Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Cansada de guerra


Para completar o nosso horário de verão desta primavera, o céu se fechou em águas desde à tarde de ontem. Hoje, como não era de se esperar, o dia se manteve chuvoso. Nada deixa meu dia mais sem graça do que a chuva, mas, não sei como, voltei a ver graça no dia e na vida hoje... minha desconfiança é reincidente: será que tem alguma endorfina no cappuccino que eu tomo? tem alguma coisa errada aí.
Também tenho que admitir: tendo sido atendida, por telefone, por vários funcionários negligentes ou mal humorados, finalmente um ser humano bem humano entrou em comunicação comigo, numa solicitude ímpar e destoante do que costumam ser os funcionários públicos.
Ela, a funcionária pública, para ressaltarmos o gênero, tinha todas as chaves, de todas as portas e não se furtou a abrir cada uma para mim, numa atitude de deferência e confiança em minha idoneidade que mais reforçou minha responsabilidade em corresponder ao que me foi concedido. Com isso, resolvi tudo que eu tinha por resolver, numa parte da UFBA em que eu nunca havia ido.
Depois disso, ainda sob chuva, esbarrei nas pessoas certas, falei com quem eu não via há tempos e até com quem eu não mantinha contato há uns 12 anos: Meu professor de Didática.
Não imaginem um professor de Didática: imaginem um bonito, alto, elegante e interessante professor de Didática, a quem os anos não fizeram mais do que reforçar todas essas qualidades...encontro excelente para um dia de chuva.
Meu orientador não pegou no meu pé com meu texto, eu não vi as pessoas que eu detesto, as pessoas que eu detesto não me viram, encontrei outro grande amigo meu e voltei em paz para casa.
Aí, zappeando por aí, encontrei esta imagem de um combatente líbio tocando violão ou é viola, no meio do tiroteio. A identificação foi imediata: minha vida está meio bombardeada e eu estou vendo graça na vida...vê se pode? eu, que nem sou otimista, nem tenho essas distorções da realidadede a ponto de achar que há males que vêm para o bem...
Talvez seja a noção de que tudo passa, mesmo que demore para passar... ou talvez seja que eu estou mega-convencida por ter rompidos certas convenções, me sentindo corajosa...
Bem, eu preciso admitir: eu me sinto orgulhosa de mim mesma por ter chutado o balde, ter perdido uma série de coisas que me eram vitais, ter feito apostas com cheques sem fundos, mas não ter me acomodado.
Joguei meus planos pela janela e minha vida foi por água abaixo... já dei meus gritinhos de desespero (ah, vou admitir: gritinhos mais histéricos do que das fãs do Restart ou do Justin Bibier...), já me descabelei e já tomei providências para sair do fundo do poço mesmo que seja escalando as paredes com as unhas e, claro, o negócio está difícil, mas foram tantos os ganhos subjetivos!
Tenho que admitir esse pequeno fio idiota de felicidade que acompanhou meus desesperos. Acho que todos os preços cobrados até então foram pouco em relação aos ganhos obtidos. Na mais profunda verdade interior, digo a mim mesma: "Valeu!", redescobrindo a máxima de Nietzsche segundo a qual, "o que não me destrói, me fortalece".
E como costuma me ocorrer, não lembro mais o que foi que me fez lembrar de um dito popular, mas fiquei pensando que se "A voz do povo é a voz de Deus", faz tempo que Deus está mudo, porque o povo não tem voz mesmo...
Deve ser que eu intui essa loucura lendo coisas por aí, ou ficando consternada com a inércia do brasileiro ante a corrupção, sei lá o que foi... o importante é que eu não seja inerte.
Bem, foi um ótimo dia de chuva.
E como andei ouvindo muito o Ney Matogrosso nesses últimos dias, vou repetir a letra de uma música que eu adoro e que tem tudo a ver com as coisas que eu fiz, exceto que eu não "jurei mentiras".

Jurei mentiras
E sigo sozinho
Assumo os pecados

E os ventos do norte
Não movem moinhos
E o que me resta
É só um gemido
Minha vida, meus mortos,
Meus caminhos tortos,
Meu Sangue Latino
Minh'alma cativa.

Rompi tratados,
Traí os ritos;
Quebrei a lança,
Lancei no espaço
Um grito, um desabafo.

E o que me importa
É não estar vencido
Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos
Meu Sangue Latino
Minh'alma cativa
(Sangue latino - Ney Matogrosso)

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