Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O encontro e o desencanto


Encontrei no shopping, ontem, um amigo que eu não via há tempos.
Como uma criança de quarta série que escreve lá no seu caderno que " a amizade verdadeira a mentira não destrói, a distância não separa e o tempo não apaga", lá fui eu falar com ele que, por sua vez, estava com um amigo e duas crianças, dois meninos: ganhei um receptivo abraço e um daqueles cumprimentos comuns a quem tem histórico de amizade longa e verdadeira, correspondente a tudo aquilo que as crianças da quarta série de outrora escreviam em seus cadernos.
Eu estava acompanhada e meu "ficante" não gostou nada da efusividade do encontro. Por conta de estar de coadjuvante, lá foi meu amigo D. se desculpar com o meu ficante. Tudo bem, tudo entendido e o mau humor do outro não era mais do que responsabilidade do pouco sono da noite anterior e de nosso percurso pela fantástica caixa de vidro e concreto que é o shopping.
E mal meu acompanhante se sentou, lá veio o meu desencanto: depois de carinhos e conversas, meu amigo D. realmente esqueceu que éramos amigos e, tendo pedido meu telefone, deixou bem claro que queria vir à minha casa, mas não como amigo.
A gente estudou juntos na UEFS: ele em Economia, eu em História, cursos que tinham muitas matérias em comum.
Já viajamos juntos várias vezes. Ele namorou Carla, minha amiga unha-e-carne. Ele namorou Luana e muitas amigas minhas e, mesmo Cléo forçando a barra numa conversa comigo uma vez, eu reforcei que ele sempre foi meu amigo, que eu não tenho a menor intenção de outra coisa que não seja a amizade com ele (maldade dela, não dele, neste caso). Olha, amizade de mais de uma década...
Não sei de onde tiram isso de querer dar uns pegas nos amigos, mas, para mim, amigos não são artigos de consumo, não entram na cadeia alimentar do sexo...
Sei que me acostumei demais a ter amigos gays - daí que quase entro pelo cano por estar à vontade com um amigo dos meus amigos gays, achando que o menino era da confraria. Tenho notado que os amigos dos meus amigos gays se fingem de gays para passar a mão na gente, para olhar lances de saias, calcinhas e biquínes...que estratégia! E como há poucos heterossexuais, a gente realmente cai na armadilha. Todavia,respeito meus amigos heterossexuais. Se entrou na categoria de amigo, não tem jeito que dê jeito para mudar.
E de tanto falar o que todo mundo já sabe, isto é, que "família é aquela que o coração escolhe", quando D. insistiu na conversa besta de me passar a cantada, eu abracei o miserável e lhe disse ao ouvido: "Eu sou sua irmã. Você está louco?".
A pessoa passa dois anos sem me ver, se enfia pelo Rio de Janeiro, e quando me encontra não lembra que somos amigos. Fiquei decepcionada!
Odeio este povo machista que diz que entre homem e mulher não pode haver amizade. Claro que pode, claro que há.
Sei que eu voltei triste desse encontro, após ter ficado feliz com o acaso...
Tanta coisa boa na nossa amizade, naquele contato, naquele encontro, e D., a última coisa que ele me disse foi: "espera aí para eu olhar para as suas pernas mais um pouco!"
São as pernas de sempre, da pessoa de sempre, da amiga de sempre... O que será que mudou dentro dele? Não há nenhuma graça nisso. Ao contrário da lisonja normal que a gente experimenta com um elogio de um amigo, eu senti repulsa e decepção, um desencanto...
Tem gente louca, dessas que entram na lógica do "antes mal acompanhado do que só". Esta não sou eu. As minhas loucuras são outras. Estas aí, do desespero de causa, são degradantes, não curam a dor, não preenchem, não completam, não resolvem... Será que ele está só e desesperado? será que trocaria uma amizade sólida por uma pegação vazia e fugaz? será que ele não me reconheceu como amiga porque não me fiz reconhecer, tendo mudado alguma coisa ao longo destes dois anos? não vou saber nunca, mas meus amigos saberão que amigos, para mim, são sempre e somente amigos.

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