Louquética

Incontinência verbal

domingo, 24 de julho de 2011

Vida, doce mistério


Às vezes nos surpreendemos com as mudanças dos nosso amigos: me surpreende que o namoro de Léo tenha dado tão certo quando ele manifestava tanta insegurança, incerteza e apego à relação fracassada com a ex. Hoje ele está bem diferente, mais confiante, mais disposto à vida.
Engraçado isso: a vida pede disposição.
Sempre que Cazuza cantava o Blues da piedade, dizendo: " Agora eu vou cantar para os miseráveis,que vagam pelo mundo derrotados/Para essas sementes mal plantadas que já nascem com cara de abortadas..." eu pensava nas pessoas indispostas para a vida.
Pessoalmente eu acho a vida um sacrifício. Tanto é assim que eu não tenho o menor interesse numa outra vida, nem em Eternidade.
Mas eu sei que a vida é sacrifício e o que eu posso fazer é desafiar essa "predestinação ".
Então sabemos que haverá sacrifício, sofrimento, perdas e angústias. Não há como evitar que aconteçam, mas há como diminuir sua duração.
É imprescindível ter disposição para a vida.
Então Léo era só angústia.
E era dependente de M. Muito dependente emocionalmente.
Meu raríssimo amigo, minha jóia singular (porque ser bonito, inteligente, solidário, companheiro, sensível, interessante e criativo, tudo isso de uma só vez, não é para qualquer homem) não tinha lá muita noção de seus predicados.
Conversamos rapidamente num dia desses e eu vi o meu amigo feliz. Acho que eu nunca tinha visto este meu amigo feliz. Nunca. Nem quando a gente se conheceu numa festa lá no Rio Vermelho, nos idos do ano 2000.
talvez nem ele achasse a felicidade possível. Eis agora a felicidade e o humano medo de que ela dure pouco, como se felicidade fosse um presente e não o pagamento por seus próprios esforços em largar a borda da piscina e atravessá-la sem medo de se afogar ou apesar do risco de se cansar, de se afogar.
Também hoje meu ficante me ligou e me disse que passou no vestibular.
Pronto, depois desta minha "deixa" meus amigos vão começar a me dar indiretas! Mas ele tem 24 anos, viveu uns tempos na Suíça e voltou todo largado da vida... e ficou assim uns dois anos.
Ele achava esquisito que eu gostasse de estudar. Falava sempre disso - e eu, insensível, não entendia que aquilo era uma fase.
Recentemente ele disse que iria aproveitar o seu conhecimento de francês para alguma coisa: fiquei feliz por isso, pela aprovação dele no vestibular da UEFS.
Imagino a cara dele nas aulas de Teoria da Literatura, que ele deve achar um porre!
imagino o que ele vai fazer para tocar as transcrições fonéticas e sonho com o dia em que poderemos discutir mais do que música pop e rock and roll.
Não gosto de pensar a vida tal como Eduardo e Mônica: "Ela fazia medicina e falava alemão / e ele ainda nas aulinhas de inglês./Ela gostava do Bandeira e do Bahaus, Van Gogh, dos Mutantes,de Caetano e Rimbaud./ E o Eduardo gostava de novela e jogava futebol com seu avô."
E eu nem sei porque escrevi "ficante". Deve ser por causa da indecibilidade (ou isto ou aquilo)ou por que os meus amigos ficam me apertando para assumir que eu não sou tão só quanto eu digo.
Sou sozinha e sou solteira. É que tenho carne e coração e uns relacionamentos pendentes e imprecisos.
Sou impaciente, ou sei lá o que que eu sou, mas não namoro ele não: é complicado e interessante. Acho que justamente porque é interessante subsiste de alguma forma, mas não estou muito disposta.
Ele também vai mudar.
Gosto disso: pedras que rolam.
Acho excitante o fim de um ciclo e o começo de outro.
E aqui estou eu, também finalizando um ciclo - feliz, feliz, bem feliz por virar páginas e iniciar uma nova etapa...

Nenhum comentário:

Postar um comentário