitei os paparicos da minha tia, desisti de sair no sábado à noite e resolvi curtir a preguiça pós-sol, com minha pele à là Zeca Baleiro, ou seja, com o “Fogo do juízo final”, porque nunca mais eu tinha visto sol e muito menos o mar. Vi e exagerei.
A praia tinha mais homens do que mulheres. Melhor ainda: tinha homens bonitos e prováveis heterossexuais. A praia se faz também pela sua paisagem humana...
Falando nisso, nesta segunda-feira eu fui à UFBA auxiliar as escolhas de disciplinas de um dos meus amigos aprovados no doutorado. Nos poucos minutos em que fiquei no quadro de avisos, apareceu um moreno lindo, maravilhoso de rosto e corpo e me pediu ajuda e informações que eu, prontamente atendi.
Meu amigo lascou meio mundo de indiretas que eu ignorei. Depois, fui sentar num canto e o moreno apareceu de novo, se esparramando entre a cadeira e a mesa como um gato se espreguiçaria ao sol. E lá vem o meu amigo... E lá vem as indiretas... Somente depois de observar bem o jeitinho do moreno, suas poses, caras e bocas; e que um outro amigo em comum surgiu e o abraçou, sacudiu e fosforesceu é que o meu amigo constatou que aquele moreno lindo era gay. Poxa, demorou, hein? De minha parte nunca houve dúvidas.
Gosto de gays. Sinceramente, tenho respeito e carinho por eles, apesar de fazer piadas de mal gosto e de me contaminar pela minha cultura em algumas falas. Sou simpática a eles, por defender seus direitos políticos, por conviver com eles e por depreender o sofrimento de muitos (tendo vergonha de si, escamoteando por temer a família e a discriminação social, por temer o desrespeito...). Tenho maravilhosos amigos gays. O chato é que quanto mais gays, menos heterossexuais sobram para nós, mulheres.
Ainda neste tópico, em meu fim de semana na praia, até comentei com minha tia sobre o ato dos homens dali mexerem conosco, terem iniciativa, fazerem gracejos... Pode ser que a ausência de homens 'do sexo masculino" seja muito próprio dos lugares onde ando e de onde eu moro: vi dúzias de heterossexuais por ali... A menos que seja área de preservação da espécie ou reserva ecológica dos índios Papachanas...


Somos todos juntos uma miscigenação
E não podemos fugir da nossa etnia
Índios, brancos, negros e mestiços
Nada de errado em seus princípios
O seu e o meu são iguais
Corre nas veias sem parar
Costumes, é folclore é tradição
Capoeira que rasga o chão
Samba que sai da favela acabada
É hip hop na minha embolada
É o povo na arte
É arte no povo
E não o povo na arte
De quem faz arte com o povo
Por de trás de algo que se esconde
Há sempre uma grande mina de conhecimentos
e sentimentos
Não há mistérios em descobrir
O que você tem e o que gosta
Não há mistérios em descobrir
O que você é e o que você faz
Maracatu psicodélico
Capoeira da Pesada
Bumba meu rádio
Berimbau elétrico
Frevo, Samba e Cores
Cores unidas e alegria
Nada de errado em nossa etnia.
(Etnia - Chico Science e Nação Zumbi)

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