Louquética

Incontinência verbal

domingo, 31 de julho de 2011

Momentos decisivos


Tomar decisões sempre levanta nossas suspeitas acerca do que estamos perdendo, do que poderá acontecer, sobre que preços pagaremos, do que iremos ganhar... eu preferia tomar um copo de conhaque a ter que tomar umas decisões mais sérias, mas já que eu não bebo mesmo, foi a seco e sobriamente que me decidi.
Acho terrível quem esfrega na cara dos outros alguma decisão, mas volta atrás em poucos minutos. Por isso cozinho um pouco tudo que tenho a decidir – claro, também lamento que optar por um é perder o outro. Mas, está feito e eu não estava me referindo a relacionamentos, não.
E por falar em relacionamento, estavam me perguntando uma dessas verdades construídas pela banalidade, mas que nem por isso são menos valiosas, e assim enunciaram diante desta minha cara de louca: “Se as coisas são feitas para serem usadas e as pessoas para serem amadas, por que será que amamos as coisas e usamos as pessoas?”.
Não economizei na objetividade e respondi: “Por que somos vaidosos e escrotos!”
Para quê eu iria procurar filosofia se a resposta mais crua e grossa era também a mais verdadeira?
Todo dia eu estou aqui falando naqueles que usam os outros como instrumentos de sua vaidade, como adereço para o seu ego, criando correntes de dependência emocional, lançando suas chantagens, oferecendo suas preciosas migalhas, deixando as pessoas em stand by, fazendo o jogo da vaidade...ainda não entendi porque não se pode falar sobre coisas que todo mundo sabe que existe.
Também hoje à tarde Tati me informou da decisão dela: para mim, uma pena! É que havíamos combinado fazer um concurso juntas. Ela estava desanimada – e eu, então, não quero conta com o concurso em termos reais – mas eu fiquei incentivando porque acredito que é bom ter opção.
À medida que você é aprovado, eis uma alternativa. Depois de aprovado em alguns concursos, podemos fazer escolhas e não estarmos na posição de reféns.
Mas é extremamente desgastante um concurso no Magistério Superior: na inscrição tem que ter currículo pronto e atualizado, com a comprovação de todas as xérox de certificados e etc. devidamente autenticados, na ordem determinada pela "X " instituição, além de memorial e do pagamento de taxas absurdas, em torno dos 150 reais.
Aí vêm as provas: prova escrita chatésima; aula pública cansativa; defesa de memorial enfadonha e muita, muita paciência para vencer cada uma dessas etapas ao longo de uma semana de mergulho nessa rotina.
O concurso que eu quero, no lugar em que eu quero, na disciplina em que eu quero,eu já passei. Mas quem faz concurso sabe que não tem a mínima garantia: friso bem a parte dos editais que dizem que a aprovação no concurso gera apenas a expectativa de preenchimento da vaga.
Pior é na convocação: mil exames, mil comprovantes – dos quais estar em dia com o erário público – mil documentos, mil exigências e muita, muita espera porque aí são outras etapas: homologação dos resultados; publicação no Diário Oficial da União; Convocação, nomeação e posse. Quem não se desgastaria? Por isso Tati me disse: “Não! Não vou. Sinto muito!”.
Como nem sempre faço o que eu quero, mas o que eu preciso, sublimei o meu querer.
E quanto à tese, escrevi dois parágrafos no final desta tarde e me dou por muito feliz: cheguei em casa às cinco da manhã, após meu último dia de aula na UNEB, dormi pouco porque a igreja de crentes que fica no fundo de minha casa estava em ensaio da banda; comi sem apetite, apesar do almoço estar delicioso e fiquei num infinito blábláblá ao telefone com a minha amiga Tati, por um bom tempo. Diante disso tudo, eu nem esperava ter raciocínio para nada, muito menos para escrever.
Remoí as minhas decisões – elas, que não têm nada de novo, mas eu esperava de mim mesma uma outra opinião, uma mudança, sei lá... mas, sim, confirmei hoje a decisão de dois anos atrás – e acho que vou ficar ruminando o preço a pagar, ou melhor, o que deixarei de ganhar... de fato, não perco. Perdida eu estaria se não soubesse que rumo tomar nas tantas estradas que se bifurcam à minha frente.

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