Louquética

Incontinência verbal

domingo, 28 de agosto de 2011

O amor nos templos de compras


Não é novidade que eu sou tímida. Sou tímida mesmo, incapaz de lançar um olhar paquerador, de ter iniciativa na conquista de forma direta. Por isso gosto dos raros homens que têm iniciativa e paciência - justamente as duas coisas que me faltam no plano afetivo.
Também não é novidade o fato de que a beleza masculina me paralisa, me hipnotiza. Não obstante, não sei quem andou prendendo os homens realmente bonitos de minha cidade, mas sei que soltaram todos eles nessa semana que passou.
Para a minha sorte, ou os deuses fizeram as pazes comigo ou alguém me passou açúcar sem que eu visse, porque dei de cara com uma receptiva legião deles, dos quais o próprio Leon, que me põe a interrogar o espelho a fim de descobrir o que foi que aquele deus viu em mim.
Nesta quinta-feira fui ao shopping com Tella, por obra do acaso, sem o menor planejamento: saí morrendo de fome da academia,ela passou por lá para a gente ir à padaria e a um bistrô, tomar café gelado e acabamos indo ao Mariposas da Ville Gourmet.
Como sou tímida, enfio a minha cara no cardápio, sento de costas para os outros e fico ali entretida com a amiga que estiver à minha frente.
Dois cafés gelados e muitas risadas depois, minha amiga resolveu que queria ir ao shopping comprar um vestido, já num horário limite para fechar tudo lá.
Antes de sairmos ela deixou o número do telefone dela com o garçom devidamente subornado, para entregar a um sujeito sem graça da mesa em frente. Eu, atônita, pulei no garçom para que ele deixasse bem claro que a interessada era Tella e não eu. Imagine: o sujeito usava boné. Odeio boné. Geralmente bonés são usados para encobrir o rosto e a careca. Fora isso,o cara era baixinho... Tella e seu gosto duvidoso - que dizer? ela gosta mesmo de homens velhos, barrigudos, brancos e carecas, que são a réplica do ex-marido.
Eu sou mesmo preocupada em deixar claro meu desinteresse. Que negócio chato é quando a pessoa julga que eu estou a fim quando, na verdade, eu nem quero saber se o cara existe!
Só sei que o garçom gesticulou, apontou, escandalizou e só faltou colocar um banner no carro da gente para mostrar ao candidato de Tella quem era a pessoa interessada nele.
Vexame é pouco, isso é pura vergonha!
Nessas horas eu, que sou tímida, fico com a cara no chão.
Quando chegamos ao shopping, a fim de nos desviarmos de uma horda de chatos, pegamos uma ala dos fundos e fomos conversando, distraidamente, até que o meu radar detector de gatos extraordinários foi acionado e disparou meu alarme interno: pronto! hipnose!
Dei de cara com um gato, tão gato que põe ator de novela das oito no chinelo!
Ah, eu fixei os meus olhos nos olhos dele como não teria coragem nem se me injetassem whisky na veia.
Por incrível que me pareça, ele correspondeu, mas foi tão elegante e cavalheiro que eu fiquei encantada. Deve ter umas cinco encarnações que ninguém me paquera a ponto de dar uma piscadinha, de ser assim cortês, discreto, de chegar perto discretamente também e pedir para que eu voltasse lá, de me chamar para conversar... E eu correndo porque a loja a que iríamos ia fechar; e ele na mesma expectativa, porque precisava pagar as coisas dele.
E como em qualquer romance de acasos,há a presença do chato,do antagonista que vai encetar peripécias e impedir o encontro do mocinho com a mocinha: não deu para voltar e a loja fechou com a gente (Tella e eu lá dentro).
O chato de boné ligou para Tella e eles se encontraram já na rua, após sairmos.
Tem gente que confunde o homem delicado com o homem fresco, afeminado. Eu odeio casca-grossa: fiquei encantada por ele, pelo gato do shopping. Todo homem deveria se portar como um príncipe por mais que os seus objetivos fossem idênticos aos de qualquer cafajeste.
Lindo o sujeito. E mesmo sem ser um príncipe era encantador.

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