Louquética

Incontinência verbal

sábado, 13 de agosto de 2011

Chuva e dia cinzento


Quem disse que um dia de chuva não pode ser um lindo dia? Claro que pode: na poesia, no deserto, nos lugares áridos em que a chuva vai salvar a plantação e em algumas dessas exceções climáticas, mas aqui, na vida real, meu irmão, um dia de chuva é um dia de tédio, é tudo horrível, é tudo cinza, é tudo triste...
E não errou aquele que criou o repetido clichê de que a chuva são as lágrimas do Céu (apaixonado, feliz, depressivo, entediado): eu agradeceria muito a quem lhe oferecesse um lenço!
Se faz frio, tudo bem: o inverno tem esse lado confortável da preguiça das roupas quentes, das comidas quentes, da elegância no vestir, de coisas que só são possíveis usar sob baixas temperaturas...mas se chove, os bichos se recolhem, todo mundo entocadinho, a gente pensa 40 mil vezes antes de se decidir a ir à padaria, tudo está molhado lá fora, tudo está frio e úmido dentro de casa,a alegria fica tímida e também não quer sair.
Estruturalmente, tudo é lama e caos, de carro ou a pé, quem escapa dos respingos? até o corpo fica tendente a manifestar seus espirros de rinite e seus resfriados de protesto.
Sem praia, sem festas, sem roupas no varal, sem bichos se espreguiçando sob o sol. E eu, que sou de açúcar, não gosto de sair na chuva - não é só porque o meu cabelo vai padecer do encolhimento dos afro-transformados quimicamente, não: é que sou super-hiper-mega-maxi-friorenta ( e C. sempre cuidadoso e complacente, mesmo sem que eu pedisse, não acionava o ar-condicionado do carro, para não despertar a minha rinite...cavalheiro, aquele malvado!observava meus arrepios de frio na sala gelada, que era gelada para os meus padrões, e sempre me dava o calor possível para me proteger. Que pena que ele é de Leão com ascendente em Pavão...e eu, Áries, com ascendente em perua e sol em burra, no sincretismo astrológico do horóscopo com o jogo do bicho!).
Se eu não dou uma pausa para futilidades e loucuras, eu entro em pane, nesse meu desgastado exercício CDF de cumprir as obrigações do estudo.
Hoje tem uma festa muito boa lá na The House e eu queria ir, mas nenhum dos meus chegados vai - eu queria ir, mas penso nas consequências de sair hoje à noite e chegar em casa amanhã de manhã, toda quebrada, e passar o dia dormindo, para acordar ainda quebrada na segunda-feira, para ir à UFBA dar aula toda quebrada, desmantelada, desfigurada de sono, no primeiro dia do semestre letivo.
E tem os textos da minha turma, que eu ainda nem fiz a sequência mas, prometo a mim mesma que até às 20 horas de hoje, tudo estará encaminhadíssimo.
São Paulo tem o céu cinzento dos dias de chuva - lá isso não chega a ser triste. Também a chuva nunca me pegou de verdade, como em Campinas. É que em Campinas, chuva é aguaceiro, enquanto em São Paulo, chuva é garoa, pelo menos nas minhas experiências. Acho que estou com saudades de lá.
E por aqui a chuva persiste o ano inteiro...foi um verão chuvoso, um outono chuvoso e agora é inverno, pelo menos para justificar - ano novo tem chuva, carnaval tem chuva, Micareta tem chuva, Semana Santa, tem chuva; São João é chuva pura...só posso garantir que no 07 de setembro não chove jamais, mas no resto dos dias, nem se fala.
Quem terá tido a inteligência de chamar isso aqui de Nordeste? e essa região específica de semi-árido? quem será, meu Deus? a Princesa do Sertão é princesa do reino da pluviometria. E com geógrafos desse quilate, daqui a pouco vamos descobrir que ao lado do Cazaquistão fica a República de Ondeéquestão, pertencente à ex-União Soviética (eu que descobri as terras do Onde-é-que-estão, viu? registre-se, publique-se e divulgue-se!)
É, meu amigo Lobão, "Chove lá fora e aqui tá tanto frio..."

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