Louquética

Incontinência verbal

domingo, 12 de setembro de 2010

Coincidência e rock


Minha vida se faz por coincidências e acasos.
Como eu digo sempre, não há Destino, não há nada escrito: ainda acredito que o tal do "está escrito" é um preconceito ocidental contra as sociedades ágrafas, de modo a firmar a permanência da escrita, a inevitabilidade das atrocidades que os homens cometem uns contra os outros e uma série de linhas tortas que se instituiram historicamente na fantástica guerra destes mesmos seres humanos por poder e por poder dominar o outro.
As sagradas Escrituras, por serem, como tais, escritas, reclama seu valor.
O outro lado diz: "palavra é força!", puxando a brasa para a oralidade, para a força da honra da palavra, para os sustos que nos acometem ante as pragas e com todo o universo simbólico que envolve os nomes, as palavras e sua carga imaginária e simbólica.
E eu, ontem, reproduzi um fragmento de Clarice Lispector, enfocando Lóri, a personagem principal do Livro dos Prazeres.
Saí - fui a um show dos meus amigos, contemporâneos de universidade, colegas do meu curso de História - desafiando uma certa indisposição de corpo e de espírito a que a crise de rinite me inclinava.
Cheguei lá e supreendentemente encontrei vários amigos meus.
Show marcado para as 20h30min, numa cidade cuja vida noturna dançante começa à meia-noite, é um desafio ao hábito. Cheguei lá perto das 22h e não havia começado ainda a festa, o que favoreceu estar com os meus vários nichos.
Quando eu estava me ambientando com o show do DJ, veio uma moça me perguntar se poderia falar comigo um instante. Eu disse que sim, mas foi engraçado ela dizendo:
- Oi, tudo bem? você não se lembra mais de mim...eu era vizinha do seu namorado!
Claro, pausa dramática: Qual? mas, como eu tive poucos namoros porque foram sempre looooonguíssimos, de cara acertei qual seria: o que durou 06 anos!dito e feito!
Então eu olhei muito para ela e falei: "-Ah, Lóri!".
E daí foi uma festa, comemoramos muito este reencontro e a permanência do carinho apesar da distância.
Ela me dizia:" eu era muito pequenininha quando você namorava ele, você lembra?"
Lóri tinha 10 anos quando eu namorava Ele - eu tinha acabado de entrar na universidade.
Achei uma linda coincidência.
E ficamos comemorando e atualizando vários anos de ausências - ela agora aos 23 anos, se formando em Farmácia.
Lóri: a mesma carinha da criança sobrevive na moça adulta, plenamente reconhecível e adorável.
A festa foi boa.
Tem um lado muito engraçado em estar com os amigos dos tempos de universidade - e isso se agrava no caso daqui da UEFS porque ela comporta vários cursos num mesmo campus - que é o contato das graduações.
Era uma festa majoritariamente dos egressos de História e das novas gerações do curso, mas aquelas caras e aqueles caras de Administração, de Geografia e de Economia estavam lá.
Quando eu excomunguei, reclamando do cheiro ruim da maconha, os meninos de minha turma ficaram lá, dizendo se eu nunca iria mudar isso e os velhos blablablás sobre a minha caretice, que por sinal eles adoram, mas eu olhava para A., hoje agente da Polícia Civil, e não precisava dizer nada: "Eu sei o que você fez durante a graduação" ou "Eu sei o que vocês fizeram nos saraus do Feira VI"...
Quando eu entrei numa Corporação militar, nos idos de 1997, não faltaram colegas de graduação para me chamar de "representante armada do sistema".
Eu fui a primeira.
Eles vieram depois.
Disciplina e hierarquia.
Policiais, enfim.
Viram que quando se presta um concurso para a Secretaria de Educação do Estado,a expectativa de convocação é uma ilusão que se desfaz rapidinho.
Todo mundo dá aulas de História.
Todo mundo, seja de que área for, completa sua carga horária com as aulas de História.
Todo mundo dá aulas de História, menos o profissional formado em História: lição difícil que a história não conta...mas esta é outra história.
Hoje eles se remexem, querem sair das instituições policiais em que estão, sabem que eu fui subornada, naquela época, pelo emprego público estável, por um PLANSERV e por um décimo terceiro salário.
Neste contexto aí encontrei Miro. Ele acabou de pedir exoneração de sua instituição da Secretaria de Segurança Pública (kkkk!!!ele é o homem que abre todas as portas!) e em menos de um mês deverá se apresentar à FUNAI, no meio da Amazônia.
Era a despedida dele, embora ele diga que volta em alguns meses. Brinquei, com a turma toda, confessando que eu achava Miro um cara super chato.
Porém, num dia, ao entrar na academia que eu frequentava, Miro estava com o quimono aberto. Vi o tórax dele e mudei de opinião. Até hoje eu rio disso.
Miro estava muy borracho no final da festa, mas consciente, alegre, querendo viver a plenitude do momento.
Segundo ele, tínhamos uma história para acabar.
Ai, como eu enrolei este menino! não é enrolação moral ou mentira, é adiar as coisas.
Que fofo!ok, ganhou o beijo!
Dizia a sábia avó de Leila que "cocada que não sai, não vende". Não saí para vender nada...eu quase nem saía, mas adorei a noite, adorei ver Lóri, adorei ainda mais ver, finalmente, os homens bonitos de Feira de Santana - obrigada, Senhor, porque puseste um grande número deles ali, naquela festa.
A festa era o "Atentado ao Tédio", com o Clube de Patifes e os Ramones Cover, lá no Botekim.
Poxa, tinha gente louca, muitos sequelados, galera camisa preta, galera tarja-preta-profissional, mas lindos mauricinhos e boas réplicas dos vocalistas do The Strokes e do Kings of Leon (réplicas mesmo, Tatiana:os mesmos cabelinhos, os olhos, a boca...ai, Jesus!).
Dormi pouco. Cortei os meus cabelos hoje de manhã - eu, que já tive mega-hair, cortei os meus cabelos hoje, num mal humor desgraçado - lembrei de Lília Cabral no filme Divã: "repica!repica!repica!repica!" - eu odeio cabelo repicado, mas não teve jeito, tive que repicar para ir recuperando o corte em fio reto (calma, amigas, está do tamanho do meu cabelo nesta foto aqui do perfil do blog, ok?). Melhor perder os cabelos do que perder a cabeça, não é?
Estou com o coração disparado de apreensão com esta possibilidade de que a celebridade tenha lido meu blog. Putz, onde é que eu vou enfiar a cara amanhã? ilações de minhas amigas terroristas!

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