Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tendências da Economia


Faz um bom tempo que os profetas do apocalipse econômico anunciam o fim do Capitalismo. E como o fim não está próximo, o fim será próspero.
Podem dizer o que for, mas o Capitalismo sempre se reinventa – tanto faz se você chama de Capitalismo Liberal, Mercantil ou por outro nome qualquer – eis um modelo econômico que chegou para ficar e não é difícil entender por quê, frente ao que as sociedades têm em comum e que todos aprendem a incorporar coletivamente: competição, lucro, concorrência, consumo...isso mexe com a neurose básica do ser humano, que é a insatisfação.
Por mais que tenhamos 100 pares de sapatos, queremos o centésimo primeiro, queremos sempre mais; um carro basta mudar de faróis na versão de um ano para o outro para que queiramos trocar. Aliás, basta inventar a idéia de “carro do ano!” para que a gente acredite nisso. Vejam: um bem durável que envelhece a cada 12 meses.
Tratamos o mercado como um ser vivo: o mercado está nervoso; o mercado está pessimista; a bolsa abriu em queda e os mercados estão cautelosos...
Também, vem agora o caso particular da minha cidade, Feira de Santana: o Capitalismo, é claro,nesta coisa de se reinventar, mostra que todo mundo quer estar inserido nele. Seja como for. Então, ouve-se muito dizer acerca do Feiraguai (aglutinação de Feira+Paraguai, porque este país nosso vizinho, após ser depauperado por nós,os brasileiros e suas guerras ridículas - oh, inocente, a Guerra do Paraguai quem fez foi o Brasil, lembra? - se refugiou no mercado dos contrabandos).
É a nossa versão da 25 de março paulistana; é o Saara carioca local, em que tem de tudo. E acima de tudo, o Feiraguai vive de pirataria de entretenimentos e de eletrônicos.
Devemos reconhecer que o Capitalismo gerou um exército de desempregados, mas não de desocupados: quem não está no tráfico nem nas atividades correlatas de roubos e estelionatos, está ocupado.
Ocupação é diferente de profissão.
Estar ocupado é ser camelô, é ser baleiro, é ser ambulante, é ser diarista, é inventar coisas para vender e para fazer em troca de algum dinheiro.
À parte essas coisas, o que eu achei interessante foi que ontem eu fiz a primeira visita a uma banca de pirata Cult.
Eu já havia ouvido falar, por Manoela, previamente recomendada por um professor de renome, que lá pela UNIJORGE tinha um sujeito que vendia umas jóias Cult pirateadas: DVDs incríveis de clássicos, antologias, mil materiais úteis ao ofício do professor e para usufruto cultural geral.
Meu amigo Chuck, que me apareceu aqui com um Hitchcock fantástico, tinha me dito: na Barraca do Índio você encontra tudo. E se não encontrar, o índio manda trazer rapidinho.
Finalmente fui à Barraca do Índio. Meu acompanhante se deslumbrou com uns filmes da década de 30 e eu me refestelei com “Il Decameron” de Pier Paolo Pasolini, com o duplo de O povo brasileiro e tantas outras coisas que nem caberia enumerar aqui.
O índio não estava na tribo quando eu cheguei lá, perto de fechar. Mas, a assistente do índio, me vendo pegar O retrato de Dorian Gray, me perguntou:
- “Você é professora?”
E frente à minha confirmação, disse:
- “A maioria dos nossos clientes é professor”.
Só faltou completar: “...de Literatura”.
Incrível existir esta pirataria especializada. Todo mundo que vende DVD pirata vive de Sherek e outras bobagens Hollywoodianas. Esses caras, não: exploram outro filão, outro público igualmente sedento por audiovisuais... Vou voltar lá porque adoro Stanley Kubrick, todo mundo sabe disso (embora Laranja Mecânica seja um filme dificílimo, sentimentalmente, de ver, e eu ainda vejo bastante beleza em De olhos bem fechados, o último deste diretor que, infelizmente, já foi para o além) e recomendo a quem quer que seja, que vá lá e procure o que quer: fica na Avenida Senhor dos Passos e eu só não vou dar mais detalhes porque tenho medo de que a Polícia Federal apareça por lá para moralizar e o Rapa tire o pão do trabalhador do mercado informal, que na verdade, é só um ocupado; e atinja a classe que tem títulos mas não tem dinheiro: a minha.

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