Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O ano em que fizemos contato


Não vou esquecer que o dia 06 de fevereiro vai ser uma terça-feira. No fundo, espero que até que este dia chegue, tenham se passado uns dois anos e que não seja a tão poucas semanas de agora. Minha amiga vai embora, cuidar da vida, refazer a vida, num doutorado lá na UFMG.
Eu que disse: “Largue tudo e vá. Qual é a dúvida?”, também sinto muito pela distância, pela amiga que vai literalmente de mala e cuia para outras paragens. E por mais que a gente fale que a distância é só geográfica, gosto de tê-la por perto e sei que também para ela há um misto de excitação pela novidade e dor pelos que ficam...
Tudo bem que não vai durar a vida toda e que um avião e uns vinténs resolvem a saudade, mas na vida prática isso não atenua nada.
Eu quis ir lá, ao aeroporto, no dia da viagem. Ela me disse que não, que não teria despedidas. E por conhecê-la, sei que é autodefesa.
Um dia ela me mostrou que já tínhamos quarenta anos tantos anos antes de fazer os quarenta anos que ainda não temos, porque tornamos isso muito importante, um divisor de águas, como bem diz nosso desgastado clichê. Ela pôs juízo em minha cabeça, quando eu poderia ter explodido; ela já me fez saltar do precipício e agüentar a queda, ela já me ouviu quando estive à beira do precipício; ela já me deu o mau conselho que o meu superego precisava para descansar e não há, não pode haver amizade sem cumplicidade...
Um capítulo especial para o estacionamento do Shopping Dom Pedro, em Campinas, quando em festa eu encerrei uma história – ela, minha amiga, me esperou e pegamos um temporal do outro mundo que quase não nos deixa sair do shopping até à meia-noite.
E por isso Tatiana é a melhor pessoa do mundo com quem se pode dividir uma viagem ou um segredo; ou as viagens e seus segredos.
Quem mais crítica e capaz de discernir as cidades do que Tatiana? Quem pode compartilhar de olhares tão complexos sobre os lugares em que estivemos e gerenciar minhas crises de impaciência? Aliás, quem mais seria tão paciente a ponto de entender que eu estava largando ali minhas obrigações com ela porque eu precisava dar uns amassos em que me esperava, num outro momento, num outro lugar, em outra situação?
Minha amiga é brilhante. Tenho orgulho do seu porte, de suas posturas, de sua coragem, do respeito conquistado... E sou grata pelo cuidado e pelo carinho que ela teve por mim, sempre... E eu , se pudesse, me agarrava a ela para que ela não fosse, não por não lhe desejar o bem, mas por saber que vou sentir falta de nossas horas de conversa.
“Amigo é coisa para se guardar embaixo de sete chaves” e, por mim, para se guardar numa cela de segurança máxima... O coração é pouco para guardar um amigo.
Ela me deu as pancadas que eu precisava, também: para acordar, para decidir, para fazer, parar arriscar, para tomar iniciativas... Mas, até hoje, Tatiana ainda diz que eu excluo os homens, que eu só gosto de um determinado tipo... Desconfio que ela me acha é chata para karalho em questões de namoro. Com ela aprendi a Lei do Carcará, isto é, "Carcará pega, mata e come!" e vou tentando ser menos chata e explicar melhor um item, por causa disso: Uma coisa é o cara com quem a gente está saindo; outra coisa é o cara com quem a gente está ficando. Não saio nem fico com ninguém, que fique claro. E é por isso que ela atesta para os devidos fins o quanto eu sou chata e excludente.
Dia 06 de fevereiro eu estarei sem rumo, porque tatiana sabe tudo sobre todos os metrôs do mundo e sei que a gente só vai se ver para ir a São Paulo, sob qualquer pretexto acadêmico.
A imagem do post é uma foto que ela tirou de mim, em São Paulo, no Museu da Língua Portuguesa, no ano em que fizemos contato.

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