Louquética

Incontinência verbal

domingo, 17 de julho de 2011

Procurando problemas


Eis uma rara ocasião em que não ter um problema é o maior problema: estou em crise com a minha tese porque não acho que meu problema esteja devidamente delimitado.
Para quem já passou pelo mestrado, fácil é concluir que a responsabilidade moral com aquilo sobre o que se escreve aumenta conforme o grau a que se destina. Deste modo, vejo que fiquei navegando nos mares das generalidades e isso me incomoda muito. Agora o meu problema está em repensar meu problema de pesquisa. E aí, qual é o problema?
Interessante é que a problematica é clara, ainda mais porque focaliza a literatura do final do século XX e seu entorno que bate, justamente nas figurações da nacionalidade.
Minhas hipóteses, também, estão na cara. Nenhum problema com elas - poxa, preciso de um bom problema!
Sem nenhuma lamentação, fiquei ontem à noite em casa, conversando com papéis.
Depois, falei com Tati e ela me perguntou: "Mara, qual é a sua tese?" e eu respondi, sem hesitar. E o veredito? eu não tenho problema.
Em qualquer artigo ou ensaio a primeira coisa a ser deixada clara é o objetivo. E se algum esnobe pseudo-intelectual me disser que isso é primário, sinto muito, isso se chama clareza. Do contrário as coisas flutuam, ficam na superficialidade e você não tem noção sequer de onde quer chegar.
O meu problema em refazer o problema passa, antes, por estabelecer claramente as diferenças que existem dentro dos velhos problemas evocados pela literatura de diferentes gerações, em contextos diferentes, conforme as obras que eu escolhi.
Se tem uma coisa difícil de dizer é o óbvio, sem ser óbvio. Na cabeça de quem propõe a pesquisa e a desenvolve, tudo é claro, tudo está ali. Difícil, porém, é fazer com que quem lê ou ouve o que daquilo deriva entenda, localize - e talvez esse seja o ponto crucial, quando a gente despersonifica a pesquisa.
A tese é minha, mas não é somente para mim.
No raio de comunicabilidade de qualquer pesquisa, tem que ter a esfera da recepção.
Há sessões de defesa pública não apenas por um ato burocrático, mas para tornar público os resultados de uma pesquisa. Então, não posso bancar a autista, me apropriar do que é meu até certo ponto, mas que não foi feito para o meu umbigo.
Mas, então, pergunto a mim mesma a melhor forma de comunicar meu problema. Resposta: "Não sei!".
Ligo para a Central de Auxílio Intelectual João Neto Company Research, em Muritiba, e a ele as coisas parecem claras, restando-me apenas a formulação do que já enunciei.
Continuo com problemas, porque estou sem problema na pesquisa - princípio da contradição, não parece?
Quando estou nesse patamar, juro: me desligo da vida e vivo somente para a pesquisa.
Sei lá o que me dá, mas me concentro de um modo bastante esquisito, porque além de só pensar nisso, não tenho vida pessoal nesse momento. Acho que a cidade pode explodir que eu fico aqui, parada, pensando que não há problemas em terminar os capítulos, em fazer as coisas textuais em si, mas que preciso de um bom problema que justifique que aquelas coisas de que trato sejam efetivamente uma tese.
Não penso na festa, nem em namoros, nem nas faltas, nem nas ausências.
Não quero saber do problema de ninguém - a não ser que alguém queira, no sentido da pesquisa, criar problemas para mim.
Falar sobre o problema, escrever sobre o problema pode clarear meus caminhos, por isso estou aqui escrevendo sobre o problema.
Tércia me advertiu: "Quando a máquina parar (referência aos meus dois neurônios), faça alguma outra coisa, mesmo que seja um trabalho doméstico ou uma futilidade. Saia do clima, do entorno, distraia a mente e volte a criar depois." Excelente conselho.
Para quem odeia estudar, eu diria: leia em pequenas doses, mesmo que sejam 20 minutos de manhã e mais vinte à noite.
Quer ler 600 páginas mas não consegue passar das 10 primeiras? parcele já suas 600 páginas em 10 vezes de sessenta ou em 20 de trinta, sem juros. Bem fácil: leia 15 páginas num turno e mais 15 em outro, divida como lhe aprouver, mas reserve um tempo para isso.
E quando a gente estuda, ferra tudo: o telefone toca, os amigos chamam, coisas mais prazerosas e convidativas nos aparecem... em meu caso, desligo tudo. Se eu puder, me tranco em casa, por isso que me desligo dos fatores externos. Entretanto, se a gente ficar nessa por muito tempo, piora mesmo.
Falando nisso tudo, cada um com os seus problemas não é? deixa eu ir procurar os meus.

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