Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Para as minhas amigas


Várias vezes eu já disse que se eu pudesse, daria meus cartões, meu dinheiro, minha casa e tudo mais a algum amigo meu de confiança e lhe diria: "Toma! resolve aí a minha vida por mim, que mês que vem eu volto, tá?" e sairia de cena, tiraria férias da minha própria vida.
Ele que decidisse, que resolvesse meus pepinos!
Mas ultimamente eu é que, se pudesse, pegaria a vida das minhas amigas para eu cuidar, resolver e decidir. E quando a gente olha amigos e amigas, sabe quem combina com quem, quem merece quem, enfim, a gente sabe o que seria o correto se a vida fosse assim um troço objetivo e racional.
Dá uma raiva ver uma amiga legal, inteligente, bonita e criativa sendo esnobada por um cafajeste ou delongando uma relação que já acabou, estendendo os sofrimentos no varal junto com as fraldas...
Pior é a gente ver a pobrezinha distorcendo a realidade a seu próprio favor,se enganando, inventando uma vida que não existe, explicando e justificando o sofrimento por que passam...
Domingo eu encontrei pelo MSN uma amiga poderosíssima que coincidentemente viveu as mesmas decepções amorosas que eu. Tudo igual: a situação,o início, o final, o tempo e o lugar. Parecia script!
Ah, quando eu repeti o que eu sempre afirmo acerca dos homens gostarem de fazer a gente de adereço do ego, de instrumento da vaidade deles, poxa, ela acatou para a sua própria realidade isso e mostrou uma mágoa, um hematoma narcísico, que nem após 12 batalhas um guerreiro, um Hércules teria.
Paixão destrói uma mulher.
E quando o sujeito quer tripudiar sobre o cadáver, aí a gente preferia mesmo estar morta!
Tantas vezes essa minha amiga, G., testemunhou as minhas dores e viu, condoída de compaixão, meu esforço para viver...
Até hoje eu me pergunto como foi que eu sobrevivi a quase tres anos (dois anos e sete meses)sem a menor condição de viver.
Ela lia nos meus olhos as lágrimas que estavam ocultas do público, lia as minhas dores, lia aquela tristeza que só quem já amou e perdeu pode entender. E ela entendia perfeitamente bem.
E quando finalmente ela me perguntou por ele, o Ex-grande Amor da Minha Vida, e eu disse: "Esqueci!; além de dizer "Bem feito!", ela se sentiu feliz e aliviada.
Não demorou muito até que a vida dele desmoronasse por completo e ela me colocasse sob suspeita de ter influenciado os deuses da vingança a cravar sua espada no peito do malfeitor - mas, não houve nada: mera coincidência.
Agora, sou eu a maldizer de quem maltratou a minha amiga.
Ela não se recuperou e luto não tem data de validade: muitas noites de pesadelo ainda virão - nas minhas, fiquei com 53 quilos, insônia e uma indisposição para viver, que nem o maior dos deprimidos poderia ter ideia de como era.
Quem vê pensa que é hipérbole, exagero histérico. Experimente amar e perder. Ouse tomar do mel da felicidade plena, absoluta, absurda, divina...Experimente: não dura nada! e quem disse que cair das nuvens não vai quebrar suas costelas?
E como minha analista olhava meu cadáver fraturado e me dizia que eu tinha estrutura, no dia em que passaram as dores eu nem vi, apenas saí andando recobrada, feliz comigo mesma e achando, como é comum quando desconstruimos o amor, que eu deveria estar louca, anestesiada, hipnotizada por ter amado quem eu amei.
Não diminui o valor dele, não: era um sujeito inteligente, competente sexualmente, interessante, cúmplice...mas não na dose e na medida que meu coração pintava.
Minha outra amiga está na Ilha de Lesbos por desespero de causa, não por ser homossexual de maneira verdadeiramente natural; uma outra foi morar numa cabana no interior, largou o emprego e enlouqueceu ainda mais por causa de um maconheiro magrela de terceira categoria que adora descer a mão nela; outra amiga perdeu o bebê que ela encomendou para segurar o marido traidor e M. não oficializa o fim do casamento fracassado com o marido aproveitador e preguiçoso. Estas são minhas amigas e sua sdores. E eu adoro minhas amigas - tivesse eu o antídoto, daria uns 10 litros para cada uma.
Também hoje eu deixei de ir a um certo lugar em que eu sabia que C. estaria. Ele me mandou o convite, claro, impessoal, encaminhado para mim e uns destinatários ocultos.
Não respondi e não fui, apesar de desejar ver o Mia Couto.
Minha tia astróloga até havia me falado que nesta semana estamos ao comando de Leão, que representa a força do ego. Ora, como se eu não soubesse...
Cansei.
Tem outra coisa: os homens não corresponderem aos sentimentos de uma mulher é algo normalíssimo. Nós também sofremos com os insistentes. Mas fazer o jogo idiota de deixar a pessoa em stand by, iludir, ficar em cima do muro ou só se lembrar da pessoa quando a casa cai, aí é demais.
Se você não é amada, aceite. Isso eu diria a qualquer amiga minha: não há receita que faça a pessoa amar a gente se ela já não ama. Seria indigno forçar a barra, subornar emocionalmente o outro, chantagear emocionalmente também.
Contudo, se o caso é outro, eu sei que é difícil desistir do que se quer, mas tome uma atitude, tome um copo de vodka, mude de cidade, corte o cabelo e quebre o vínculo, desate o nó, que a prisão não vale a pena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário