Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 5 de julho de 2011

Na minha pele


Eu tirei esta foto em Guarajuba, em março do ano passado.
A esta altura a dermatologista já havia me dito bem claramente, com o seu melhor humor: “Praia? Você na praia? Só se for de burca!”
Eu, que não consigo renunciar ao sol, vou à praia, teimosa que sou, coloco meu protetor fator 60 e volto para casa feliz com a marquinha de biquíne.
Penso que os deuses protegem a pele dos afrodescendentes (dos quais, eu e minha pele) como compensação pelo sofrimento e torturas sofridas na pele dos meus antepassados. Tudo ilusão!
No dia seguinte, meus braços se enchem de manchas brancas, meu colo fica vermelho e meu rosto é uma profusão de manchas escuras...
Há uns lugares comuns que, sinceramente, me fazem rir. Um deles é a expressão “uma coisa de pele” que as pessoas falam quando querem dizer que tiveram uma sintonia corporal, uma atração física fora do comum por alguém. Se alguém me diz que entre nós rolou “uma coisa de pele”, penso logo em micoses. E se eu puder, ah, eu rio!
Mais pesadamente dizem “sentir na própria pele”, outro grande clichê que me deixa meio à beira do riso. Ouvi muito isso dos poetas que me iludiram. Mas aí vai: estou aqui com quatro curativos por conta de coisas que senti na pele literalmente, ao retirar quatro sinais na dermatologista, hoje de manhã.
Eu não quis desperdiçar a oportunidade de brincar com ela e aproveitei para dizer, após minhas piores interjeições (ais e uis saem como um uivo, mas mentalmente creio que digo palavrões assombrosos): “Deixo uma parte de mim nesta clínica!”. E ela, rindo, inventou de me mostrar o maior dos meus sinais, já retirado.
Está aí uma curiosidade que eu não tenho: não gosto de ver cortes, feridas, cartilagens, ossaturas, cadáveres e afins. Minha experiência no IML foi horrível, em termos existenciais: fiquei imaginando a vida pregressa de todos os três cadáveres de que assisti à autópsia e sai com um peso horrível na alma.
Há pouco mais de quinze dias, saímos em turma para Salvador, para fazer não sei o quê lá no Shopping Salvador. Respondo por mim que fui passear, procurar livros, me empanturrar de café gelado e lembrar que ali eu passeei com o energúmeno 01, em 2009 – não sem motivos eu participo ativamente da comunidade do Orkut cujo nome é “Eu já amei um idiota”. Por questões de honestidade, eu deveria admitir que ao amar um idiota, mais idiota fui eu... e parece que a idiotice perdurou até hoje.
Os meus outros três companheiros de aventura foram ver aquela exposição chamada “O corpo humano”, pagaram para isso e já tinham ido lá três dias antes, sem êxito, porque chegaram perto do horário limite.
Ah, eu bati o pé que não entraria. Não fui e não iria... Olhar cadáveres e partes do corpo conservadas num sistema cujo nome é algo perto de plastificação... Grande coisa!
Eles saíram com uma conversa esquisita de que não comeriam galinha, que eu nem falasse em galinha. Mas só recentemente admitiram o mal-estar de ver cadáveres.
Então, não gosto disso e não trabalho para o CSI Miami.
Mas, voltando ao assunto, minha questão de pele era, para mim, interessante, porque eu me queixava de que tudo em mim ficava roxo, mediante qualquer pancada. Se cruzo as pernas, ao descruzar ficam marcas vermelhas da própria pressão de uma perna sobre a outra; tudo dói intensamente em mim, tenho a pele fina ( nada resistente ao sol, morro de frio com facilidade) e com facilidade minhas extremidades congelam e à menor pancada, é uma dor estridente.
Então, coitada da dermatologista, que está há mais de um ano me ajudando a “salvar minha pele”: somente agora ela pode dar nome aos bois e claramente diagnosticar meu dermografismo. Sim, é o que parece: a pele é tão sensível que você pode escrever sobre ela com qualquer material, com a ponta das unhas, com qualquer objeto que não tenha tinta, porque aí já seria pichação – kkk!!.
Agora eu sei o quê e por quê sinto em minha própria pele. Tem um fundo emocional nesse negócio, também – não vão pensar que eu sou como a neurótica interpretada pela Natalie Portman no Cisne Negro: é outra coisa, é da predisposição emocional o que eu falo.
Eu gosto tanto do sol, de praia principalmente – e ando com uma bruta saudade de um bom dia de verão quente como deve ser.
E enquanto não vem o sol, fico aqui, hibernando na escrita, antes que minha orientadora me arranque o couro.

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