Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Até Luíza, que está no Canadá!


Eu não sou nem doida de dizer que eu não acho engraçadas as celebridades instantâneas. Sou ligada em tudo: me divirto e falo "Menos Luíza, que está no Canadá", porque nunca vi uma bobagem fazer tanto sucesso. Porém, se isso acontece é sinal de que estamos aprendendo a rir mais.
Falando nisso, vi umas montagens incríveis com os slogans oficiais do Governo. Num deles está escrito: "Brasil, um país de todos: menos de Luísa, que está no Canadá"; Vi nas cervejas: "Todo mundo tem um lado Devassa. Menos Luíza, que está no Canadá"; Também tem "Todo mundo odeio o Chris, menos Luíza, que está no Canadá"... e isso deve durar uns dez dias.
Rio com o alarido da mídia, em geral, que todo dia pega um vídeo de uma celebridade se masturbando em frente à webcam... ora,deixa o povo em paz! até parece eles não têm o direito de fazer o que muita gente faz... tá bom que sendo pessoas públicas deveriam ter mais cuidado com os malfeitores e oportunistas, mas desde quando ser ator, ser jogador de futebol traz imunidade contra desejos sexuais e trangressões libidinosas?
Eu nem veria nada disso se eu não vivesse neste planeta, mas vivo é nele e a carapuça do intelectualzinho que está acima do bem e do mal, que finge não ver novela nem Bigbrother também não dá imunidade contra os produtos da indústria cultural enlatada.
Não assisto novelas nem Big Brother, mas quem disse que eu não sei o conteúdo: está nas revistas dos supermercados a que vou, em frente ao caixa, acessível enquanto cozinho esperas nas filas; está nos intervalos do Multishow, no rádio, na casa do vizinho...
Quem morre ouvindo música clássica sabe muito bem o que significa o "Ai, se eu te pego",do Michel Teló; não há como fugir ou negligenciar.
Mas, então, resolvi perturbar dois amigos meus, mestres do Bom Gosto, como diria o Marcelo Nova do Camisa de Vênus, grande banda baiana semi-extinta "since 1900 e bolinhas". Depois deste blablablá de mídia e expoentes do apelo popular,vamos discutir a filosofia de Merleau Ponty.
E por que não? Escolhi uma passagem a respeito do pensamento e sua relação com o tempo. Não foi uma escolha aleatória, mas é que eu insisto que Literatura não sobrevive sem Filosofia e achei que no caso deste filósofo, a sentença se estruturou poeticamente, mostrando a poeticidade da Filosofia:

"Mas a primeira verdade só pode ser uma meia-verdade. Abre para outra coisa. Não haveria nada se não houvesse esse abismo do eu. Entretanto, um abismo não é nada, ele tem suas margens, suas imediações. Pensa-se sempre em algo, sobre, segundo, de acordo com algo, acerca, em sentido contrário de algo. Mesmo a ação de pensar é colhida no ímpeto do ser. Não posso pensar identicamente na mesma coisa por mais de um instante. Por princípio a abertura é imediatamente preenchida, como se o pensamento vivesse em estado nascente. Se se mantém, é através do – é pelo resvalamento que o lança no inatual. Pois há o inatual do esquecimento, mas também o do adquirido. É pelo tempo que meus pensamentos envelhecem, é também por ele que marcam época, que abrem um futuro de pensamento, um ciclo, um campo, que formam juntos um todo, que são um único pensamento, que são eu.
O pensamento não abre brechas no tempo, continua a esteira dos pensamentos precedentes, sem sequer exercer o poder – que presume – de traçá-la, de novo, assim como poderíamos, se quiséssemos, rever a outra encosta da colina: mas, para quê, uma vez que a colina está ali? Para quê me certificar que o meu pensamento de hoje abarca o meu pensamento de ontem? estou ciente disso, já que hoje vejo mais longe. Se penso, não é porque salto do tempo num mundo inteligível, nem porque recrio toda vez a significação a partir do nada; é porque a flecha do tempo arrasta tudo consigo, faz com que os meus pensamento sucessivos sejam, num sentido secundário, simultâneos, ou pelo menos que invadam legitimamente um ao outro. Funciono assim por construção. Estou instalado sobre a pirâmide de tempo que foi eu. Tomo distância, invento-me, mas não sem o meu equipamento temporal, como me movo no mundo, mas não sem a massa desconhecida do meu corpo. O tempo é esse “corpo do espírito” de que falava Valéry. Tempo e pensamento estão emaranhados um no outro. A noite do pensamento é habitada por um clarão do Ser."
(PONTY, Merleau Maurice. Signos. São Paulo: Martins Fontes, 1991, pp. 13-14)

Agora, devido à mistura de temas totalmente distintos, todo mundo vai querer me matar - até Luíza, que está no Canadá!

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