Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

V de verdades: retrospectiva do últimos dias do resto de 2014


Agora, sim, posso dizer que este ano passou rápido demais. Ou não: pode ser meu problema particular de memória e de percepção. Deste modo, a sensação que tenho é que a Copa do Mundo ocorreu há dois anos. E meu aniversário neste ano? pouco lembro, exceto que caiu num sábado e que fui comemorar no show da Banda 80 na pista, que minha amiga foi comigo e que aquela peste do meu ex, o Zero Um, foi lá também estragar a minha festa, sempre bêbado e vexatório.
Mas conto meus últimos vexames de 2014: Jesus Cristo, como contar àquela pessoa que pensa que somos amigas, que eu não tenho vontade de vê-la, curiosidade, nem interesse num encontro? como se faz isso?
Há pouco ela me pegou na internet. Blablablá e eu sem jeito ante os protestos de saudade manifestados por ela. Eu e meu desinteresse. E os queixumes dela, de que a irmã não a perdoou, apesar de ser tal irmã, uma católica fervorosa. Veja, ela queria ser perdoada por estar na casa desta irmã tendo um caso com o marido desta irmã, abortando filhos do marido dessa irmã e morando sob o teto desta irmã. Deveria ser perdoada, né? mas...
Pessoa boa, que se então soubesse que eu nunca a perdoei pelas atrocidade, maldades, falsidade e explorações feitas contra mim, iria sambar na minha moral.
Nessa mesma linha, ontem fui encontrar Rodrigo. Fui e fui de caso pensado, nesses dez ou onze meses sem que a gente se encontrasse.
Ora, ele é um grande inibidor de expectativas, ele defende a sinceridade e deixa pistas (o que significa deixar claro, pois não sou burra) algo bem similar ao que ocorreu com minha outra amiga: que para ele, há mulheres para amar e outras para transar. Eu estaria entre essas últimas.
No nosso último encontro, ele deixou a desejar ( ele me deixou desejando, pois fez um fast sex e não me impediu de ir embora - um cavalheiro, por pior que fosse, deveria dar um tempo e se importar com a dama) - isso após eu dar aula até às 17 horas, enfrentar a BR, estar cansada, ir tomar banho, me arrumar, gastar com táxi... neste caso, reconheço: não brinque com a memória de um mulher.
Finalmente, ele manteve contato por seis vezes, sendo duas há vinte dias e quatro entre a sexta e o domingo.
Tramei com as amigas: se ele frustrou minhas expectativas, se inibiu expectativas românticas, vou dar o troco: vou frustrar as expectativas sexuais dele. Caprichei no visual, nos arranjos e no contexto, só para aumentar o impacto da tramada queda. Levei o livro dele que estava comigo, último pretexto de encontro.
Almoçamos. Blablablá, assunto interessante. Velho tópico sobre expectativas - ele falou que não alimentava expectativa para nada. Protestei que viver sem expectativa equivaleria a viver sem sonhos; que Deus me livre!; ele falou que o romance dele acabou, com a moça do Ceará (ora, foda-se!) -  Ele pediu a conta - lógico que eu dividi a conta e nem hesitaria em dar tal ousadia a uma pessoa pão duro.
Saímos. Eu me ofereci para deixá-lo em casa, já que eu estava de carro. Ele disse: "Poxa, pensei que a gente fosse esticar esta conversa". Eu disse que iria levar meu tio à casa de meu pai (era verdade, mas não pareceu).
Ele começou a ligar compulsivamente para uns amigos, para não ter que voltar logo para casa... Ninguém parece ter atendido.
Fomos para o carro. Liguei o som, pus um álbum dos Beatles com faixas excelentes. Passeei até á casa dele, só para deixar as saudades, na tarde deste domingo.
Larguei ele em frente ao condomínio. Risíveis despedidas sacanas minhas, com beijinho no rosto e muita cara de pau. Viu, escroto, o que é uma expectativa frustrada? é algo assim, tá?
Mas enquanto eu estava no restaurante, qualquer possibilidade de desejo ou simpatia escaparam. Quando dá o desencantamento, é isso: "O que foi que eu vi nesse cara?". E ele se achando, antes. Certo, eu estava encantada, mas isso não dava a ele o direito de tripudiar sobre minhas expectativas.
E eu paguei a metade da conta para reforçar minha vingança: para um pão-duro, perder uma mulher que não dá despesas é um péssimo negócio. Pronto! Fui mesmo ver meu pai, dar um presente, me reconciliar co minha casa, meu lar, meus livros e dormir gostoso, como foi até às oito da manhã de hoje.
E tenho memória. Eu sei o que ele me fez no verão passado, quando poderia ter sido legal comigo.
Já meu primo, um caso sério: quando eu estive na pindaíba, ele nunca me deu um aquilo de fubá, um pão seco, nem se ofereceu para e emprestar de centavos.
Agora ele está me devendo, pois emprestei, na boa, um dinheirinho há quase um ano. E há um ano é assim: vou te dar cem reais hoje; ah, ficou para fim do mês, ah, ficou para o começo da era glacial. E hoje que eu pedi dez por cento do meu dinheiro, ele com grana no bolso, se negou a pagar. Pois é, necessidade é só a dele. As minhas, não. Desse tipo de gente eu corro a léguas. Não empresto mais.
Estou em paz mesmo. Mas sentar na mesa com os desafetos, estou fora: só divido prazeres com os amados. E que em 2015 eu tenha muitos amores, de vários tipos - amizades, namoros, rolos...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O poder do estereótipo


Vou viver eternamente inconformada, protestando contra os estereótipos. Os sexuais, então, estão no topo do que eu detesto. Vamos a eles: que convicção é esta de que toda e qualquer mulher gosta de ser chamada de vagabunda, levar tapas no traseiro e ter o cabelo puxado na hora do sexo? E diga-se, ainda, sexo com muito palavrão!
A massificação da cultura, inclusive a cultura comercial sexual, faz com que as pessoas copiem comportamentos. Em sociedades reprimidas, os palavrões equivalem a gestos de liberdade, de privacidade, de extenuação do que se quer falar. Acompanhado dos tapas na bunda mulher e todo o ritual previsível e obrigatório, dá ao homem a certeza de que ali não há amor, é só instinto, liberdade... A depender do homem, associará à ideia de sexo selvagem, que seria, em termos práticos, a aceleração aeróbica do sexo, sempre quantitativo e bruto - que os animais selvagens não se ofendam com tal sandice. Coitado! Pensa que é isso que ele quer e que ela merece!
Quando o André Sant'Anna descreve, em um dos seus contos, o sexo do Executivo de Óculo Ray-Ban, é exatamente isso: a mecanicidade do sexo, repetitivo, previsível, chato, comandado por modelos externos.
A ars erotica de Foucault não tem espaço nesse negócio. Ser carinhoso é ser babaca, ser discreto é ser frio, ser natural é ser fraco. E como há a necessidade de xingar a mulher de puta, talvez implicitamente haja o consenso de que só se pode gozar livremente com uma, ou com quem assuma esse papel. Nós, mulheres, aprendemos que devemos ser damas na sociedade e putas entre quatro paredes. Com isso, também temos medo da naturalidade, das escolhas e das preferências...Não pode! temos que ser liberais. Ser liberal é obedecer ao que é designado pelo comportamento coletivo. Na imposição geral, pelo menos vamos às sex shop, comprar coisinhas para apimentar as relações sem gosto, para vencer a concorrência com as outras, nesse mundo de tão poucos heterossexuais disponíveis.
Casamento em crise? a mulher vai aprender dança do ventre, comprar fantasias, aprender coisas novas visando a prender o homem, escorregadio para outros leitos...Que pena! Tanto esforço e pouco gozo. Quem nunca passou por isso ou disso foi testemunha?
Outro estereótipo é tocante à convicção de que a mulher que gosta de dormir abraçadinha ao par, após o sexo.
Depende do sexo.
Ainda assim, é uma questão de educação o homem tomar a iniciativa de ir embora sem, entretanto, ser grosso ou parecer que o interesse era somente o sexo. Assim, se acabou o sexo, acabou a visita. Verdade seja dita, sexo bom tende a causar sonolência... Consequentemente, virá a preguiça de se vestir, se arrumar, pegar o carro, o caminho...
Queria que meus pares soubessem a hora de ir embora.
Moro sozinha, Gosto de morar sozinha. Gosto de companhia, mas não gosto de quem me sufoca ou delonga a presença pelo meu lar.
E minha privacidade? E meu bem-estar? Se não há indicativos ou pedidos para que o homem fique (ou a mulher, também, lógico), vale o bom senso e obviamente, a partida.
Por mim, cada um que se lasque em palavrões, em estereótipos, no que quer que seja, desde que saiba que cada ser humano é um, tem suas propensões, não corresponde ao que se fala em falso consenso.
Quem é esperto tem que ter feeling para perceber a configuração individual das mulheres. Imagine se o contexto não ajudar e o cara propuser algo em más palavras? Pode até ser contornável, mas duvido que seja perdoado de fato. O limite entre o sexo livre e a repetição mecânica e insípida de modelos impostos pela indústria do sexo é pequeno. Livre é quem tem escolha e assume preferências.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Pés no chão, que o tempo passa!


E assim o ano passa e só então a gente se dá conta de que 365 dias são dias para caralho! é muita coisa! ao mesmo tempo, é quase nada porque a vida se faz de pequenos episódios nada extraordinário. E quando o extraordinário acontece, a gente fica em êxtase.
Foi um ano bom para mim, embora cansativo.
Há pouco eu recebi um e-mail do Ex-Grande Amor da Minha Vida, em que ele me explicava que sofreu um acidente brutal, enquanto andava de bicicleta, quebrou a mão e o punho, fez cirurgias e não conseguia escrever.
Ontem eu encontrei meu ex-namorado que era o astro da Astronomia. Andamos lado a lado e ele foi me parando para me mostrar os planetas, diferenciá-los das estrelas, me mostrar constelações que só ele entende...Pessoa mais linda, neste sentido - fisicamente vai muito bem.  E eu me sinto tão feliz pelos amores que acabam bem. Poxa, que dádiva!
E se não acabar bem, que pelo menos o tempo seja suficientemente amigo para reprocessar as coisas, as mágoas, o que ficou de bom.
Assim como me escondo de FJ, porque ele me persegue e arma situações para me encontrar, escondo-me daquela que pensa que somos amigas, pois ela almeja um natal em comum. Como, cara pálida, se eu não engoli as misérias e falsidades que ela me fez ao longo do tempo? Como ela pode ignorar o que sei e o que percebi e achar que não lembro de nada que perdoei?
A gente pode se apropriar do tempo, mas ele é nosso dono, rói nosso corpo, deforma nossa memória, mas também ajuda a superar as dores, a entender as coisas. No fundo, não sou inimiga do tempo. Aceito-o. E se alguém me pedisse um tempo, eu não daria: todos temos pouco tempo. Cada qual que cuide do seu.


domingo, 21 de dezembro de 2014

Onde a felicidade mora


A vida é feita de lugares-comuns. Alguns, a gente transforma em fato extraordinário e talvez disso é que se faça a felicidade, este estado de exceção que, ao contrário do que parece, quando vem, vem de graça.
Meu amigo me falava disso de a gente  ser infeliz; e como ser infeliz com dinheiro no bolso faz diferença. Faz mesmo. Ainda que a pessoa seja um daqueles seres infelizes profissionais, a saber, os que valorizam suas depressões fictícias ou reais para angariar atenções e carinhos, os eternamente inconformados com as vitórias e com o que têm, sempre a olhar a grama do vizinho. Ah, neste sentido deixa eu contar que meus dois amigos bem estabelecidos, efetivos em universidades federais, andaram dando um chilique em minha cara, a reclamar que ganho mais que eles, que tenho as melhores oportunidades, que recebo os melhores convites e trabalho com condições excepcionais...Poxa, o que querem eles? ser eu, suponho!
Voltando à proposição de meu amigo a respeito de ser infeliz com dinheiro no bolso, poxa, é um consolo tão bom. com dinheiro você viaja, você compra conforto, você conserta o que pode, ora, inumeráveis são os benefícios. Agora pense em estar infeliz e ainda por cima, liso, duro, paupérrimo, sem dinheiro? Isso, sim, é infelicidade em dobro.
Estou a dois dias das férias e ainda tento me readaptar à rotina antiga. Eis onde o dinheiro e a conversa da infelicidade vai: vou fazer um concurso. Se eu passar, terei um dinheiro bom. Contudo, vou ter que morar nos cafundós do brejo e parecer em casa uma vez por mês.
Se eu perder, me viro com o que tenho, vou trabalhar para os sete anões do capitalismo universitário e ir aproveitando as reservas feitas para este tempo de inverno que pode me pegar no começo de 2015. Desta vez, guardei e planejei.
Acho que continuo gostando de Vinícius. Não sei o que me deu. Ando enrolada no amor. Minha cabeça anda enrolada. Meus relacionamentos são rolos. No plano amoroso, não me conheço, apenas sei o que não quero e o que não gosto.
Na chuva desta segunda-feira, na UFBA, no PAF 1, ao esperar por duas horas o dilúvio passar, para então eu ir ao meu carro, acabei conhecendo um sujeito lindo, L.F. Sou tímida: ele fez malabarismo para falar comigo. Outra história linda, como a que vivi com Bruno, na mesma circunstância (UFBA, manhã, chuva, PAF 1). Adiantando a narrativa, depois de muita chuva ininterrupta, larguei meus pertences com ele, coloquei meus sapatos na mão e sai correndo na chuva, até o carro. Até que me molhei pouco. Peguei o guarda-chuva. enxuguei os pés, calcei os sapatos e voltei para encontrar L.F. e deixá-lo na biblioteca.
Ainda assim, ando melancólica. Acho que é o saldo de ter lutado pela pessoa errada, há um tempo, e agora estar assim, enrolada. Por que eu deixei meu ego se meter na história e lutei por um sujeito que eu nem amava? que erro crasso. Isso foi ano passado. Por que me meti na disputa, se não me interessava pelo prêmio?
Novamente, ontem à noite, F.J. ligou para a minha casa. Senti o fracasso na voz dele. Espero que ele tenha sentido o meu desinteresse através de minha voz. A pessoa me liga procurando intimidades e pedindo para eu aceitar ligação a cobrar, dele, caso caísse a chamada. Ah, sim: agora vou pagar para falar com gente desinteressante. De onde ele tira conclusões desta ordem?
Muitas iniciais só sinalizam meus términos, meu caos e o fato de eu não ter ninguém. Não é por mau caráter meu: não consigo considerar, tornar válido o contato que tenho com quem de vez em quando dorme comigo. Nem é por sexo, é falta de Justa Causa. Vou terminar por que? como? alegando o que?
Há coisas que são movida à base de coragem.
Vou mudar muita coisa em breve. Conscientemente. Não apenas por um número no calendário que me diz acabou um ano e começou outro. E não vai dar para ficar desejando um escorrego que justifique o cartão vermelho no Moço Insignificante.
este, por sinal, foi um ano bom. Apenas cansativo. Só em conseguir me livrar de FJ, foi um ganho: este eu não quero nunca mais, de jeito nenhum. Dirigir nas estradas entre as cidades que moro e trabalho foi outro ganho. O primeiro semestre foi melhor que o segundo, eu é que aproveitei mal. o segundo semestre foi melancólico. O maior feito foi ter ido ao Rio grande do Sul. Salvo isso, nada de extraordinário ou significativo.
Tem coisas pequenas que me fazem feliz: dirigir ouvindo minhas músicas preferidas, ir à academia e contar com um bom treinador, brincar com os gatos, ler os livros, ser amada gratuitamente por outra inicial (F.V), mas acho que posso chama-lo de Vítor, para não confundir. olhou para mim. Gostou de mim. É meu amigo.
Não quero ser infeliz, mesmo com dinheiro. Mas sei que a vida não foi feita para agradar meu ego. Aguento, reinvento, lamento...e sigo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Conto de desencantos


Quando a gente se interessa por alguém não somente torce para ser correspondido como também tendem a ficar revoltado, enraivecido, inconsolável e inconformado quando somos rechaçados. Reconheçamos: o outro também tem escolha e nós podemos não ser a melhor opção do momento.
Hoje dei um fora meio 'fora' dos meus planos. Eu não queria ficar com ele. Ficamos há quase dois meses, num contexto de viagens, de desejo, de reciprocidade...
Ele veio à minha cidade, ficar na casa de amigos em comum. No começo da notícia, quando eu soube que ele viria, limpei a casa, comprei papel de parede novo, lençóis novos, arrumei tudo... E então, quando ele chegou, fui me afastando emocionalmente, nas poucas ocasiões sociais que nos uniu em termos geográficos.
Poxa, que sujeito bom, mas desinteressante. Que falta de glamour, que desaplauso, que chateação ambulante, que paranoias insuportáveis, que falta de investimento no bem-estar de nós dois.
As coincidências foram se encarregando de me proteger dele. Aos poucos, a certeza de que nunca passaria daquela vez anterior.
Hoje eu disse não. Disse com o poder da escolha, com a opção, com a convicção e jamais faria sexo compensatório pela viagem e distância, jamais agrediria minha vontade real.
O microscópio de exame do homem, após a perda do encanto, é cruel: vi um homem alto, desengonçado, sem tato na relação, sem atração, sem sensualidade, sem o menor sex appeal, tão desejável quanto um pedaço de isopor.
O contexto anterior o favoreceu. O atual, não.
Ele não veio aqui por minha causa, ele aglutinou motivos (acadêmicos, comerciais, etc). Eu não tenho que ser anfitriã em tudo: não quis que ele viesse à minha casa, não beijei, dei um abraço único na recepção a ele... E ali acabou. Não digo isso com orgulho: nunca precisei sambar no ego dos outros para me envaidecer. Odeio jogos bestas, mas era aquilo.
Também odiei vê-lo falar mal da pessoa que realmente me interessou, que é lindo, inteligente, bem sucedido na vida intelectual, formado em três cursos. Poxa, eles são amigos. Eu disse: "Ótimo, hein? é seu amigo íntimo e você está aqui falando isso dele. Caramba!!!"
Nesse momento foi sepultado o último fio de empatia entre nós.
Não quero. Não quero nem lembrar.

domingo, 30 de novembro de 2014

"Ela" e as partes íntimas


Fico olhando nas mensagens terceirizadas, isto é repassadas, que recebo, o quanto os homens se expõem em fotografias íntimas. Íntimas é eufemismo para a mais absoluta exibição de pau ereto que o planeta já viu. Pelo menos, os exibidos literalmente confiam no próprio taco...e com a banalização das 'partes' expostas no mercado da conquista sexual, os que não mostram caem na suspeita de não corresponder a um 'mínimo' esperado.
Assisti, neste fim de semana, ao filme "Ela", de Spike Jonze, tão comentado, tão indicado ao Oscar...E, sim, com razão: é um excelente filme. O assunto gira em torno da relação do homem com a máquina, mas o problema nem é este: é que a máquina simula emoções humanas, expressa coisas humanas e faz com que o protagonista se apaixone por um Sistema Operacional, assim: inteligência abstrata sem corpo físico, uma voz feminina, um programa personalizado, acesso automático aos e-mails da pessoa e muita capacidade de responder às carências humanas (lógico, foi criado para isso).
O filme mostra as pessoas sempre conectadas, próximas umas das outras no metrô e nos ambientes sociais, mas distantes emocionalmente. O outro está logo ali, à sua frente, sozinho. O outro está logo ali, do outro lado da parede, no apartamento vizinho, pensando em suicídio, tomando anti-depressivo, à procura silenciosa de companhia. mas ninguém bate à porta de ninguém.
Joaquín Phoenix interpreta o protagonista de forma bem convincente e talentosa. Interessante é a forma como ele acessa às salas de bate-papo, como as pessoas se expõe em seus desejos mais esdrúxulos, como a mulher que faz sexo virtual com ele e pede para ser estrangulada com um imaginário gato morto que está ao lado da cama... E se no fim todos gozam, o sintoma maior da enfermidade da vida social se anuncia nessa incapacidade de acesso direto ás pessoas: tudo fica melhor com o anonimato, todo o simulacro é vivido como verdade, à distância, à base de ilusão ampla, plena e ilimitada.
E como uma coisa leva à outra, pensei no rapaz que se exibia para a minha amiga pelo what's app: jovem, lindo, saudável e bem dotado. Ele poderia ter qualquer mulher que quisesse, pelo menos teoricamente...Entretanto, apesar de ter alguma namorada, perde tempo e corre risco distribuindo fotos do pau por aí.
Em ambos os casos - na ficção e na vida - a incapacidade latente de lidar com sentimentos, pessoas, complicações, complexidades..

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Era doce e acabou...


Já me queixei da falta de um amor e já ouvi minha amiga dizer que meu perfil no Facebook esboça a minha carência. Lógico! Gosto de um homem que não gosta de mim. Não obstante, não vou importunar a pessoa nem forçá-la gostar de mim e tampouco tratar como opção do ego dele, ferir ao meu ego.
Há pouco o meu ex, FJ, esteve em mi ha porta. Nove e meia da noite e FJ escandalizou em minha rua, gritando meu nome no portão, numa fissura inexplicável. Atendi a contragosto.
Ele reclamou que eu o tratei mal na vez anterior, quando ele surgiu do nada em meu portão. Expliquei  que não havia o que conversar, que realmente eu não o queria em minha casa nem em minha vida. Pronto! só isso: acabou.
Já há um tempo sei que ele e outro me stolkeiam no Facebook. Presumem que se eu não tenho namorado, estou à disposição ou sou presa fácil. Não funciona assim, mesmo por que eu gosto de V. Não estou disponível se meu coração está ocupado.
FJ disse que eu não tinha argumentos para ele, que ia embora para o Rio de Janeiro na terça-feira e etc., pediu para entrar, eu não permiti e ele então perguntou por que eu tinha mágoas dele e por que era tão grande. Não tenho magoas dele, necessariamente: é que acabou. E quando acaba, paciência. Já tem um ano. Ele precisa processar o término.
Sinceramente, tenho identificador de chamadas por causa dele, para me prevenir e me afastar. Ele ligou de novo, mil vezes. Eu não atendo. Não quero contato.
Também me apareceram dois ex-namorados entre a quarta-feira e hoje. Não gosto disso, não é motivo para me vangloriar: as pessoas vivem suas relações. Depois que termina é que vão avaliar o que ficou para trás? o tempo passa, o amor acaba, o interesse muda. Não quero. Especialmente o que mexeu com o meu orgulho, incapacitando minha possibilidade de sonhar, ao dizer que eu não criasse expectativas, após nosso terceiro encontro - nós, mulheres, passamos por isso. Não quero. Não estou disponível. A resposta é não.
O terceiro deles me cansa. Gente que eu amei e cujo amor passou, me cansa. Uma vez superado, não tem retrocesso.
Caso FJ insista demais, vou pedir uma medida protetiva. Não quero ele. Ele viu que eu sequer quero olhar a cara dele.
Não importuno  a pessoa que eu gosto. Se eu pudesse, colocaria outdoors pelo caminho de V. e diria o quanto eu gosto dele, que desejo ele e que significa muito para mim. Se eu pudesse, estamparia em camisetas o quanto é grande e verdadeiro o que sinto, diria dos lugares que eu queria que a gente fosse juntos, discutiria música, política e filosofia e finalmente daria todos os abraços acumulados nestes seis meses de paixão e amor contido e recolhido. Porém, se V. não esboça nenhum movimento que me leva a me julgar correspondida, deixou-o em paz. Calo meu amor por ele. Calo o afeto no silêncio do respeito ao outro. Recolho meus ciúmes não declarados, porque acho que ele deve ter alguém, e vivo.
Não quero o passado em meu portão, nem quero incomodar com meus amores a quem não me ama.
Respeitar é também saber deixar em paz e aceitar a decisão de quem não nos quer.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Amor à primeira 'lida'


Zero Um não atendeu meus telefonemas ao longo do dia e eu, apesar de uns graus de angústia, resolvi aproveitar a 'deixa' para me livrar dele.
Ora, se a casa caiu e o inquilino era inoportuno, vou fazer outros alicerces e buscar outras morada.
Ao volta do trabalho resolvi ir à livraria, espairecer comparando livros. Somente um eu planejei a compra. Os demais viria conforme o acaso. E assim foi. Escolhi um que se chama Parafilias, cujo autor é Alexandre Marques Rodrigues, uma obra contemporânea que reúne contos pautados pelo sexo, pelo erotismo, mas pelos dramas coletivos da vida urbana. Abri, li um pouco, gostei e levei. Já na fila do banco, li dois contos.
O outro, do acaso, que comprei, foi bem por uma escolha engraçada mesmo. Fiquei invocada com o título, pois que o livro estava vizinho de outros de meu real e primeiro interesse. Este, na linha duvidosa, tinha o título: Tudo o que você queria saber sobre uma amantes e...tinha medo de perguntar, do Uruguaio Marcelo Puglia. E eu não ia comprar um livro porque era engraçadinho e podia até ser auto-ajuda ou psicanálise de banheiro. Mas, por brincadeira e interesse fui a uma sessão do livro, o capítulo III - As amantes e seus signos, com as sub-sessões: Conquistando,  características e cuidados.
Se tem uma coisa de que gosto, é ser ariana. Adoro meu signo. Adoro o nome do meu signo (Áries) e lá fui eu ver o que estava escrito. Eis os principais fragmentos:
"A AMANTE DE ÁRIES - 21 de março a 20 de abril
(...) a ariana não é chegada  a "Mauricinhos vazios" ou playboys; prefere os homens inteligentes, aqueles que têm alguma coisa para dizer (não é necessário discursar sobre a teoria da relatividade ou a baixa do índice Dow Jones).
CARACTERÍSTICAS E CUIDADOS - A ariana não precisa de um homem ao seu lado para sobreviver ( provavelmente muito menos de um amante).
São muito chegadas num romance. Você somente vai conquistar seu coração se for, por exemplo, um herói medieval, desmontado do cavalo com uma brilhante armadura. Se não tem vocação para herói, suba no cavalinho e saia de mansinho.
ter uma amante ariana é ótimo, se o que você quer é se separar da sua esposa. O que é dela, é dela. E você já em dona.
(...) Uma coisa boa pelo menos. Raramente você será traído por uma mulher de áries; são muito sinceras para ficar com duas pessoas ao mesmo tempo (tão sinceras que podem contar tudo para sua esposa, a qualquer momento).
(...) Não se esqueça de que, apesar daquele sorriso lindo e sedutor, ela se magoa com facilidade; no caso de uma amane, isso pode ser fatal.
Sinceramente, há mais 11 signos, continue procurando, pois a ariana não é indicada para ser sua amante." (pp. 36-37)
Aí comprei o livro.
Tenho que admitir que me identifiquei, o autor está certo, o cara acertou tudo. Ganhou a leitora!
Adoro livros. Achei um bom pretexto, porque ali está uma base de ironia, humor, verdades, brincadeiras...Divertido e interessante, bom para me desviar de angústias.


domingo, 2 de novembro de 2014

Ouvinte oculto


Depois que a casa cai, não adianta chamar engenheiro credenciado no CREA. Estava eu falando ao telefone com uma amiga, contando das aventuras amorosas, eróticas e intelectuais que vivi há uma semana, quando fui a um congresso em Pernambuco, quando o meu querido Zero Um, distante e descartado de minha história entrou sorrateiramente em minha casa e pegou setenta por cento da parte mais pesada da história.
A verdade é que mandei ele pastar há um tempo. Aí ele começou a aparecer, estava doente e carente. Como eu pouco fico em casa ultimamente, parei de brigar. ah, quer aparecer, apareça. Quer ficar, fique. Ele, então, um cadáver ambulante, mais sono do que gente, uma presença muda consumida pelo abuso cumulativo do álcool. Desperta mais piedade do que ódio.
Acontece que as concessões feitas fizeram com que ele presumisse meu interesse e reconciliação. Nada feito!ms eu jamais tripudiaria sobre o cadáver de quem gosta de mim...E ele ficou arrasado ao saber que eu estava de flerte maciço com Vítor.
Outro dilema: Vítor é hiper-mega-maxi-plus inteligente. Formado em Direito, Letras, Filosofia e sei lá mais o quê, doutor e professor efetivo de uma universidade federal badaladíssima. E eu me sinto rasa como um pires, perto dele.
O menino tem conteúdo, é lindo, gentil e cavalheiro. Por conta disso tudo, meu amigo de quem partiu o convite para o congresso, ficou sugerindo que Vítor era gay. Tal manobra foi feita para que eu ficasse com quem meu amigo queria que eu ficasse, isto é, com um amigo dele, que vou chamar de N.
O tempo passou e se tem uma coisa difícil, durante um evento acadêmico, é conseguir ficar a sós com alguém: igual a quando estou na universidade em que dou aula. Não tem chance de privacidade, onde quer que você vá, no banheiro, no pátio, no estacionamento, há sempre um aluno, um chefe, um conhecido, um parente do amigo do vizinho do funcionário da universidade ou seja lá que porcaria seja, para empatar os planos de ter um interregno secreto com alguém. E assim foi!
Umas vezes eu não entendia N., nem os olhares, nem a sugestão para que eu voltasse com parte do grupo antes de concluída alguma atividade coletiva, como os passeios; ora ele se exasperava e me olhava como se eu fosse um bife com batata frita, apetitoso e suculento. Era assim uma cara de desejo de comer.
Nestas ocasiões, eu e Vítor meio distantes. Suponho que ele tenha sido, também, envenenado para ficar longe de mim...
E nos distanciamos na véspera de eu ir embora.
E N veio com tudo e ficamos juntos. Eu sei lá o que me deu... Mas tudo secreto, arranjadinho arrumadinho. E quando eu digo que ele veio com tudo preciso explicar: eu estava indo com o amigo JP ao salão, dar um trato no cabelo. Passei no hotel para pegar um Bepantol e coisas pessoais para tomar banho na casa do JP que é vizinha ao salão.
Ao descer com as tralhas, JP falou que N queria falar comigo e blablabá. Dez minutos depois ele chegou, numa pressa, num desespero, numa fúria, cantando os pneus do carro - e nem eram 18 horas ainda, sendo que uma hora depois teríamos que estar no evento. Talvez esse cronometro explique tudo.
Acho que eu nem disse nada e partimos para o beijo.
Depois juntei A com B e fiquei virada nas setecentas com os dois: ora, JP e N, amigos de Vítor de longa data, me induzirem a pensar que o cara era gay, só por interesses particulares deles. poxa, que traidores!
Acabou que Vítor veio falar comigo, fugimos do evento para tomar um café gelado e desta parte em diante da narrativa do vivido e do relatado para minha amiga, Zero um ouviu e sabe de tudo.
Magoadíssimo: ouviu que Vítor me deu chocolates, que tínhamos muitas coisas em comum, que eu fiquei impressionada e etc. O problema é o 'etc' das coisas.
Gostei muito da viagem e já fazia um tempo que eu não namorava em congressos. Valeu a pena. Infelizmente, o dano colateral foi magoar Zero Um, que não merecia tomar conhecimento de coisas deste tipo.
Fui, vi e vivi.

domingo, 19 de outubro de 2014

Empurrando com a barriga


Tenho a solução para  a vida de todos os meus amigos, assim como eles têm a solução para a minha vida. Basta dizer não ao que precisa ser rejeitado, sim ao que precisa ser incorporado, tomar umas iniciativas, mudar uns rumos, esperar um tempo. Pronto! Claro! Ciência de precisão a gente aplica à vida dos outros. Na nossa tem afeto. A gente se afeta. Ora há um apego, ora há uma dúvida, ora fazer a coisa certa não fornece a segurança do melhor resultado. E vivemos.
Estou aqui a contar os centavos, fazendo conta porque vou perder cinquenta reais para uma semi-amiga. Dinheiro que vai e não voltará e que eu penso que seria melhor aplicado num parente pobre, num conhecido pobre, num pai de família pedinte, em compras para doação em lares carentes ou instituições deste teor. Mas vou dar a ela, lamentando.
Ela é uma mulher acomodada, dependente dos pais e que engravidou de propósito de um senhor de 46 anos, militar, com três filhos e muitas ex-esposas e Pensões Judiciais a pagar.
Eles se conheceram num sábado, há cerca de cinco semanas, quando ela desistiu de um festa, porque as amigas sugeririam que ela arrumasse o cabelo no salão de beleza. Ela julgou isso uma afronta: futilidade e discriminação. Preferiu ver um amigo, que a apresentou ao referido senhor e, em seguida, ela ficou na casa dele por quatro dias. Depois, apareceu em casa, pegou coisinhas pessoais e passou a viver a vida dele, sempre jogando com a possibilidade de engravidar, sem nenhuma proteção, claro.
Deu certo: engravidou.
O futuro pai deixou-a na segunda semana de relacionamento, após ela encher a cara e dar vexame público, escandalizar a troco de nada e chorar pitangas e perdões, pois o álcool a deixa irreconhecível, fora de si. Excelente álibi.
Ela não termina nada do que começa.
A universidade vai aos poucos, tranca aqui, abandona ali...E recomeça, em paralelo, na particular...
Queixa-se dos pais, a rogar que ela conclua o curso, que arranje um emprego, que eles não querem sustentar mais um.
Espanta-se o senhor-futuro-pai, vítima de fome sexual e golpe tradicional: como pode ele se entregar tão rapidamente a uma mulher, abrir-lhe as portas de casa, se jogar na relação naquela intensidade? ele, com três filhos no currículo, casamentos e pensões?
Irresponsável, se colocou nas mãos de minha semi-amiga: o quer der, deu.
Ela, um poço de dramas e carências, louca por alguém que possa vir a amá-la, tipo um filho; alguém que lhe provenha, tipo um filho; alguém que lhe faça companhia, tipo um filho.
Aí ficou doente. Mais manha do que verdade, desculpa clássica como dizia minha avó: "Fingir-se de doente para ser visitada'. Ninguém visitou. A mãe não deu dinheiro. Sobrou para mim.
Não quer fazer nada de útil. Gasta o tempo em vinganças, armações cibernéticas contra ex-namorados, filhas e esposas deste senhor e outros aplicativos que lhe provenham a gana de viver.
Não queria alimentar este monstro.
Vou dar o dinheiro porque ela sabe que eu tenho e não poderia mentir sem dar a lição de moral junto.
Não haverá segunda vez devido a esta primeira: terei, pois, a desculpa ideal. Penso que estou pagando cinquenta reais para não ser mais importunada. Relativamente, preço alto. Depois me desvencilho, porque odeio gente grudada em meu karma.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Para quem tem fé


Acho que andei mentindo. E foi para mim mesma: meu diário está largado há um tempo e isso não foi necessariamente uma escolha, mas uma decisão tomada inconsciente, por conta da eterna vigilância das pessoas em geral, quando veem à minha casa, e por causa do outro lá, com quem tenho um rolo mal resolvido que se arrasta há umas três encarnações.
Pior é que me fez falta: escrever, desabafar, constatar que o escritor (qual mesmo) estava certo ao dizer que cada pessoa tem a vida pública, a vida privada e a vida secreta, e ver que os meus segredos pairam na minha cabeça, por medo que o registro deles seja compartilhado.
A triagem espiritual, um verdadeiro CSI das vidas anteriores e da vida presente me encanam: poxa, a gente luta para segurar um segredo, guarda a sete chaves, desvia de testemunhas, compra alguns silêncios...E vai um médium e plaft! toca no assunto e te dá indiretas. Eis o preço de estar me tornando espírita.
Descobri muito sobre religiões nestes meses passados. Mais ainda quando estive em Porto Alegre: havia um tempo que eu via a insuficiência de algumas explicações, que me conformava pouco com a lógica radical da causa e do efeito, num circuito de vinganças e compensações pós-mortem até à dita evolução, que preconizam os espíritas kardecistas; também me senti desconfortável na Umbanda e se aceito a construção arquetípica dos orixás (sim, eles me ensinam muito), não me me articulo com outras obrigações e ideias; da vida católica, então, ficou o saldo do marianismo, em que creio; os aprendizados de Jesus, de Deus, do Espírito Santo, em sua força explicativa que alimenta a minha fé.
Caí, portanto, no lugar comum, vindo a afirmar: A gente não escolhe a religião. A religião é que escolhe a gente. E a religião da gente deve ser aquela que nos faz sentir bem, que se permite entender e que nos entende.
Pois é. Fiquei surpresa com a forma como os Espíritas Universalistas aceita o corpo e as aflições do corpo, como entendem o sexo, como entendem a vida e as Encarnações e como deixam claro o que se pode fazer numa existência para consertar certas coisas e romper com outras, que estão impressas em nossa alma e que repetimos, inconscientemente.
Na noite que passou ate sonhei com isso: por que temos tantos complexos com o sexo? É só sexo. É só o corpo pedindo prazer. Por que é sujo? Por que é feio? Por que tem que ser escondido? Por que tem que ser negado? Por que incorporamos as coisas mais negativas sobre ele?
Sim, temos responsabilidades e moralidade. Temos instintos e temos escolhas.
E daí? Por que acreditamos que o mundo espiritual nos condena por  causa do sexo? por que ele se relaciona imaginariamente com a expulsão do Paraíso?
Pensei nisso tudo à medida que sonhava.
Por meu perfil espiritual, sou tímida e auto-repressora agora, porque já usei e abusei do corpo, em outras Encarnações, para fins de moeda de troca, ascensão, dinheiro, poder...Ai radicalizei: vim nesta vida, como professora, tímida e pudica.
Certeza eu não tenho de nada. Mas aceito a lógica proposta, os pactos e os preços.
Recebi cartas psicografadas e desenhos feitos por médiuns do Centro Espírita de Porto Alegre. Aceitei. Encontrei outros irmãos de caminhada nos amigos que lá fiz. Medo eu tenho. Acho que tenho que cuidar de minha vida e cada um tem que cuidar de sua própria morte, não viver enchendo o saco da gente que tem medo de dormir no escuro.
Outras coisas não me convencem, porque desafiam a Inteligência que Deus tem: uma pessoa morrer criança e vagar no mundo espiritual com a mesma idade em que morreu não seria justo. O que uma criança, na conformação mental de criança, pode entender acerca do que houve? acerca de que passos dará? sim, todas as religiões têm falhas e insuficiências, umas, então, têm explicações ridículas e inverossímeis. A maioria é inverossímil. Estou me tornando...para ser, tenho que estudar e me formar espírita, em termos de compreensão.
Vamos la. Estou aqui para aprender.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Já que a vida não é filme...


Não abandono meu blog, nem largo mão do meu diário, mas tem um tempo que ando me desdobrando em outras ocupações... Há um tempo que pintam coisas para fazer e até obrigações espirituais de leitura, agora que decidi  me tornar espírita por convencimento, convicção e desconfiança de que seria esta a escolha certa... E também adotei o Outro lá como meio namorado. Meio namorado quase em tempo integral, porque seguindo a receita, ele faz incursões pela casa, examina minhas coisas, remexe meus papeis. Isso corta minha liberdade de escrita, minha privacidade. Agora, que estou num quarto de hotel, posso finalmente escrever, mesmo sabendo que vou trabalhar na escrita autoral daqui a pouco.
Meu velho livro de contos segue engavetado: Todas as mulheres se chama Maria ficou naquele vai-e-vem de publicação mas, conto logo a verdade. Ocorre que tem meio mundo de conhecidos e chegados meus que lançam livros, seja custeando a publicação, seja obtendo graças do financiamento público. E eles não têm a menor vergonha disso. Fazem uns negocinhos regados a ego e se julgam bruta escritores, especialmente as mulheres.
As páginas são um grupamento de lamúrias amorosas e mulherices de terceira classe. Como eu não sou melhor que eles nem elas, temo repetir o que eles fizeram. Vai que minhas duas grandes obras sejam exatamente falíveis monumentos do ego? não me arrisco por agora.
Mas, voltando à nossa programação normal, não entendo por que há pessoas que eu não consigo amar e outras com as quais construo ilusões afetivas. Há umas pessoas com as quais sou irredutível em minhas decisões e outras que sempre volto atrás e sempre dou a segunda chance, a terceira, a quarta, a décima, a centésima...Talvez seja só uma inclinação interior a repetir erros e perfis.
Mas posso dizer desses dias, que a vida está corrida, que me meti em trabalhos paralelos que me cansam, que me enfiei em enrascadas laborais por compromisso moral e agora, já era, tenho que cumprir.
Emendei uma viagem após a outra e a vida social foi reduzida a zero, a diversão e o lazer, idem.
Sigo odiando acordar cedo, dar aula cedo, dirigir na BR após um dia mal dormido e pronto, o resto eu dou conta sem reclamar, até porque tenho muito o que agradecer.
Vou admitir: larguei meu namorado imaginário mas era dele que eu gostava, era por ele que eu carregaria um bonde, era ele quem eu queria para ficar o resto da minha existência...Desisti porque daquele mato nunca sairia coelho e se saísse, eu não seria suficientemente correspondida, ele poderia até ficar comigo, mas me deixaria em seguida, após me machucar... Ou me machucaria só por me deixar. Eu realmente estava gostando dele. Mas é assim: acabei, deixei, vivi.

terça-feira, 9 de setembro de 2014


Quase sempre as ausências do mundo virtual devem-se à eficiência ou suficiência da vida real. Foi assim comigo.
Esta foto foi tirada na Casa de Cultura Mário Quintana.
Resolvi ficar duas semanas no Rio Grande do Sul, assistir à defesa de doutorado de um grande amigo, rever outro amigo, conhecer o que eu não conhecia, andar e viver. E fui. Valeu muito a pena.
Mas sob minha decisão também estava minha velha receita: para os amores mal-sucedidos, um Oceano de distância ou a distância possível.
Logicamente que ele correu atrás, após muito gelo derramado - em revide àquele que recebi. Num momento posterior, já bem longe, aceitei as desculpas. Só isso.
De Porto Alegre ficaram as experiências urbanas nunca dantes vividas, como observar que a maconha é uma droga de família para boa parte da população da capital, onde se pode ver mãe e filha fumando dedos de gorilas juntas - que não seja a regra, mas dei de cara com um exemplo disso.
Outra situação foi estar com um amigo e ser abordado por um GP (Garoto de Programa) que falou conosco, após encetar sua propaganda: "Sou ativo carinhoso" e, olhando para mim, disse: "Ela, por exemplo, eu posso beijar, posso abrir uma exceção, porque é bonita, tem presença"...Tá bom, digo eu! "Ativo carinhoso"...surpreendente o sintagma.
Lugar gostoso de estar, tempo frio, povo frio, comida boa, vida cultural deliciosa e, sim, "Ativa", sapatos baratos, roupas, idem, boas universidades...Enfim, Porto Alegre é ótima.
Vivi uma experiência ímpar e indescritível, conheci gente, tomei decisões e me diverti muito.
Hoje a vida voltou ao (A)normal: dei aula às sete de madrugada, bocejei o dia todo e na hora de dormir o sono não veio.
Percebi que tenho atitudes repetitivas no setor amoroso e posturas destrutivas contra  mim mesma. Posso dizer que certos problemas eu mesma que causo. Mas como é difícil largar este vício, esta casca.
Retomei um contato antigo, do qual fugi nem sei por quê - obra de acasos e necessidades...E até aqui me avalio e também me espanto.
Há males a eliminar e ações a implanta em função das decisões tomadas. No fundo, a vida se resume a decisões e consequências, com um pouco de acaso salpicado por cima.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Mágoa


O meu amigo me feriu.
Feriu assim, de graça, sem justa causa, só por ferir. E por tamanha bobagem que só uma mente doente ou uma alma também ferida poderia tornar ofensivo ou digno de repreensão. É que fui me despedir e disse por escrito: "Tchau. Um beijo. Te adoro!". E como réplica fui repelida com as mais rudes palavras, seguidas de 'não me adore, isso já está ficando obsessivo'...Coitado: não sabe ser amado, leva as palavras e um patamar literal que deixa a gente sem meios de explicitar que são meras expressões de apreço e simpatia.
Como, para mim, se tornou compreensível o mundo de rejeições que ele alega cercá-lo: quem se aproxima para alisar um porco-espinho?
Ele é jovem, bonito e inteligente. Quem tomou a iniciativa da amizade foi ele. Adorei desde o início. Falo e escrevo adorar, sem vigilância semântica de crentes politicamente ortodoxo e biblicamente literais.
Agora, me magoei. Não quero mais papo. Uma decisão que eu tomei, bastante seriamente, foi não prolongar contatos deletérios, nem insistir naquilo que mostra sinais de debilidade. Acabou.
Fico bastante lacônica quando me magoo com uma pessoa. As palavras somem, eu fico muda, repetindo o texto que me apresentam...Também há pouco o cara com quem eu terminei falou comigo. E deu num ping-pong de urbanidades secas: "Oi!" - Oi!; "Tudo bem?" - Tudo bem...
E depois de um silêncio sepulcral, dos que permitem ouvir o cricrilar dos grilos, eu tentei parecer naturl e disse: " Melhorou?" ao que ele respondeu: "Estou bem".
Fim de caso. Fim de papo. Nunca mais. Cambio. Desligo.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Outros mistérios


Dentre as coisas mais interessantes da vida, estão as coincidências que alinham acontecimentos e trilha sonora, como se tudo fosse um filme, coerente, montado, harmônico.
Hoje eu terminei com ele. Apenas ocultei as palavras, mas passei a mensagem.
Foi um amor covarde da parte dele. Não servia aos meus propósitos.
Desconfiei que ficaria à espera de algo que não viria, e perguntei a ele, forçando a sinceridade. A sinceridade veio. Bastou-me.
Queria saber a resposta para algo que ele mesmo formulou numa outra circunstância análoga; "Para quê eu ficaria alimentando nossa relação, nossos desejos, se não fosse porque quero torná-los real?"
Pergunta retórica, aparentemente. Mas não sei. Agora que tudo se repetiu, não sei.
O que leva quem não quer a gente, a se aproximar e fingir querer a gente? Não pode ser só ego...Dá trabalho e cansa...O que será que há com ele?
Daí que ouvi esta linda música de Milton Nascimento...Tudo a ver.
Me deixa em paz
Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Evitar a dor
É impossível
Evitar esse amor
É muito mais
Você arruinou a minha vida
Me deixa em paz
Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar

Dos mistérios


Há um tempo eu brincava, dizendo que era órfã de orixá. Pura inveja: o povo que conheço sabe o orixá que o rege - público mais de mulheres do que homens, no caso de minhas amizades. Eles lá, com tantos protetores, com intimidades com eles...Eu cá, desamparada, sem nenhuma característica a me vincular com o DNA simbólico do sagrado na religião afro-brasileira... Até que por meia previsão de colega, me convenci de que sou de Oxaguian. Não consultei búzios para confirmar, mas simpatizei com a ideia.
No último sábado, porém, ao acabar as aulas na universidade pública no interior do estado, minha colega iniciada viu em mim características de Yansã.
Talvez fossem as paridades que ela apontou entre nós. Diria que foi o equivalente à expressão 'o santo bateu', já que tínhamos lutas em comum e posturas bem parecidas frente às coisas.
Depois de um tempo, ela dirigindo e eu no banco ao lado, só nós duas na estrada, com plena liberdade para falar de tudo, ela deu uma indireta adivinhatória sobre um segredo meu. PAUSA DRAMÁTICA: eu tenho muitos segredos. Não significa que sempre há coisas ocultas de natureza grave ou condenável. Mas tenho segredos de variados tipos, pois vivi e não quis compartilhar a vivência com outrem.
Uma terceira amiga, quando fiz este relato, falou: "Que segredo?". E eu disse: "Ora, é segredo. Não divido". Mas vi que ela se magoou e, então, eu fiz de conta que era sobre um outro assunto.
Não dividir um segredo com um amigo não é declarar não ter confiança nele. Esta mesma amiga, por exemplo, atropelou uma pessoa. Jamais me contou. Entretanto, juntando A com B e pegando fragmentos de argumentos dela, descobri. Ela não sabe que eu sei.
Tempos depois, voltando ao cenário do sábado à tarde, minha colega declarou que as mulheres de Yansã não são mulheres de um homem só. Esta não é uma sentença moral, mas tomei assim.
Vi, porém, a razão na constatação: faz um tempo que não sou de um homem só. Menos por pegá-los do que por me envolver emocionalmente com eles, alimentar flertes e ficar  à espera de que algum deles sinalize condições reais de relacionamento.
O fato é que gosto deles: dos candidatos, dos flertes, dos ficantes...Não consigo ver isso como traição, seja porque não tenho compromisso com ninguém (sou solteira, livre e desimpedida), seja porque meu bem-querer por eles é real. Cada um ao seu modo. Somente G. que de PA. nunca passará, porque a relação é assim desde 14 de abril, quando finalmente ficamos juntos.
Homem tem dessas idiotices de despejar quilos de mentiras mal formuladas em cima de nós. Depois declaram que não querem compromisso e não se fazem amar. Aí o laço vai crescendo, a gente vai se vendo...E a mulher ( no caso, eu), passa do tempo de se apaixonar. Gosto dele, mas nunca será amor. Já teria sido, se houvesse de ser.
Bom, mas ficamos ali, eu e minha colega de trabalho, no ponto entre o sagrado e o humano.
Vou ver alguém de confiança para confirmar meu orixá, meus orixás...Vai que tenho mesmo dívidas? vai que eu conquiste a paz inclusive no amor - território em que eu mais sofro, em que nada dá certo...território repetitivo, de candidatos que me aparecem com características repetidas - covardia, vícios, egolatria...
Ela repetiu Shakespeare, ante o que ambas não entendíamos:" Há mais mistérios entre o Céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia."

domingo, 10 de agosto de 2014

Casos da lei


Quem de nós não conhece pelo menos um caso próximo de homossexuais assassinados em nome do machismo, da violência gratuita e do preconceito? pergunta retórica para dizer que, já que eu falo muito em simplificar, bati palmas para uma postagem do Facebook em que se apresentava um gráfico em que ficava evidente que a permissão legal para que casais gays se casem pode resultar em nada mais nada menos, do que casamentos. Era algo assim: " A aprovação do casamento gay fará com que: a) Haja uma guerra; b) O terrorismo se espalhe; c) As escolas ensinem como fazer sexo gay; d) os gays se casem.
Pois é.
Não sei de onde tiram que o reconhecimento de um direito a  um grupo social traga perdas para a sociedade. Vi isso também recentemente, quando uma aluna saiu da sala por causa de uma cena de sexo gay, do filme A memória que me contam. Essa dor que as pessoas sentem, gera, para mim, a impressão de que elas não gostam de ver explícito pela ficção aquilo que existe sob seus narizes.
Não foi a novela, nem o filme, que geraram a homossexualidade ou que a trouxeram para a sociedade: já havia, desde tempos imemoriais. Trazer à tela e à tona só serve para discutir até quando a sociedade vai ignorar o que existe e com que finalidade se quer negar respeito, dignidade, cidadania e respeito a parcelas afrontadas pelo preconceito.
Quero que haja heterossexuais para eu pegar, claro. Mas cada um que cuide de sua vida e não precise se esconder em armários blindados, em casamentos de fachada para não dar 'desgosto' à família; em vidas duplas... Ora, que mundo louco onde tudo é pretexto para ódio, intolerância e discriminação...

Longe da vida ideal


Por mim a vida amorosa seria menos complicada. Decerto, no amor não há garantias e pouco se pode asseverar acerca de estabilidade.
Por mim, a vida em geral seria mais simples de resolver: se a gente não quer alguém ou alguma coisa, basta dizer-lhe não; se queremos quem nos quer, nada impede que as vontades se acertem e entrem em acordo benéfico para ambas as partes.
Se o que quero pode ser feito e não está fora da lei, qual o problema em realizar, concretizar?
Isso é no plano das ideias. A vida prática vai bem para longe disso, intercalando percalços, obstáculos, limites morais, vergonha, essas coisas.
Não tive, anteontem, meio de me expressar claramente àquela que pensa que tenho por amiga e dizer-lhe, sem deixar lastro de dúvidas: "Não, não quero que você me visite". Odeio contrariar minha própria vontade, mas é igualmente doloroso jogar na cara das pessoas o passado e a memória de mágoas, embora fosse o que interiormente eu quisesse fazer. Ademais, a pessoa a que me referi está se reestruturando após presumível avalanche financeira e coisas correlatas. Não cuspo na cara de quem caiu e não chuto o cachorro morto. No fundo espero que as pessoas tenham noção sobre o que nos fizeram e se toquem quanto à profundidade dos rancores e o espectro das consequências o que, não se aplicando a ela, me dá a sensação de que ela me julgue uma imbecil que perdoa tudo ou ache que o que ela me fez não teve importância.
Dos meus candidatos a amores só digo que são uma complicação, em que não só não tenho certeza de nada, como desconfio que há mais fetiches por parte deles, por conta de fantasiarem com a professora da universidade federal e outros fetiches embutidos em relação à minha independência. Em suma, não me sinto amada, mas desejada como um objeto exótico. Não digo objeto com a malícia clichê, de sentido comum, Foi uma coisa que me impressionou, também, com um outro público: ao encerrar as atividades de uma turma de literatura, na hora da foto tirada após uma apresentação teatral, um aluno implorou para puxar meus cabelos. Permiti, como quem dá pão a um faminto, mas era isso: um semestre inteiro aguardando a oportunidade de puxar meus cabelos e saciar um fetiche...Que coisa!
O amigo de F.J., a mesma coisa: fetiche por me ouvir falando em espanhol, porque me pegou cantarolando músicas de Manu Chao aqui em casa e achou minha pronúncia sensual. Resumindo: entre os meus candidatos a amores e o meu entorno em geral, ninguém presta atenção em mim, só aos meus pedaços, aos meus papeis. Decidi, devido à minha pouca importância e à parcialidade das relações, largá-los à deriva. Se alguém me quiser mesmo, sabe como me encontrar. Caso contrário, relações unilaterais não são relações.
Para arrematar meu quadro, na terça-feira passada, recebi meu ex aqui em casa, porque achei ele meio depressivo e no fundo do poço. Nunca deixei de ser amiga dela, apesar de tudo. E não é que já perto da meia-noite ele teve uma convulsão e eu pensei que era um AVC ou que ele estivesse morrendo? Na hora do pânico, tudo que a gente sabe de primeiros socorros vai para o ralo até que a gente pare de tremer e tome providências...
Mas foi assim: ele assistia a um filme na sala, enquanto eu terminava um trabalho no computador. Ao acabar, sentei no sofá, perto dele, que se queixava da velocidade das imagens.
Pouco depois, queixou-se de que estava vendo muitas luzes ao olhar a tela da televisão. Passou a me mostrar luzes que eu não via, numa outra direção, desenhando a trajetória das luzes imaginárias com os dedos, ate que virou para a parede branca, fazendo o mesmo e eu lhe disse: "Sim, isso existe, se movimenta e é uma aranha!", pois era isso mesmo.
Interiormente, desde o primeiro queixume, achei que ele iria sofrer alguma coisa, pois ver luzes à toa é prenúncio e curto-circuito cerebral (se isquemia,derrame, convulsão ou desmaios, tanto faz), mas calei-me pensando que era eu a alardeadora. Daí ele caiu aos poucos, sufocando e tremendo, se debatendo. para mim, a própria visão da morte, cena que não quero ver jamais, puro trauma.
Coloquei uma almofada sob a cabeça dele, liguei para o SAMU e para uns três números que não me atendiam.
Saí louca para abrir o carro e fui ligando para uma amiga realmente eficiente, que me tranquilizou quando pode, com medo de que eu não conseguisse dirigir. Ele foi se recuperando, sem lembrar nada...Depois de uns minutos, soube dizer quem era ele e quem era eu.
Fomos para o hospital e lá ficamos da meia-noite e vinte às dez horas da manhã, após ressonância e outros procedimentos que atestaram tudo como efeito da abstinência do álcool.
Um dia eu disse que achava que tinha dependência emocional dele. Não era isso. Ele teve muito mais de mim e ao sair do hospital pediu para ficar em minha casa e não com os pais dele. Permiti: nunca iria desamparar um enfermo, especialmente um que precisava de amparo emocional.
A mãe dele disse que se ele não estivesse comigo, poderia ter morrido, pois ela não veria a crise e, por conseguinte, não iriam dar tratamento. Seja como for, venho tendo dias pesados pois também meu outro flerte passou quatro horas, ontem, depositando em mim, sua confiança e seus segredos, para os quais é necessária a compreensão.
Ontem à noite eu nem saí. estava psicologicamente cansada. E hoje, que iria sair com umas amigas, presumi que brigaríamos a desisti. Mas era questão fácil: é que gosto de sair com gente concessiva. Sou concessiva para favorecer o convívio coletivo temporário e por isso acho um absurdo ter que ouvir pagode e músicas detestáveis ou mumificantes por horas, porque a dona do carro não quer ceder do seu 'gosto'.
Limito-me a tentar negociar, mas vou ouvir um 'ah, não" e dali depreender algo como "o carro é meu' e coisas congêneres. Fiquei em casa, fiquei em paz. Também tenho carro e sou concessiva, porque sair pressupõe manter bom astral e bom humor. Eu não teria isso.
Gosto da minha solidão, do meu lar, do meu tempo, de fazer minha rota...Tem coisas que eu gosto de fazer sozinha e ponto final. Companhia eu quero quando, de fato, contribui para meu bem-estar e a recíproca também.

terça-feira, 29 de julho de 2014

As voltas que o tempo dá não voltam


Tenho que admitir que a dignidade dele me seduz tanto quanto  inteligência. Aliás, me sinto burra por ter namorado gente tosca por muito tempo. Mas tudo se justifica: o amava o sujeito, o pacote completo e a parte faltosa, a saber a cultural e intelectual.
Neste domingo ocorreu o caos: vim dirigindo sob chuva, à tarde, lentamente, em engarrafamentos sistemáticos mas descontínuos porque a estrada estava entrecortada por acidentes. Antes de sair, falei com ele pelo what's app. Ele me avisou da chuva, eu fiquei de avisar de minha chegada.
Demorou, mas cheguei. Acho que levei duas horas e meia para chegar, se não mais. Liguei para ele, que não me atendeu. Mandei torpedos: nada feito. Fiquei irada, virada nas setecentas porque ou nós ficávamos juntos nesse domingo ou não ficaríamos em mais nenhum, porque ele mora em outro interior mais distante que a minha cidade e onde nos vemos é em Salvador. Ele viajaria na segunda-feira...E eu esperei muito para ficar com ele.
Contrariada, saí para tomar um café no shopping. De lá, fui ao supermercado, porque esqueci de trazer uns itens na viagem.
De repente, lembrei de olhar o celular: apagado. Toquei o botão e ele não funcionou. Eu estava na fila do caixa, sacudindo o celular e desacreditando de tudo. Abri, tirei a bateria, coloquei de novo, tentei ligar, fiz a dança da chuva, invoquei espíritos, rezei, escrevi uma petição à Presidente mas, mesmo assim, nada feito.
Choveu mais ainda e nessa hora eu estava a pé. Esperei a chuva passar. O tempo passou também.
Finalmente deixei recados no facebook para ele, o candidato. Tempos depois ele apareceu e explicou que a operadora dele esteve sem sinal. Não acreditei, apesar de minha amiga se queixar do mesmo problema.
Ele quis saber por que eu estava incomunicável. Expliquei. Ele poderia não acreditar em mim, ele poderia nem ter me ajudado, mas fez o que pode para restabelecer meu telefone, mesmo estando à distância.
Mas eu e minhas teorias, já revoltada, falei o que já falei antes: quem quer a gente, fica com a gente. E meio mundo de impropérios que, no caso, foram para lá de injustos.
Da maneira mais leve possível ele me mandou pastar. Não adiantou pedir desculpas, ele nem me deu bola, nem leu, nem ouviu, enfim.
Em ocasião posterior, horas antes dele partir, houve uma demonstração involuntária de dignidade, por parte dele. E eu me derreto toda, feliz, deslumbrada: ele é tudo que eu queria para mim. Contudo, os desejos não esperam, o tempo passa, escorre como areia entre os dedos e tudo vira só um sonho bom e distante. Parece que ele não sabe disso. Vive me dizendo: eu volto! Ele não sabe que eu não vou estar aqui na volta, mas poderia pensar nisso, que o tempo é Senhor das surpresas, que mudam as coisas: não estarei mais aqui e se eu estivesse, não teríamos mais horários compatíveis nem a força que o acaso deu para nós durante os últimos meses.
Sei que ele dirá que pode ir me ver, que eu posso ir ao encontro dele e etc., mas não creio. A neurose da espera, neste caso, não me incita a prosseguir alimentando o desejo.
Além do drama do meu Smartphone quebrado, um aluno meu, da UNEB, morreu no domingo - e era gente que eu gostava bastante, alegre, jovem, uma figura simpaticíssima. Para arrematar o quadro de tragédias, na segunda-feira dei aula com um segurança em frente à minha sala, porque uma aluna reprovada em uma disciplina que ministro na UFBA resolveu aparecer vinte minutos antes do fim de minha última aula do semestre.
No contexto, ela sentou atrás de minha cadeira (cedi o púlpito que me cabe, porque era seminário de uma equipe), mexeu nervosamente vários papeis, abriu e fechou a mochila em atitude suspeita e, com a apresentação, a aula excedeu em 40 minutos seu horário regular, de modo que tive que sair da sala ante a chegada do professor da aula posterior à minha. Fomos obrigados a sair. Aí ela saiu também, pois não conseguira ficar a sós comigo.
Tal aluna nunca comparecia de todo à minha aula, tinha faltas incontáveis. Para quê ela iria, após a reprovação, voltar à aula? tirou nota 3,5 na prova escrita e 5,5 no seminário e já sabia disso, assim como da reprovação formal. Devo deduzir que ela queria me falar coisas simpáticas? Chamei o segurança. E à tarde ela deu voltas nos vidro de minha sala, no terceiro andar do mesmo prédio. Saí da sala, novamente, escoltada, até o estacionamento. Como não poderia deixar de ser, se o aluno não lograr êxito, a falha é doprofessor.
E um outro aluno turista, que assistiu a 03 aulas no semestre, veio apelar aprovação. Minha profissão é de alto risco, meus amores são caóticos e contrariados e eis a minha vida.

terça-feira, 22 de julho de 2014

O pomo da discórdia


Esqueci de dizer que o meu candidato reclamou de minhas postagens no Facebook em que aparecem corpos de homens.
Reclamou de minha postagem do David Luís (nem sei escrever o nome dele conforme o Registro em Cartório), mas é jogador da seleção brasileira. Na foto aparece o abdômen musculoso e bonito do jogador e eu comento: "Quem vê cara não vê...Não vê o que mesmo, gente? ah, a grama...olha a grama!". Lógico que eu quero dizer que quem vê cara não vê corpo bonito, porque me refiro à discrepância entre a cara do David Luís e o corpão poderoso dele.
Devido a isso, meu candidato subiu nas tamancas, aproveitou uma brecha para dizer que aquilo que fiz era baixaria. E quando questionado, ele disse que era o mundo que era machista, não ele.
Ah, tá... Sei!
Lembrei do meu ex, de uns 14 anos atrás, aquele que tinha ciúme do Keanu Reeves, de qualquer vento que soprasse perto de mim e que me deixou desconfiada que este tamanho de ciúme é típico de arianos e librianos, em suas elucubrações delirantes. É da pessoa, o signo só reforça. Mas é engraçado isso: não pode. Mulher não pode falar do corpo de um homem.
Agradeço a Deus por não estar no tempo da Inquisição!Aleluia!

Desejo: necessidade e vontade!


Não perco meu bom humor com facilidade. De fato, gosto de irritar a existência, sendo feliz com coisas simples e tirando muito do pouco, como bem cabe aos teimosos. Para uma pessoa como eu,cuja paciência é item que não veio de fábrica, mas um adicional, esta atitude de esperar antes de responder, de segurar um pouco o impulso homicida quando me fazem uma grosseria e de dar uma segunda chance a fim de entender a outra parte, é mais que um ganho: é o supra-sumo da paciência possível. Mais que isso eu não consigo.
 Mas tenho cá minhas teorias pessoais. Penso mesmo que quem quer a gente, fica com a gente.
Se mora longe, junta tostões, trabalha mais para obter folga depois, planeja, sonha e espera e, quando a chance se mostra no caminho, a pessoa aproveita a oportunidade. Isso, talvez, tenha  se configurado assim porque foi com as sessões de psicanálise que aprendi que os desejos podem ser levados a sério, na mesma proporção em que desejamos. Assim, envidamos esforços na realização deles. Logo, se eu desejo uma pessoa, vou querer realizar meu desejo de estar com ela. A dose, porém, a gente estabelece. Eu, hoje em dia, não jogaria fora a oportunidade de desejar e ter.
Por isso perdi a paciência.
Por isso perdi o interesse: eu estava ali. Ele estava também. As propostas dele foram feitas, eu aceitei...E ele nunca fez por onde as coisas se realizarem.
Dei um tempo. Desta vez, fiz a proposta. A resposta sempre priorizou o obstáculo, o impedimento, a dificuldade...E por isso julguei que era pretexto demais para não realizar as coisas e os desejos. Aí, não tenho paciência e, pronto: descarto o candidato.
Já o outro, o do Coração Tosco, acha que qualquer idiotice (às vezes palavras duríssimas) que escrevo, são coisas profundas...Às vezes ele acha minhas grosserias poéticas - ah, perdão pela quebra do bom tom da conversa, mas meu coração fica dizendo palavrões, do tipo: "Puta que o pariu!"...
Penso que o de Coração Tosco, na verdade, tem medo de se envolver. E como ele perdeu a oportunidade de se fazer amar por mim, meu desencanto me diz que eu nunca o amaria - não por escolha, mas porque se tivesse que ocorrer, já teria ocorrido; porque não fiz projeções nem instalei sonhos com ele. Dali não passa.
Mas isso de ele achar minhas grosserias poéticas, porque são duras verdades escritas com palavras bem escolhidas, apesar de espontâneas, revela que as companhias femininas dele têm outro perfil intelectual - isso não é bom nem mal, é diferente. Torno-me diferente pelo repertório de palavras...
Nesses últimos dias a vida mudou, sem mudar nada: eu que mudei  e piquei a mula pela BR 116 Norte, a fim de ir numa universidade pública do interior ministrar um curso cuja remuneração deve sair só daqui a seis meses. Peguei a estrada sob chuva, numa pista única de sentido duplo. Que aventura!
Na volta, ainda tive que me virar com um carona bêbado, amigo meu, que desligava o meu limpador de pára-brisas, a fim de que eu batesse o carro, capotasse ou me acidentasse, já que sem enxergar a estrada este seria o destino mais óbvio...
Penso nisso: se a pessoa quer morrer, por que quer companhia? Ele não podia morrer numa boa, sozinho, em paz, como um suicida digno? parece que não: queria me levar junto. E eu não estava muito a fim de morrer na sexta-feira  - dia, aliás, em que meu primeiro comandante nos meus tempos de militar, morreu. Cheguei a Feira e recebi o telefonema de que fazia minutos que ele tinha morrido. Eu gostava dele, mas não fui ao enterro. Não vi necessidade.
Sei que sexta e sábado dirigi pela BR 116 Norte e sobrevivi. Dirigir cansa porque sou tensa e responsável.
Mas há um tempo eu não dirigiria. Constato que o que aplico, em minha teoria pessoal, ao desejo; aplico à necessidade. Desta forma, se a gente tem a necessidade, procura um meio de satisfazê-la, usa a necessidade como estímulo, vai segue e realiza o que há a ser feito.
Como cantaram os Titãs: "Desejo é necessidade e vontade!"

domingo, 13 de julho de 2014

Todo tempo, o tempo todo


Se a vida não tem a velocidade que nós gostaríamos que tivesse, também ela nos mostra que tudo passa. A diferença é que certas coisas demoram mais que outras, ou assim as percebemos, já que lamentamos a passagem do que nos é caro e querido, como se para as coisas agradáveis, o tempo fosse veloz e vilão. E nos momentos de sufoco e sofrimento, o tempo parece se arrastar na velocidade das lesmas.
Nunca quis nada eterno, nem mesmo a vida eterna; e quem acompanha o que escrevo está cansado de saber disso.
Recentemente eu choquei uma certa pessoa por receber sem choque, sem choro, sem lamento, uma notícia relacionada ao término antecipado de uma coisa. É que, de fato, para mim, acabar faz parte de todas as coisas. Algumas já têm prazo de validade estipulado. E era esse o caso: havia o tempo máximo de duração. Contudo, o tempo máximo presume que dali, do determinado cronológico, não passa. Em face disso, a gente se prepara, sabe que vai acabar mesmo.
E eu não lamento. Fico comemorando os frutos bons, o que ficou, o que deixei, festejando saudades e planejando a retirada do fardo, porque a felicidade e o que nos agrada tem um preço, sempre. Então, a gente negocia, paga e vive.
Dizem que os arianos se cansam rápido da rotina. Até que não, mas me canso, sim, da repetição. Nunca achei justo que o preço da estabilidade fosse a mesmice, as amarras e o comodismo.
Chega um tempo em que nossa vida já não suporta as tempestades, em que estamos cansados de guerra  e levantamos a bandeira branca ou, até, nos comportamos como estrangeiros no território que é nosso (tipo meu pai, um ariano), porque a guerra é cansativa e não nos interessamos em vencê-la. Entendo isso. Em certos setores da vida, isso nos acomete. Por trás disso é que julgo estar o desespero por um casamento ou união estável. Ms, meu Deus, que união é estável? sempre haverá a intempérie, os desajustes...Mas, sim, chega um tempo em que se quer isso: "Terra para o pé, firmeza". Época de cessar buscar e escolher dentre o possível.
Mas eu adoro o movimento.
Gosto até da luta.
Não quero m engessar na estabilidade chata.
Daí que certas quebras de 'contrato' me excitam pela vida.
Tem dias que a vida é chata e que a tristeza se instala sem justa causa - a gente, a culpar os hormônios, os traumas persistentes, as contendas... - mas a felicidade também é assim. E tantas vezes me senti besta, por estar feliz sem motivos.
A coisa que mais me derruba, me desestabiliza e arruína meu estado de espírito é sempre ago relacionado ao amor. As coisas desse setor me jogam no chão, me derrotam. Mas enquanto não é amor; enquanto não há amor, vai-se vivendo.
E se o que há é um comodismo afetivo, talvez eu não perceba que isso é amor, porque é mesmice.
Hoje, me preocupa mais o fato de, por alguma circunstância anômala, o término que já processei com felicidade e excitação, venha a ser adiado, se prolongue aquilo que saiu do raio do meu interesse. Para mim, a data de validade expirou.

domingo, 6 de julho de 2014

De saco cheio!


Quando a gente acha que já está velho o bastante para criar novos traumas, vem a presença da família assolar as paredes psicológicas.
Parte de minha família está em minha cidade, passando toda hora por minha casa, esperando por mim, chamando por mim...E não é que eu não goste dele, é que eles exumam os mortos que carrego desativados na cabeça.
Na quinta, tive que evar meu primo à casa de minha madrasta. Sim, a casa nunca é do meu pai, é da minha madrasta. E la chegando, parei meu carro na frente da casa da vizinha e relutei em entrar no vão da garagem da casa 'paterna'. Pensando, porém, no social da situação, quando não tinha mais jeito, entrei.
Ao sair, fotos. E um mal-estar do outro mundo, parecendo coisa espiritual que assola a gente...Depois dali, a vida não foi a mesma, me senti deprimida, de bateria descarregada.
Fugi o que pude.
Hoje veio a outra tia de longe, para eu levá-la ao local em que meu primo fica hospedado. Conversa. Família. Críticas. Exumação do passado. Fotos. Depressão.
Não almocei em paz, mesmo quando me desvencilhei deles. Era como se eu tivesse quinze anos novamente. O mesmo desamparo. Quando eu digo que eu não queria ser mais nova, é porque eu não fui feliz antes...Não gosto do antes.
Para arrematar a crise, fui ao banco com a minha tia e lá encontrei Guto, coleguinha do tempo de escola...De quando eu tinha 15 anos. Ele, porém, sempre foi gente fina, companheiro, exceção numa escola de meninas.
Essas coisas apagaram o bem-estar que vivi ao viajar par Lençóis, há quinze dias, com minhas amigas. Viagem maravilhosa.
Meus dias têm sido terríveis. Andei, inclusive, dando discretos fora em dois 'ficantes' e me decepcionando com o projeto de amor que eu tinha. No fundo, atraio homens covardes. Com o tempo, já não tenho medo da solidão, aliás, solidão é o que me falta, porque faz tempo que não consigo ficar sozinha. A exceção é este momento agora. Isto porque fiquei com uma 'cisma' interior de dirigir até Salvador e desisti de ir de carro, amanhã, mesmo arcando com as despesas.
Tenho necessidade de ficar só.
Preciso de um tempo meu e eu estava com um hóspede espaçoso e folgado que só não está mais aqui hoje por força das circunstâncias.
Admito: me decepciono com as pessoas e a decepção é sempre proporcional ao apreço que tenho por elas. Se o caso é de mediocridade, pior. Há coisas que são gratuitas, não toma tempo, não custa dinheiro e qualquer um poderia fazer. Contudo, se a gente pede isso a alguém, é mais por apoio moral. Quem nega tal favor, para mim, é monstruoso. Sou pela solidariedade. E, também, a caridade se faz por vários meios. Apoiar alguém é um deles.
Neste caso, nossa relação era desigual: o que ele precisava eu sempre procurei prover, por piedade, por apoio...E achava que seria recíproco, pelo menos em se tratando de coisas bobas.
Quanto ao meu projeto de amor, não deu. Desamei. Desanimei e desamei, não quero nem a pau.
Ele não aproveitou meu período de encantamento e, portanto, quem não me faz sonhar não merece espaço em minha imaginação, nem na minha vida - em se tratando de homens. Posso dizer, sem erro:quero ficar sozinha.
Porcarias e relacionamentos incompletos, Deus me livre!
Como eu falo, os homens só têm nos dado duas opções: ser  namorada com quem se fica socialmente até às 22 horas; e ser a outra, o pivô da traição, com quem se encontra após as 22 horas. Faz tempo que o prazer recíproco da companhia não é parte dos relacionamentos...Festival de mentiras, num mundo machista. Não há companhia, na verdade...
Há os preços que se paga por um bom relacionamento, mas as pessoas querem tudo free. Se a companhia valer a pena, para mim, qualquer preço é promoção. Vale a pena!
Bem, mas é preciso seguir, só ou acompanhada. Ainda bem que tudo passa.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

"Dentes e músculos, peitos e lábios"


Não resisti à paridade entre a letra do Caetano Veloso e o ocorrido com Suarez. Olha, o povo se queixava dos indígenas antropófagos, que tinham uma razão cultural para querer devorar a carne e os poderes subjetivos dos inimigos deglutidos... Agora, o vampiro moderno e atlético morde inimigos incautos...Primitivo!

Com unhas e dentes

Comentei, no Facebook, que as pessoas têm formas muito particulares de defenderem seu país com 'unhas e dentes'. Que o diga o jogador do Uruguai, Suarez.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Enquanto espero...


Não foi por acaso que me constituí profissionalmente assim: especialista em Literatura; Mestre em Literatura; Doutora em Literatura... Meu prazer e meu caso com a Literatura antecede os títulos acadêmicos e os excede. Ocorre, claro, certa maré de correspondências e reciprocidades.
Andei dizendo mil vezes, porque de fato assim é em minha vida, que pouco me importo com o final das narrativas - extensivo aos filmes, inclusive - pois gosto da forma de narrar, gosto de ouvir histórias e de ler histórias, grandiosas ou pequenas, tímidas de significado externo, serão sempre supremas se o artefato da narração oral, cinematográfica ou da escrita assim encaminharem os passos do que se conta.
Tanto faz saber o fim desde o começo; ou quando este fim realmente se anunciar formalmente (se assim não fosse, coitado de Jorge Amado, em Tenda dos Milagres, cuja narrativa no começo,já mostra a morte do protagonista, Pedro Archanjo; ou de Machado de Assis, criando seu narrador de Memórias Póstumas; e tantos outros escritores) - Pulp Fiction também começa pelo fim; e o filme intercala muitas seções narrativas... - o importante continuará a ser a forma de narrar, a sedução que ali se estabelece a me prender, a explicar, a mostrar, até mesmo se for nonsense, e daí?
Vi, na minha relação amorosa de 'porvir' que aplico um princípio assim: gosto do gerúndio, do processo, do narrar cotidiano da relação que vai sendo ou que virá a ser. Logo, espero.
Pensando nisso, admito o medo. O medo, neste caso, é análogo ao daquelas mães que geram a expectativa do parto e, ou têm prematuros ou sofrem um aborto. Mas amor é isso: imprecisão, insegurança, nenhuma garantia. As coisas podem se precipitar. As coisas podem nem ser.
Acho que ele é um homem interessante. Neste ponto, jogo com o estereótipo a que não correspondo: sou uma mulher interesseira, já que tenho interesse no homem (desde que ele me pareça interessante) e isso não é uma curiosidade vazia, do tipo querer saber a que horas ele dorme, com quem ele está, o que faz, e etc. É bem mais.
Mas ele, o meu devir de relacionamento, conduz a espera: todo dia um pouco, como capítulo de novela. Eu acompanho.
Pode ser que seja eu a dar um fim, a antecipar o final da história, a largar a leitura no meio do caminho ou protelar tudo. Poucas vezes me deixei tão na mão de outrem, permitindo que ele faça a narração da história a dois, que proceda às pausas, que determine o tamanho dos capítulos...
Gosto da narrativa, independente do fim. Se é bom, desejo que dure...vou nutrindo a curiosidade, acompanhando o desenrolar das coisas...
No momento, não sei gosto tanto dele ou se é admiração pela educação, pelo que temos em comum. O que temos em comum é um problema para uma pessoa como eu, que já achou a outra metade da laranja um par de vezes e, decepcionada, deixou para lá, em face de termos coisas demais em comum, das quais os defeitos mais insuportáveis. Veio a sensação de estar me relacionando comigo mesmo. E eu preciso da diferença - que não seja oposição, mas diferença.

domingo, 15 de junho de 2014

Nem dou bola!


A mim, a Copa não diz nada. Não dou a menor bola para a Copa. Tanto faz ter jogo ou não ter, ganhar, perder, empatar... Por isso mesmo não sou uma boa companhia para os meus amigos, pois fico lá, apática, incapaz de um grito ou de um sobressalto de suspense de gol. Evito, portanto, as aglomerações propostas por eles, porque eu pareceria fria e ranzinza. Talvez eu seja fria e ranzinza com futebol, sei lá. Sei que pago um preço alto por não gostar daqui que a maioria gosta. 
Não gosto de bebida alcoólica, nem de um bando de coisas da gastronomia, não acho a Cidade Maravilhosa maravilhosa, não consigo me anestesiar ante os clichês da opinião geral, mas de maneira natural, não é um escolha deliberada para 'ser do contra', só pelo goto de discordar.
É assim também no sexo: tem certas preferências universais das mulheres, que não chegam a ser uma predileção minha. Difícil é passar do cálculo moral e decidir se vou fingir, para não decepcionar meu par; ou assumir que não é exatamente não gostar daquilo, mas ser indiferente. Bom, não sinto nada: tanto faz ter ou não ter, não é algo que me enlouqueça, pelo qual eu espere...
Mas devo dizer que o fato da realização da Copa do Mundo de Futebol ser aqui no Brasil e antecipar dias do recesso junino foi muito bem recebido por mim: eu precisava desse tempo.
Em maio dirigi quatro vezes para Salvador, nas quatro semanas, indo e vindo pela BR 324; dormindo pouco, ficando na capital da segunda à quinta e pouco usufruindo do meu lar. Gosto da minha casa, sempre declarei isso. Agora quero aproveitá-la.
Nesse tempo de ir dirigindo, criei uma trilha sonora especifica, que jogo no pendrive e que sempre tem lá a música do Otto, Crua, que reproduzi em outra postagem daqui. Penso a vida como um filme, faço a rota e o roteiro, coopto personagens, me decepciono, crio tensões, vivo dramas... E também vejo que tenho me divertido pouco. 
O amor que eu tinha, era pouco e se acabou, porque não sou pessoa de paciência. Voltei a cometer um erro já sinalizado por minha analista (não como erro, mas como prática) e dei um xeque-mate no meu 'objeto amoroso' pois coloquei as cartas na mesa.
Para a minha analista, este é um gesto castrador porque os homens não têm estrutura para responder de forma clara, direta, específica e objetiva a nada em relação a uma mulher. Traduzo isso como covardia. O que há de tão assustador em assumir uma coisa qualquer? quer? não quer? foi? não foi? é isso? não é? a que se deve? poderia? Enfim, clareza não é ofensa, não é tortura...Se isso castra um homem, parabéns para mim, que vou viver com eunucos. Ora, bolas!

domingo, 8 de junho de 2014

Diagnóstico provável


Estou gostando dele e isso me incomoda muito. Penso de forma muito negativa sobre o amor. Se amo, vou me lascar. O desenrolar comum e esperado dos acontecimentos é que, uma vez gostando de alguém, a decepção virá em seguida. isso, se eu tiver sorte. se eu não tiver, virá o sofrimento.
Ele me encontrou no Facebook. Admitiu que procurou até encontrar. Isso me causa medo porque aqui são águas que não se misturam e eu perguntei mesmo, como ele me achou, já que a minha pessoa física não coincide com a jurídica. Daí que não divulgo meu blog no Facebook ou entre amigos. Perderia a liberdade deste meu Lado B. Aqui sou mais sincera, falo mais intimamente.
R. brigou comigo por isso, asseverando que o universo virtual permite que qualquer um me encontre e eu, contraditoriamente, estava proibido ele de ter este acesso.
Mas vamos os pontos: este meu amado de agora também é ariano. Não é problema ter o mesmo signo que eu, mas se por demais parecido comigo. Não tenho esse ego de medir o mundo a partir do meu umbigo e me usar como medida de referência para todas as coisas. Gosto dele. Não dei meu telefone, não pedi o dele...Sumi por dois dias do Facebook, para estudar reações. Pronto! sofri.
Se ele se parece comigo, deve e invocar por qualquer coisa, porque sou assim. E dei motivos a ele para sumir, certamente boicotando, de antemão, a provável relação.
Acho que vai dar tudo errado.
Acho que ele vai ignorar o convite que ele mesmo me fez.
Acho que a gente não vai ficar juntos. Acho que vai acabar antes mesmo de começar. Acho é que eu tenho medo. Não vou amar ninguém e este teria muitas chances de ser amado.
Não estou pronta para amar de novo. Não tenho estrutura e vou correr o quanto for possível. Por enquanto. escondo-me sob a rinite que me fez adoecer bastante. Melhor isso que o amor, que não tem cura nem paliativo.

domingo, 1 de junho de 2014

Caixas de segredos


Meu ex estava aqui em casa, por força das circunstâncias. Resolveu, pois, pegar um certo objeto em meu guarda-roupa, também por força das circunstâncias. Ao ver que ele estava com uma determinada caixa na mão, me desesperei, gritei, adverti: "Não, não é aí! Não é aí! Largue isso que eu pego para você num instante!".
Ele não é meu ex à toa: a teimosia dele é uma coisa irritante e constante. Eis que o sujeito forçou a barra para abrir a caixa, à minha revelia e deu de cara com algo que eu escondi dele, respectivamente, por 07 e 04 anos, pois tratavam-se de dois objetos.
Fiquei sem graça, sem jeito, e já sabia que viria uma bateria de perguntas e a retrospectiva dos meus amores e casos passados. Sim, eram dois souveniers de motel, sendo um de sete anos atrás, na primeira vez em que tive um encontro íntimo com o Ex-Grande Amor da Minha Vida; e outro, quando realizei uma fantasia, há quatro anos. Ele sabia dos dois casos específicos, que em nada tocava à vida dele. Mas aí vem a cara de depressão, de decepção e as pequenas lições morais machistas.
Ele jamais respeitou meus segredos e muito menos a minha privacidade. Foram, os dois momentos citados, bastante importantes para mim. Quis guardar o possível daquele momento ímpar, ter uma lembrança, ter alguma coisa de algo que eu sabia que iria passar. Era meu momento. O ex não entendeu isso.
Ele tem, até hoje, chaveiros com fotos de pessoas com as quais ele me traiu, cartas, bilhetes, fotos, presentes de outras...E eu nunca cometi atentados contra esse acervo porque, afinal, ele viveu aquilo e nada podia apagar a situação, ademais, se ele guardou, deve ter gostado do que viveu. Destruir o acervo pessoal dele seria uma agressão idiota - ele, sim, invadiu minha casa numa dada vez e queimou fotos e negativos meus com meu outro namorado.
Mas, sempre dói. Moro só, gosto de meus segredos, escondo coisas, cartas, declarações de amor como uma, lindíssima, em que meu lindo ( e infelizmente casado) dentista de 2008 criou dois poemas para mim, escritos num receituário, com assinatura e carimbo dele; guardo cartas amareladas e bilhetes de toda espécie que os homens já me enviaram, desde que os considere importantes. Tenho, em casa, diários - e pretendo adquirir um cofre somente para eles. Não gosto que leiam, que peguem...Deixem em paz minhas caixas, pelo menos até que eu vá para o caixão. 

sábado, 24 de maio de 2014

Corpo, carne e coração


Não faço sexo com amor apenas com quem eu amo. Tratar a outra pessoa com dignidade, respeito e amor independe de haver o amor clássico romântico instituído.
Não beijo apenas quem eu amo, nem dou carinho apenas quando amo. Acontece, porém, que o homem que estiver comigo, no momento em que estiver comigo, será tratado com amor e com carinho porque não aderi à moda clássica de imitação dos filmes pornográficos. Eu também os assisto, quando o momento pede, só ou acompanhada, mas não sou daquelas mulheres que gostam de palmadas, nem de subserviências, de gozos enlatados, com script e diálogo previamente determinado com direito a palavrões sem nexo com o contexto, falsos elogios e o pacote completo da sexualidade performática da cultura de massa.
Claro que, se o sujeito quer propor um jogo erótico que envolva tapas, velas, mordaças, lugares, situações, desde que faça parte de um conjunto de coisas que são opções verídicas e conscientes das partes, vale tudo.
Não admito esse medo besta dos homens, medo de dar e receber carinho e isso ser confundido com amor. Aliás, sempre vou me queixar dos homens porque eles guardam o melhor sexo apenas para as amantes. As mulheres que são como eu, jamais guardam o melhor sexo para setores selecionados de seus afetos.
Não divido o meu corpo com quem eu sequer simpatizo, com quem eu não dê um voto de confiança para tal liberdade. Por que não sermos, pois, livres, para o comportamento sexual que o consenso permite? Só valem as brutalidades secas, o fôlego e a estatística (quanto, quantas)?
Acho isso muito pobre. Daí que minha amiga segue dizendo que excluo os homens. E excluo porque seleciono. E quando deixo para lá os critérios, ardo em ressacas morais posteriores. Nada pior do que um mal-estar pós-intimidade sexual, quando você nem sabe como erguer os olhos, nem como solicitar que o outro vá embora e mesmo quando nem há o que dizer nos encontros fortuitos que a vida se encarrega de providenciar.
As boas parcerias são cada vez mais raras. Diziam as mulheres que os P.A. e os HDM eram a solução. Mas já não há Pau Amigo nem Homem De Manutenção como outrora: já não entendem que a relação pode ser simplesmente essa, de "então, tá combinado, é quase nada: é tudo somente sexo e amizade". Não tem mais amizade com entendimento sexual, que aliás, é o contrário, é o sexo bom com partilhas de camaradagem, porque com um amigo eu jamais transaria. Amigo, de fato, é mais que família. Mas a parceria sexual poderia ser assim, como um dia foi... Perdeu-se, porém, esta boa capacidade de relacionamento. A agenda já não funciona para chamar alguém legal com quem se possa ver um filme, conversar, fazer sexo. Os homens estão com medo de gerar expectativas nas mulheres.
Sexo com amor, sem amar. E se um dia for possível, novamente, em minha vida, aliar o amor e o sexo, no sentido romântico mesmo, não tenho nada contra a intensidade e os riscos.
A gente vai mesmo pensando duas vezes nas escolhas que faz. Tem um monte de amigas minhas, bonitas, independentes e inteligentes que não têm com quem ter sexo ou que, diante das opções, preferem ao vibrador, devido ao fato de que muitos pares não valem a pena. Isso já foi menos complicado. Antes a complicação era moral, era nosso superego vigiando nossa conduta, era o medo de ser tratada como objeto, era a carga moral completa. Hoje está muito difícil e já nem há heterossexuais praticantes.
Quando eu digo que um homem é interessante, quero dizer que tenho interesses por ele: me interesso em saber o que pensa, como ele é, o que faz, o que lê, do que gosta...E quase sempre isso significa interesse sexual, aquela aposta que a gente faz de que vai se entender com o outro na horizontal  (ou seja lá em que posição for)...Mas homem interessante é um contingente cada vez mais escasso sobre a Terra. Que pena!
Aí a gente fica só. Cada vez mais só.
A música abaixo, de Otto, que se chama Crua, me lembra a carne crua (já disse que adoro os branquinhos) e deliciosa de quem deixou saudades

Há sempre um lado que pesa e um outro lado que flutua.
Tua pele é crua.
Há sempre um lado que pesa e um outro lado que flutua. 
Tua pele é crua.
Dificilmente se arranca lembrança, lembrança, lembrança, lembrança...
Por isso da primeira vez dói, por isso não se esqueça: dói.
E ter que acreditar num caso sério e na melancolia que dizia.
Mas naquela noite que eu chamei você, fodia, fodia.
Mas naquela noite que eu chamei você, fodia de noite e de dia.
Há sempre um lado que pesa e um outro lado que flutua. 
Tua pele é crua. É crua.
Há sempre um lado que pesa e um outro lado que flutua.
 Tua pele é crua. É crua.
Dificilmente se arranca lembrança, lembrança, lembrança, lembrança...
Por isso da primeira vez dói, por isso não se esqueça: dói.
E ter que acreditar num caso sério e na melancolia que dizia.
Mas naquela noite que eu chamei você fodia de noite e de dia.