Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O anel que tu me deste


Não gosto de jóias. Uso sempre os mesmos brincos, não dou bola para ouro, pedras preciosas, essas coisas...
Além de ser impossível alguém me ver, nesta encarnação, com as unhas pintadas de vermelho ou de café (que eu acho brega, extremamente brega e esquisito), ninguém nunca me verá de brincos pendurados. A minha porção perua é outra. Glu-glu...
Detesto anéis. Detesto pulseiras, custem o quanto for.
Lembrei do assunto porque fui ali remexer minha gaveta em busca de um broche e dei de cara com o anel que o meu padrinho me deu há treze anos. Só uso o anel para tirar fotos e lembro muito bem a manobra dele para conseguir que eu fosse escolher e comprar um, por causa de uma cerimônia.
Glória Maria exibiu, uma vez, numa entrevista, brincos que ela assumiu custarem mais do que um apartamento na Vieira Souto...eu nunca daria tanto por uma jóia. Acho que isso é muito transparente em mim. Acho jóias uns troços supérfluos.
Meu padrinho me fez escolher uma anel. Escolhi a contragosto, sabendo que poderia estar gerando despesas inúteis... Para mim, era o verdadeiro consumo marginal, mas escolhi, questionei o valor e ele cortou pelo menos dois zeros no preço que me disse. Acreditei. Acreditei que aquilo nem era uma jóia e sim uma tal semi-jóia. Mas aí se passaram estes 13 anos e, independentemente do uso, o dourado do anel continua intacto, sem manchas verdes de iodo aderindo à peça, os cristais continuam idênticos ao que eram na hora da compra e aquela pedra gigantesca é uma baita de uma ametista verdadeira, segundo observou um perito na questão, amigo meu, Vítor, da sessão de penhores da Caixa Econômica. Não levei o anel para avaliação, não, foi mera coincidência e ele viu, brincou, perguntou se eu estava rica, gargalhou e pegou minha mão, comentou sobre meu anel,e sob minha cara estupefata e incrédula acerca do valor do que eu levava literalmente nas mãos, fez manobras riscou, bateu e riu de mim, achando que eu estava querendo ser modesta.
Pobre com jóia é um contra-senso...e anel precioso nas mãos erradas, pior ainda.
O valor sentimental ultrapassa, para mim, o valor que aquilo lá deve ter. Eu nunca irei me desfazer do anel. Nem dos outros anéis inúteis que eu tenho, porque ganhei um de uma amiga e outro de um ficante argentino generoso e romântico. Eu espero nunca terem desconfiado que eu tenho agonia nos dedos, pavor de usar alianças, anéis, seja lá o que for. Achei o gesto deles, de me presentearem, extremamente cortês.
O problema é que realmente mulheres gostam de jóias. Eu gosto de bijouterias, eu repito constantemente todas elas e já paguei caro por peças de zircônio e por pedrarias brutas,vidros, plásticos, por reles águas vivas e cobre, mas dar mais de dois mil reais num anel não é coisa que eu aceite ou pratique.
Ainda penso no meu padrinho que posssivelmente deve ter interpretado o meu mau gosto como rebeldia, deve ter achado que eu era uma pessoa birrenta, mal-criada...e os da minha família, então,devem ter julgado um absurdo uma mulher ter tanta resistência a um metal precioso,a essas coisas que brilham e deslumbram todo mundo. Juro: não faço questão.
Quando vi um colar de pérolas verdadeiras ao alcance do meu pescoço, "Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto..." porque as pérolas falsas são bem mais lindas, não pesam, são idênticas entre si... Ficar com uns mariscos no pescoço me fez me sentir um crustáceo.
Adoro acessórios, tenho minhas "peruíces",gosto de colares, de cintos, de adereços de cabelo, sou louca por sapatos - tenho vários sapatos trazidos de São Paulo em 2009 e que até hoje não usei, mas não consigo achar que isso seja supérfluo. Acho que todo sapato tem a sua hora. O que acontece é que é a roupa quem convoca o sapato. Ou o meu humor. Tenho certos pares que estão aguardando sua vez. Tenho outros que amo tanto que não consigo usar, por medo que acabem. E tem outros que me trazem recordaçõs de um tempo aí que eu não quero lembrar.
Mas as jóias, não estou nem aí para elas. Meu padrinho sabia que se eu soubesse do preço verdadeiro do anel eu jamais o aceitaria... Agora está aí a peça de museu, aguardando a próxima cerimônia metida besta a que eu tenha que ir.

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