Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Causas e casas


Não sou dessas pessoas bobamente otimistas que dizem que há males que vêm para o bem. Pelo contrário, há coisas boas que deságuam em tragédias e fazem com que, contraditoriamente,as coisas boas venham para o mal.
No caso mais simples, é como se de repente você estivesse bem, obtivesse pequenas conquistas e visse que despertou a inveja furiosa de alguém.
Mas, também, não sou muito de ficar parada reclamando. Reclamo e me mexo, reafirmando que "Os incomodados são os que MUDAM".
Sei, também, me retirar quando a festa começa a ficar ruim: não me apego a nada, especialmente a empregos, lugares e situações. Se algo me prende é, de fato, a minha casa.
Agora, que pelo jeito precisarei pensar e seriamente planejar uma ausência prolongada de minha casa - tudo bem, ainda tenho bastante tempo - encaro tudo como um misto de sonho e pesadelo.
Lembrei do que eu disse, em Campinas, a Allan, quando ele me perguntou se eu morava sozinha e por que. Eu, então, disse, sem a menor filosofia: "Todo bicho tem que ter a sua toca".
Eu não ligo para aquela solidão mais geral, de não ter a quem recorrer, nem um ombro para o meu consolo, nem um chá num momento de febre. Eu ligo, sim, para minha casa. Esta é a minha casa e dela faz parte o meu idoso, mas jovial e saudável, cachorro Bruno.
Sim, eu já namorei um sujeito chamado Bruno, ano passado. Mas resolvi fazer a ressalva para que não pensem que estou fazendo trocadilhos. Sinto saudades do meu cachorro onde quer que eu vá e tenho medo de não aproveitar a presença dele em minha vida.
Uma amiga minha, que muito me ajudou no começo de minha carreira profissional, Landa, dizia que estar longe de casa - ela que arrastou a família nuclear toda consigo onde foi - era uma perda. Nós ganhávamos dinheiro, embora nem tanto, mas perdíamos muito.
E ela falava da irmã, também minha amiga: "Certa está M., que vive com o que basta, mas está ali, ao lado do que realmente vale, que são os meus pais. Mara, um dia eles morrem. E eu? eu não vou ter aproveitado a vida ao lado deles, eu não vou ter aproveitado a existência deles, eu vou ter perdido demais."
A geopolítica de nossa carreira já tinha ido longe demais e a dela e a minha ainda iriam nos pregar boas peças - ela, trabalhando a 16 horas de casa; eu, a 10 horas de minha toca.
O bom é que o tempo passa e a gente passa a ter mais escolhas.
O que para muitos é uma oportunidade tem também o seu lado de sacrifícios e perdas.
Também estou há dois dias tentando falar com Jean-Paul, que foi justamente vender a alma ao mesmo capeta para o qual minha citada amiga e eu já vendemos (sorte foi que pagamos a hipoteca). E o Capeta lá pede Dedicação Exclusiva.
Como as contas falam mais alto nesses momentos - e imagino a dor que ele deve sentir por estar longe do filho para ganhar o pão e construir a porcaria da carreira no nível superior - faz-se a negociata. E esses lugares sempre nos levam mais do que simplesmente a alma.
Penso, contudo, que todos nós temos capacidade de adaptação.
Penso, ainda, que chega um ponto em que somos um pouquinho mais orgulhosos e sabemos fazer exclusões - e assim foi, no ano passado, quando eu me inscrevi num concurso, poderia resolver a pendência da inscrição (simplesmente um cabeçalho), mas vi que eu nunca seria feliz ali, naquela cidade, no verdadeiro "vale da sombra da morte", porque é confinada num vale entre despenhadeiros, porque eu abomino aqueles entorno - previamente, um ano antes, escrevi sobre ela, para que não pareça indireta para terceiros.
Recentemente também recusei uma oferta: não quero ir para lugares que definitivamente eu não gosto. Já me basta o sacrifício de viver durante alguns dias fora de minha toca ( o que realmente me toca).
Aí ando tão ocupada quanto antes, sem a menor condição de dar atenção aos desesperos pessoais dos meus amigos bons e daqueles outros, os oportunistas e egoístas, que funcionalmente me procuram.
Prezados amigos: no momento encontro-me fora de área e temporariamente desligada. Após o sinal, deixem as suas mensagens.

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