Louquética

Incontinência verbal

sábado, 29 de janeiro de 2011

Clube das mulheres: a outra versão


Não sei se estamos, necessariamente, enquanto mulheres, copiando comportamentos masculinos, ou se interpretamos mal nossa própria vontade de ser forte e de evitar os sofrimentos ocasionados pelas relações com os homens, mas sei que a vida já não é a mesma no tocante às relações de gênero.
Não está em pauta, aqui, o desejo de igualdade e de equidade de direito entre os gêneros, mas outros fatores. De alguns deles, eu falo de fora, como observadora. Vejo, penso a respeito, discuto.
Outros desses fatores, vejo em mim e em minhas amigas e para alguns deles, minha postura é de espanto.
Ontem a noite foi maravilhosa, com todas as letras: saimos em trio, depois num grupão de mulheres,todo mundo independente, maior de idade, professoras.
De início, registre-se minha felicidade, nesta última sexta-feira antes do fim das férias, coletivamente comemorada, como se fôssemos morrer no dia seguinte. Aí fiz a cabeça da turma para irmos ao The Kings e acertei em cheio: testosterona pura! ô paciência, gostamos de homens.
Gostamos e lá estava cheio deles, de todos os tipos e para todos os gostos. E além disso o ambiente era legal, a gente se divertiu demais.
Gostamos de homens, sim. Aqui o gostar é no sentido genérico, não nos sentimentos. Quanto a esses, os sentimentos pelos homens, já não gostamos da mesma maneira como antes: mudaram as relações, mudaram os jeitos do gostar.
Ainda nos descabalamos por um grande amor, ainda ficamos tontas com um "amor de p%$#, que quando bate, fica", mas já não reagimos aos sentimentos da mesma maneira, isso quando os sentimentos nos alcançam.
Às duas e meia da madruga, fomos ao Jeca, que eu chamo de Bar dos fracassados, porque todas as vezes em que me sentia pisada, humilhada, abandonada, destruída e fracassada, era para lá que eu ia com a minha amiga número 01, ver gente de camisa preta, ver maconheiros e universitários normais, ver socialistas extemporâneos e profetas drogados, ver coisas e coisas. Bem, ia ver isso e tomar coca-cola porque lá não há repertório gastronômico para quem não bebe, como é o meu caso.Também não sou afeita a refrigerantes, mas era a opção possível.
Num cantinho conversávamso sobre os homens ali presentes e sobre os vistos pelo caminho, como marinheiros podem falar sobre mulheres.
Não obstante nossa boca porca e nosso arsenal de palavrões, parecíamos homens, falando do que faríamos na horizontal com X, fazendo deduções sobre as habilidades sexuais de Y, chamando uns de velhos, outros de acabados, lamentando as demandas dos relacionamentos e, pior, as meninas já estavam cheias de álcool a esta altura, o que piora o nível de nossas considerações.
A cana foi tão brava que Cléo, que começou a noite como baiana, já estava com aparência de oriental, com cara de japonesa, porque era tanto álcool ingerido que os olhos dela diminuíram.
Rimos para caramba disso.
Deduzo que os desejos, as ânsias e as carências nossas, de mulheres, são as mesmas experimentadas pelas gerações anteriores. Mas, quem cansa de apanhar, reage. E reage de muitas formas. Assim, a reação geral é seguir uma quadrinha velha conhecida: "A laranja, de madura/Caiu na ponta da vara,/Mulher que chora por homem/Merece tapa na cara". A Lei Maria da Penha aqui, não pega não: não seria o homem a bater na cara dessa mulher que por ele chora, mas sua própria companheira de gênero.
Sabemos o que é uma mulher besta e esse é um papel que nenhuma de nós quer.
Sabemos o que os homens fazem quando se julgam amados: no mínimo, tratarão a apaixonada como adereço da vaidade dele; depois, começam a maltratar, humilhar, abusar de várias formas.
Sabemos que os homens nunca ligarão no dia seguinte.
Sabemos de tudo que os homens são capazes de fazer e , hoje em dia, não demora à gente ouvir uma mulher falar que "a fila anda" ou que "o remédio para UM é OUTRO" - estou nessa, também acho, embora nossas verdades sejam duvidosas.
Viramos o que viramos, mas ainda estamos em processo.
Lembro de mim, quando apaixonada: só me lembro dos sofrimentos, na maior parte do tempo. Aprendi muito!
Não temos válvulas que ligam e desligam a paixão por alguém, mas sabemos correr desse sentimento.
Alguém aí certamente pensa que o Clube das Mulheres se resume àquelas reuniõeszinhas para assistir a insípidos strip-teases masculinos. Digo, porém, que aquilo que um dia chamaram de Clube da Luluzinha, já era, foi substituído pelo verdadeiro Clube das Mulheres - nisso o cinema se antecipou ao criar o filme "O clube das infiéis", não pela infidelidade em si, mas pela quebra das regras - e este clube é a constante troca de experiências entre nós, mulheres, é o apoio que uma dá à outra para enfrentar situações, é a interação e os pedagogos devem lembrar muito bem o que é sócio-interacionismos, né? interagimos com o meio social e isso é um elemento transformador.
Algumas atitudes de frieza , em mim, me espantam. Hoje, por exemplo, não soube o que dizer a ele sobre porque não ficávamos juntos. Não era um ficar, era assumir um namoro, coisa que eu não queria com ele.
Quase não aceito a presença dele em minha casa - não gosto de ficantes, namorados e afins em minha casa, não gosto desta intimidade com outra esfera de minha pertença. Na verdade, dentro de mim eu tinha uma objetividade de homem: sabia o que eu queria. E não queria nada além - daí minha agonia em inventar uma história para que ele fosse embora logo, além de minha falsidade em intensificar minhas necessidades de repouso (se bem que eu cheguei em casa 5 da manhã, dormi apenas até às nove, voltei a me encontrar com a turma meio-dia, saimos de novo e eu só voltei porque havia marcado o encontro), então, tudo reforçou meu cansaço.
Mas, poxa, que coisa desconfortável, que respostas vagas eu dei, que vontade de pôr às claras as coisas, mas, por fim, eu não era assim e estranho muito reconhecer em mim atitudes de minha geração.
Diante disso tudo, com um sono miserável que eu estou agora, só me resta dar de ombros e, como no Cotidiano, de Chico Buarque, dizer que "depois, penso na vida para levar e me calo com a boca de feijão"!

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