Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Ele é o cara!


Ontem eu estava assistindo às declarações de Jean Wyllys, no Conexões Urbanas, no canal Multishow,e aquele modo como ele falou acerca dos homossexuais muito me comoveu, no sentido de sua afirmação que aproximadamente seria algo como ‘Passar da vergonha ao orgulho é um processo incrível, individual, necessário”.
Poxa, o sujeito, o Jean Wyllys pode agradecer aos Céus, aos orixás e a quem quer que seja no plano simbólico, porque ele, sim é uma pessoa especial, abençoada, sortuda, competente, inteligente.
O normal de um Bigbrother é a futilidade e o oportunismo, além de lances moralmente duvidosos para se manter na mídia. Jean, sendo ex-Bigbrother, pegou seu milhão, desapareceu e depois usou sua fama para adentrar ao mundo político (Deputado Federal pelo PSOL) e ser útil ao próximo, na luta pelos direitos das minorias em geral, e dos homossexuais e negros em especial, além de defender o povo de santo, ou seja, os adeptos das religiões de matrizes africanas.
Os homossexuais do sexo masculino, então, majoritariamente vítimas de violência e de discriminação, muito tem a aprender acerca de “passar da vergonha ao orgulho”, algo muito bem explicado por Jean, que argumentava sobre a vergonha que os homossexuais sentem por serem homossexuais e de todos os entraves e cerceamentos por que eles passam.
Claro, já falei e repito: tem homossexual ladrão, mau caráter, mal educado, burro, feio, violento, calhorda... assim como há os que são inteligentes, bonitos, honestos,agradáveis, conscientes, competentes - porque são seres humanos e têm defeitos e qualidades como quaisquer outros seres humanos.
Como mulher heterossexual que sou, quero que haja muito heterossexual, óbvio, para eu pegar, não é? Mas isso é outro plano, é outra coisa, nada que me impeça de apoiar todas as ações que resguardem os direitos deles, que não são menos gente do que qualquer um de nós, heterossexuais.
Aí pensei que, com ou sem fama, tem gente cuja existência, realmente, é especial.
Jean Wyllys poderia estar confortavelmente multiplicando o seu milhão e fazendo a média por aí, a média com a mídia e o lobby nosso de cada dia. Mas, não, o cara quer para os outros o mesmo bem que veio para si.
Tem um grande amigo meu, que nem é meu amigo, isto é, eu ressalto que a recíproca não é verdadeira, ex-colega de trabalho, H., que é assim. E na defesa do doutorado dele, em que eu nem estava, perguntaram: “H., qual é a sua utopia?” e ele disse: “Que esse momento aqui não seja exceção e que muitos negros possam ser doutores.” E esse sujeito, por quem tenho a mais alta estima, também desejou e agiu, ao seu modo, cedendo um livro, dando incentivo, a mim e a outros colegas de trabalho para que fôssemos cursar o doutorado. Filho de Xangô maravilhoso ele. Está ali outra existência que se justifica – com seus respeitáveis defeitos, com seus inevitáveis equívocos, com seu bem e o seu mal que perfazem qualquer alma humana.
Interessante isso, que só vejo em alguns adeptos do Espiritismo, por sinal, quando eles explicam que a noção de Céu e de Inferno cristãos (seja católico ou crente evangélico) é egoísta: não se pode ser feliz no Céu contemplando os semelhantes queridos no Inferno. Então, a idéia de Deus é democrática, acessível, inteligível e baseada em leis de causa, efeito e responsabilidade moral. Povo inteligente é isso mesmo: joga luz na problemática, sem medo de discutir e de ouvir argumentos.
Assim é o meu amigo H., que é da Umbanda: não quer o Céu só para ele, não quer ser exceção nem ser o privilegiado.
Acho que algumas coisas, realmente vêm de dentro. A educação política só reforça a percepção.
Também nosso humor, nossa compleição interior para encarar a vida, se é genética, eu não sei, mas vem de dentro.
Quando digo do meu mau momento, dizer que é mau ainda é pouco. Porém, como eu já disse: lastimo, blasfemo, me irrito, fico irada, triste, infeliz, cabisbaixa... mas não consigo encarnar o mau humor.
Acho que isso é predisposição. Minhas amigas já passaram por coisas equivalentes àquelas por que eu passo: umas tentaram o suicídio e outras só dormem com Rivotril; e todas lastimam a Depressão. Acho que elas acreditam comodamente em depressão, porque é duro mesmo encarar as angústias e saber que elas vão estar conosco a vida inteira.
É um sentimento de impotência num dia, indignação no outro, perplexidade depois, desesperos muitos, frustrações incontáveis e não faltam motivos para a gente se ferrar nesta vida.
Amor, sorte, amparo, boas amizades, família equilibrada: tudo isso é artigo de luxo e sorte para poucos. Eu sei disso. Eu tenho consciência disso. E sonho. Claro que eu sonho, claro que eu desejo, claro que eu projeto e sou teimosa em ser feliz: não é artificial e forçosamente, não. E acho, inclusive, que as pessoas que têm essa existência especial (onde eu não me enquadro, óbvio) tipo o Jean Wyllys, tipo o meu amigo H., que vieram à vida na primeira classe, muito ensinam à gente, ensinam sobre a vida e ensinam sobre ser gente, com muito orgulho, com o bom orgulho que acompanha aos suficientemente corajosos para encarar a vida.

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