Louquética

Incontinência verbal

domingo, 14 de agosto de 2011

Devagar a divagar


Para aqueles que acreditam que há males que vêm para o bem, digo que bem pior é quando o bem chega fora de hora, na hora errada.
É que as pessoas que são neuróticas como eu sempre se preparam para o período dos terremotos, dos furacões, das maremotos, da hibernação. E se eu sei que as coisas serão assim, lá vou eu planejar.
Acontece que há planos que são a longo prazo. No momento, por exemplo, ou alguma coisa acontece nas próximas duas semanas (o que é improvável) ou, meu Deus, que esta coisa boa não aconteça pelo menos até junho do ano que vem. Se ocorrer fora desses prazos, o bem se transformará num mal para o qual cem anos de lágrimas de frustração e dor não serão suficientes para expurgar a perda.
Todo dia eu penso nisso, desde junho deste ano.
E se declinei de ir à festa ontem,nem por isso deixei de ficar toda quebrada, desfigurada de sono, indisposta, cansada, confusa, com dor de cabeça...porque passou a TPM, dando lugar à cólica e a uma indisposição de múmia...quase que me sinto assim uma prateleira, um armário de parede, qualquer coisa grudada e imóvel. Fico sem força e sonolenta até quando não há sono.
Acabei de pegar um pretexto gentilmente cedido em favor da minha indisposição: foi involuntário, mas acabou caindo como uma luva com os meus propósitos, porque recebi uma mensagem que se aproximava daquela frase clássica de sei lá quem (Millôr Fernandes?): "Nunca deixe para amanhã aquilo que você pode fazer depois de amanhã".
E menos por preguiça do que por indisposição, vou deixar para depois de amanhã o que eu deveria ter feito hoje e agradecer à Nossa Senhora dos Pretextos, que há de cuidar de mim, afinal eu nem sou disso.
E então me lembrei de Tatiana me convencendo a fazer a coisa certa há uns meses e citando o Eclesistes:
" Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.
2- Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3 - tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar;
4 - tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5 - tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar;
6 - tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora;
7 - tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
8 - tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz."
Pois é, preciso que as coisas aconteçam no tempo certo porque, para todas as outras oportunidades em que puderem acontecer, há risco de multas.
Mas, deixa eu recolher essa minha ignorância preguiçosa daqui, porque eu já estou tão devagar e mais vagaroso vai meu parco raciocínio.
E para citar, mais uma vez o Millôr Fernandes, que diz que "Devagar se chega ao longe, mas não se encontra mais ninguém", parafraseio o brilhante escritor e digo que "Devagar se chega ao longe, mas muito atrasado."

Nenhum comentário:

Postar um comentário