Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

"Da força da grana que ergue e destrói coisas belas"


Você pode escolher a sua relação com o dinheiro - ser mercenário, ser econômico, ser generoso, ser materialista, ser hipócrita, ser dono do dinheiro, fazer do dinheiro o seu dono, mas, cá entre nós, sugerir que todo rico é má pessoa e que as pessoas ricas comentem mais suicídios é, no mínimo, culpar a janela pela paisagem.
Já debatemos isso: geralmente, num país de gente rica, as pessoas já obtiveram suas conquistas materiais. Daí, às vezes projetam suas vidas na conquista de outros valores e de outras demandas, das coisas que não estão à venda - e pode ser um amor, subjetividades emocionais e existenciais e coisas afins.
Se dinheiro não traz felicidade, também ele não pode ser o responsável pela infelicidade de ninguém.
Acredito que quem faz boas escolhas na sua relação com o dinheiro, certamente usa o dinheiro para a sua satisfação e para a sua felicidade - podendo compartilhar, de várias formas, destes outros ganhos com quem bem queira.
Eu observo na sociedade soteropolitana que as pessoas verdadeiramente ricas, os grandes empresários da música, por exemplo, e alguns artistas nacionalmente conhecidos, não têm ostensividade com a sua riqueza.
A gente vê nossa amiguinha e nosso amiguinho que, com sua renda mediana, comprou sua peça H. Stern ou sua BMW, em estimadas 48 ou 60 parcelas, desfilando suas posses por aí. Entretanto, nunca vi festival de guarda-costa, nem divulgação das posses, de forma ostensiva, nem de um Bel do Chiclete, nem de jogadores do futebol baiano, nem de Ivete Sangalo, nem dos grandes proprietários de estabelecimentos super lucrativos em Salvador.
São Paulo concentra renda e tem gente rica, verdadeiramente rica, daquelas pessoas que mal têm idéia do inventários de seus próprios bens, que compram sem pensar em números e que, em face de um desejo, preparam o cheque ou preparam o jatinho e mandam trazer o que desejam, e que, no entanto, não escandalizam para ostentar riqueza. E quem, por ventura faz isso, logo é apontado como emergente.
Mas a gente vai ao Rio de Janeiro e a política dos ricos é totalmente outra: quando eu vi que era Nicole Kidman quem estava de garota-propaganda para um novo shopping no Rio, meu queixo caiu: estava clara a conversa estabelecida com os ricos.
Não me assustou a grandiosidade da propaganda, em trazer uma estrela internacional para divulgar o novo shopping, mas aquela diferença estupenda que os ricos do Rio têm: uma assunção ostensiva da riqueza.
A mesma receita já havia sido usada no eixo Rio-São Paulo, com Kate Moss e Sarah Jessica Parker, para o Shopping Cidade Jardins, ao que me parece, mas, nada que possa repetir a produção nababesca desta última empreitada.
Até naquela já nem tão grandiosa Confeitaria Colombo você vê uns remanescentes de ricos, com aqueles cabelos azul-grisalho e certa pose...Anda-se mais um pouco - aliás, pobre nem anda lá nessas outras avendidas e bairros, e aí você dá de cara com uns ricos mais exibidos pelos outros bairros, ou simplesmente na Vieira Souto, em visão panorâmica.
Há uns dias atrás eu estava em Campinas, andando perto do Parque, e pela primeira vez na vida eu vi uma Ferrari, verdadeira, original, vermelhinha, fofa. Caramba, além do carro ser lindo, aquele, sim, pode se gabar de ir de 0 a 100km em menos de 0,3 segundos.
Olha que eu mal entendo de carros, mas posso afirmar que o bendito é lindo! deslumbrante!ah, se meu dinheiro desse!
Aí penso nos monstruosos seres que apenas ganham dinheiro e não conseguem usar o que ganham para serem mais felizes.
Para que porcaria querem ter dinheiro?
Se eu tivesse uma boa grana, é claro que eu usaria meu dinheiro para minha satisfação pessoal, fosse lá com o que fosse. E nem sou compradora compulsiva, mas, se eu estivesse triste, usaria meu dinheiro em possibilidades de diluir minha tristeza - Conforme fosse a causa da tristeza, compraria remédios, iria a bons médicos, presentearia um amigo ou a mim mesma, faria uma viagem, iria a algum lugar divertido, enfim, usaria o dinheiro para me fazer feliz.
E se não houvesse nada que o dinheiro pudesse fazer por mim, certamente eu iria ver o que ele poderia fazer por alguém que eu amo.
Que eu não sei poupar, é óbvio: caso contrário eu não entraria em caixas, nem faria capitalizações, mas eu nunca fui e nunca seria mesquinha com dinheiro, mão-de-vaca.
Ter uma vida desregrada não me interessa, porque como bons neuróticos temos que pensar no amanhã e nas surpresas que a vida reserva, nas necessidades, urgências e emergências...mas, excetuando-se estas coisas, para quê ganhar dinheiro se na hora de satisfazer um desejo qualquer a pessoa pondera demais ou declina do que deseja porque prefere entocar a grana? nem faz sentido se você não tiver um plano para a sua grana.
Há duas situação em que Zeca Baleiro mais expressa as aporias do dinheiro: uma é no Vapor Barato, quando diz "Eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus!", que eu tomo para mim, porque eu quero o que me basta e se um dia vier algo a mais, aposto que saberei o que fazer; outra é quando ele canta Babylon:

Baby!
I'm so alone
Vamos pra Babylon!
Viver a pão-de-ló
E Möet Chandon
Vamos pra Babylon!
Vamos pra Babylon!...
Gozar!
Sem se preocupar com amanhã
Vamos pra Babylon
Baby! Baby! Babylon!...
Comprar o que houver
Au revoir ralé

Finesse s'il vous plait
Mon dieu je t'aime glamour
Manhattan by night
Passear de iate
Nos mares do pacífico sul...
Baby!
I'm alive like
A Rolling Stone
Vamos pra Babylon
Vida é um souvenir
Made in Hong Kong
Vamos pra Babylon!
Vamos pra Babylon!...
Vem ser feliz
Ao lado deste bon vivant
Vamos pra Babylon
Baby! Baby! Babylon!...
De tudo provar
Champanhe, caviar
Scotch, escargot, Ray-Ban
Bye, bye miserê
Kaya now to me
O céu seja aqui
Minha religião é o prazer...
Não tenho dinheiro
Pra pagar a minha yoga
Não tenho dinheiro
Pra bancar a minha droga
Eu não tenho renda
Pra descolar a merenda
Cansei de ser duro
Vou botar minh'alma à venda...
Eu não tenho grana
Pra sair com o meu broto
Eu não compro roupa
Por isso que eu ando roto
Nada vem de graça
Nem o pão, nem a cachaça
Quero ser o caçador
Ando cansado de ser caça...
Ai, morena! Viver é bom
Esquece as penas
Vem morar comigo
Em Babylon...

E aconteceu de Zeca Baleiro e eu pertencemos à mesma religião, para encurtar a conversa.
Não é à toa que as pessoas apostam nas loterias, nos jogos, nos Bigbrothers, em tudo quanto há de possibilidade de levantar um bom capital. Quem quer ser um milionário? Quem quer dinheiro? todo mundo! o resto é só a hipocrisia nossa de cada dia.

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