Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Debaixo do pano


Para alguns, a vida em forma de indiretas é mais segura: ninguém assume nada, espera-se por alguém em quem a carapuça caiba. Engraçado é que tem aqueles que aplicam isso aos sentimentos: nada pode ser dito diretamente, as coisas são insinuadas.
Coloquei um namorado imaginário no Orkut por conta de um assédio indesejado: que interessante! chovem perguntas. E para meu desacerto, estou de flerte e sei lá mais o que com Leon, um sujeito lá da academia que eu frequento.
Antes dele, também pelo Orkut, fui assediada por um sujeito que não me interessava nem um pouco e que entendeu minha cortesia e educação com aquiescência, com correspondência às inúteis investidas dele.
Mas, também devido ao burburinho entre os meus amigos, estou dando nome aos bois. E o nome dele é Leon, e não é boi, é muito gato!
Como qualquer pessoa que se deslumbra no caso de encontrar "muita areia para o seu caminhão", fiquei sem acreditar no que houve e, claro, fiquei bem feliz.
Não sou de redes sociais, não quero Facebook, Bundabook, Assbook ou qualquer coisa e se meu Orkut existe é porque sei lá o que me deu naquela época...Assim, pouco visito minha página, mas aconteceu: Fui lá e vi que Leon tinha rastreado minha página, feito a visita.
Deslumbrada, achei ótimo, porque em tempos de laços tão frouxos nos relacionamentos, vivo o Carpe diem das relações sem a menor certeza sobre o dia seguinte. Se ele pesquisou, reforça o indicativo do interesse dele por mim.
Outras vezes, entro no jogo, também vivo a fugacidade de tudo. Mas, quando vou eu, toda feliz ver a página de Leon, descubro que é o outro Leon, de quem eu não tenho notícias a 40 mil anos e que não tem nada que me interesse além da amizade. E ele, por sua vez, acessou minha página por que eu declarei estar namorando.
Isso é bem interessante mesmo e me lembra aquela camiseta que vi no carnaval e que comentei aqui, em que estava escrito: CAMPANHA PELA VIDA: CUIDE DA SUA!
Não é para os meus amigos que estou dizendo isso. É que daquelas 173 pessoas lá, minhas amigas em termos, eu não devo ter 30 como amigas.
Se falo tanto de tráfico de amores, de falsificação de amizades e de contrabando de relacionamentos, é devido ao meu dia-a-dia. Tem gente de bem mais longe que é minha amiga, como esses supostamente próximos nunca serão.
Velhas contradições e antinomias de um mundo que ainda está mal arranjado com suas próprias transformações (tecnologias, relações frágeis, compulsões, superficialidades, virtualidades...) mas, os laços afetivos reais, para mim são atemporais.
Penso em quem eu já gostei como amiga e depois descobri que era uma fera das mais venenosas e cruéis: a gente corta o laço sem dizer nada, mas se sente traído e otário. Coisa terrível é a amizade falsa!especialmente porque degrada, não é mesmo uma boa experiência.
Porém, em termos de Orkut, até que eu não acho que haja uma traição moral, mas uma traição de interpretação: nossos amigos de Orkut são números, como são números os seguidores dos ídolos do Tweeter. Na verdade, amizade não pode ser quantificável. Não desta forma, de um, dois, três milhões...
Meu aluno até brincou comigo, dizendo que se eu quiser ser milionária, que acione os meus amigos, porque quem tem um milhão de amigos pode pedir um real a cada um e de repente, eis um milhão. Mas eu tenho amigos que valem ouro, que valem mais que família, que não tem preço que pague a companhia deles - sim, meus amigos, eu amo vocês.
Não desprezo os contatos: no Orkut a gente encontra quem não vê há tempos, deixa e manda recados e se alguém se pronuncia, se envia convite, parte das vezes é porque quer o contato e parte das vezes é porque está com vergonha de não ter um número significativos de amigos em sua página inicial. Entre uns e outros, aqueles que bisbilhotam porque querem reunir informações a nosso respeito e os que querem nos dar uns amassos.
Não dou importância a certas coisas da intimidade, porque acho que sei diferenciar e estabelecer o limite de minha privacidade e, depois, vivendo num país machista, sempre me lembro que não casei nem sou casada, não tenho filhos nem os terei, pago meus impostos, estudo, não roubo, não transo com mulheres,não sou pedófila, necrófila, zoófila,não mato, não uso drogas, não bebo álcool nem danço pagode e isso me faz pensar que não devo nada a ninguém, satisfações a ninguém.
Não há nada debaixo do pano, nem esqueletos no meu armário. Ah, e por falar em armários, não esqueçam da Parada Gay de Feira de Santana, neste domingo, viu? vá apoie, proteste, brinque, conscientize, colabore, deixe o conforto do seu armário e como eu disse ano passado, saia do armário e entre na avenida. Não precisa ser gay para defender um tratamento respeitoso para eles.
Voltemos à programação normal:
Ou eu deveria fazer plantão, sozinha, esperando que alguma coisa mude, até que minha relação com C. desse certo? espero que o critério não seja ser fiel ao que eu sinto, porque aí terei sérios problemas morais a resolver. Ora, eu não abraço quem eu não gosto, não há mentiras nem promiscuidade em ficar com quem eu desejo, porque não traio ninguém. Olha a indireta de que eu gosto de C.! Pois é, eu gosto, mas não temos nada um com o outro. Deixa o pavão dar seu show, ele gosta do espetáculo.
Não tenho o que esconder nem do que me envergonhar. Mas que o povo se assanha todo em busca de uma boa fofoca, ah, isso sim!
Também tenho curiosidades, claro! mas que é engraçado lançar o namorado imaginário na rede, é: fica o povo fuçando meus álbuns para ver a cara do sujeito. Nem precisa isso, porque agora foi que percebi que Leon segue o mesmo padrão dos demais que eu namoro - juro que foi inconsciente! tanto assim que foi ele que veio, que propôs o flerte - então,seguindo o padrão ele é branquinho, alto, de cabelinho preto, liso e espetadinho. Dizem que quem vê um namorado meu, vê todos (mentira isso: o Magnífico Senhor, por exemplo, não é exatamente assim).
Para mim, tudo é acaso; para os meus amigos, escolhas e repetições. Tanto faz: o menino é lindo e me fez feliz. E se continuar fazendo, será um bom motivo para compensar esse frio chato de um inverno que não passa.
E para não terminar essa pauta de forma mal humorada, cito um trecho da música de Margareth Menezes,Saudação ao caboclo:
Na minha aldeia
São vinte cavaleiros
Comigo são vinte e um
Lá vivemos felizes
Lá não se vive de "zum-zum-zum"
Não é como nesse planeta
Que juntam dois para falar de um.

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