Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sem resposta


Dizem que as religiões não dão respostas: evitam perguntas.
Seja qual for a religião, mesmo se ela se auto-intitular filosofia ou tiver nomes congêneres, não estou aqui para negar isso.
Na vida da gente, também, há aquelas perguntas que a gente evita, há outras para as quais nenhum de nós está preparado e muitas destas perguntas realmente abalam nossas bases.
Ele teve a coragem de me perguntar: "Como você vê a sua vida daqui a quinze anos?".
Se minha analista me disse que aquilo lá que eu fiz, não se faz a um homem, agora posso dizer que esta pergunta, bem, isso não se pode fazer a mim.
Foi um balbucio esquisito, impreciso, procedido de um silêncio que dava para ouvir o cricrilar dos grilos, e eu toda embaraçada.
O que se pode dizer?
Eu ia dizer que eu nunca pensei a minha vida a tão longo prazo? putz, não sei pensar a longo prazo. As únicas duas coisas a longo prazo que fiz nesta vida, para desafiar minha paciência e minhas visões apocalípticas da vida foi financiar parte do valor do carro em 48 prestações e assinar um título de capitalização, para 60 meses, porque, afinal, eu não sei poupar.
Foi um rebuliço em minha Caixa de Pandora, esta pergunta: eu odeio idéias eternizantes, idéias de eternidade, longos prazos, coisas indefinidas, enfim...não penso minha vida senão até o relativamente próximo.
Sendo absolutamente sincera, eu sequer imaginei viver os próximos 15 anos.
Ao contrário, daqui a 15 anos eu espero que Deus seja generoso e que eu nem exista mais: pensei nos meus ossinhos - ossinhos fashion, tá? - organizadinhos, embaixo da terra, à espera do destino final deles, cremados ou removidos para o devido lugar.
Pensar a vida daqui a 15 anos é pensar em tudo o que eu não terei, especialmente a vitalidade.
Um dos meus planos do ano passado era entrar numa cademia e continuar nela.
Assim o fiz e me sinto bem melhor agora, gosto do resultado discreto, embora eu ache uma tortura a rotina de pesos e exercícios. Fico, portanto, com o resultado como motivo para incorporar a academia à minha vida.
Daqui a 15 anos eu terei mil impedimentos. Possivelmente estarei com os pés na menopausa, bem pertinho dela.
Daí advém uma série de coisas ruins que me fazem temer estar viva nos próximos 15 anos.
Eu só não queria uma morte lenta e dolorosa, mas eu até sou conformadinha com a minha finitude - coisa que o miserável do meu primo me ensinou desde cedo, num dia em que comemos galinhas e ele questionou porque eu estava com medo de fantasmas, ali, na casa de minha tia, e porque ninguém tinha medo da alma da galinha assombrar a gente.
Nem sei quando foi que eu comi galinhas deste tempo para cá!
Mas esta pergunta descabida sobre como eu imagino minha vida daqui a 15 anos, sem dúvida, era um poço sem fundo.
Eu poderia ser estratégica e dizer que eu me imaginaria ao lado dele, na casa da gente, blablablá, e garantir a minha parte.
Se eu fosse levar a sério e na sinceridade a pergunta, eu diria que daqui a 15 anos, caso estivéssemos juntos, eu estaria chorando porque ele teria um caso com outra mulher; eu lamentaria que ele precisasse de comprimidos azuis para transar comigo; eu e ele estaríamos preocupados com check-up de nossa saúde, num infinito de comprimidos e restrições alimentares...
Ou após 15 anos eu estaria preocupada em perder o mínimo possível no nossos processo de divórcio.
Eu, talvez, após 15 anos com ele, entenderia melhor a esposa daquele famoso professor da Federal da Paraíba, com aqueles pulsos renovadamente cortados e marcados pelas tentativas de suicídio ante a impotência para suportar tantas traições dele - vish, este professor já pegou DUAS pessoas conhecidas minha, uma das quais, minha amiga...que nariz de sucesso!
Mas é que eu não sei ser otimista.
Vai que eu dissesse que daqui a 15 anos "eu queria te fazer tão feliz quanto você me fez agora!".
Vai que todos os meus prognósticos se mostrassem errados e eu estivesse tão feliz que nem pensasse na morte?
Vai que eu tivesse " a sorte de um amor tranquilo" e fizesse tudo que eu não fiz até então porque ele me fez mudar, por que ele me fez perder a cabeça e eu, incorporando o Jack Nicholson, em "Melhor é impossível", pudesse parafraseá-lo e dizer: "Você me faz uma mulher melhor"?
O futuro me dá uns arrepios de pavor na espinha que me assustam muito.
Futuro é uma construção e a construção imagética de 15 anos após o dia de hoje só pode me deixar embaraçada.
Juro que eu não lembro o que foi que eu respondi, mas com certeza, aderi à corrente filosófica do Leão da Montanha: "Saída pela direita!",e peguei minha tangente.
Tenho com ele o mesmo problema que eu tinha com Thales: se eu não respondo adequadamente, a pergunta volta.
Não adianta postergar, não adianta apertar o "pause", porque a pergunta virá e virá mais temperada e sonsa, porque eles são astuciosos e sabem quando eu estou evitando a pergunta, temendo a resposta.
Foi muito doloroso responder todo aquele primeiro questionário sobre amor,casamento e filhos - que eu respondi com uma infinita diplomacia, bem bonitinho, bem educadinho, bem corretinho, mas sem dispensar umas pinceladas de realidade. Agora, ele quer uma conclusão, ele quer juntar premissas e concluir, deduzir, sei lá, acho que ele nem nota que me atingiu em cheio.
Depois vai um idiota qualquer achar que a melhor resposta é aquela que não se dá. Experimenta!

Nenhum comentário:

Postar um comentário