Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Todas as mulheres se chamam Maria


Eu, que tanto falo do óbvio, também sei que as lições mais óbvias são as mais difíceis de aprender. Assim, respondi sem pestanejar aos quesitos postos por minha amiga no tocante a seguir ou a desistir de um relacionamento.
Saber das coisas não quer dizer praticá-las ou estar a salvo delas: também vivi isso e me amarrei a relacionamentos falidos e a relacionamentos que nem existiam mais. Não há ponto final porque o mais comum é que os homens esperem até que a gente termine para que eles possam também dizer o óbvio: “Você é quem sabe o que é melhor para você”.
Não confundi não: é que aquelas outras frases, do tipo: “O problema não é com você, é comigo”; “Eu não estou preparado para nada sério agora”; “Você vai encontrar alguém que te mereça”; “Eu não tenho nada a acrescentar na vida de ninguém agora” e o ainda mais clássico “Eu preciso de um tempo” – sim, o mais clássicos dos clássicos foras que um homem pode dar numa mulher – tudo isso é dito quando eles têm a iniciativa do término.
Geralmente o término tem mais a ver com o “enjôo” da parceira do que, propriamente, do fim dos sentimentos, que na maioria das vezes nem existiam mesmo.
Mulher tem muita dificuldade em largar o osso: já passou todas as humilhações, vicissitudes e situações extremas que se possa passar em vida, mas ainda assim, insiste.
Há pessoas que desistem antes de tentar porque antevêem o fracasso. Deixam, portanto, de tentar, de concorrer e de experimentar porque sabem no que vai dar, mas estas o fazem numa perspectiva bem pessimista. Por outro lado há aquelas cujos sinais de fracasso estão piscando por todas as partes, mas elas insistem, achando que tudo vai mudar.
E mudam: elas mudam. Mudam a cor do cabelo, o corpo, as roupas, o gosto musical, a atitude sexual, aprendem dança do ventre, sexo tântrico, sexo intergaláctico e vão vivendo na esperança de que ao se renovarem apareçam como uma nova mulher para aquele mesmo velho homem, já que amor de mulher é estável, não tem tanta neurose de renovação.
Nunca vi um homem se esforçando para agradar a mulher nestes níveis: se vão à academia é para conquistar outras gatas, a secretária, a moça mais nova que chegou à repartição... Não vão aprender a dançar a dois, nem flexibilizam seus gostos em favor das parceiras.
Mas a minha amiga está num clássico dilema. Creio que ela não consiga enxergar claramente o óbvio: ele nunca responde aos e-mails dela; ele nunca retribuiu a um telefonema; ele nunca deu a entender qualquer reciprocidade além de uns poucos amassos numa festinha de fim de ano.
Todo mundo tem ego e alguns homens adoram é ser cortejados. Daí porque nem sempre o fora vem com clareza porque aquela mulher pode ser útil num futuro, quem sabe... Em noite bêbadas e solitárias pode ser um telefone a mais, uma opção.
Ainda há cavalheiros, apesar de seu número diminuto. Portanto, tem também o sujeito que fica constrangido em dar o fora, em dizer que ele não tenha interesse por aquela mulher, que procura fazer com que as atitudes dele sinalizem a melhor mensagem para por um ponto final nas ilusões da moça.
E há o caso extremo: os cafajestes. Nunca se meta com um cafajeste se você não tem estrutura para sobreviver sem bons antidepressivos ou se você se sente suscetível a um surto psicótico.
O cafajeste vive para o próprio ego, gosta de quantificar mulheres, nunca fala o seu nome e sim um apelido genérico que sirva para todas as outras, alicia os parentes para serem álibis que confirmem que ele estava onde ele nunca esteve, tem um repertório de desculpas esfarrapadas para os mais absurdos casos e se cansa das mulheres com uma velocidade que não ultrapassa uns quatro encontros.
Cafajestes têm autoconfiança e habilidades sexuais incontestes que eles sabem capitalizar para deixar as mulheres amarradas. E se ele for cafajeste profissional, é capaz de também ser poeta e parecer sensível o bastante para iludir, enredar e apaixonar a mais resignada das mulheres – entendo deste tipo porque sou PhD em Cafajestes e meu trabalho de campo começou em família, pois meu pai e os meus primos forneceram excelente material de pesquisa. Está certo que eu não escapei dos poetas cafajestes e ainda duvido que um termo não acompanhe o outro, porque cafajestes são poetas em termos de sedução e poetas são cafajestes, apesar de tanta palavra doce para descrever amadas impossíveis no alto das torres.
A resposta para a minha amiga já está mais do que clara: “Curtiu, já foi, foi só para relaxar”, como diz a letra de Totalmente Demais.
Nem há o que se possa dizer mais porque quem quer a gente fica com a gente. Ele pode até parar para pensar, levantar dados para a análise, chegar devagar, mas se o cara quer, o cara fica...
Contudo, eu sei que nenhuma resposta será suficiente porque ela gosta dele, ela passou a idealizar, a sonhar, a querer... E é mesmo muito difícil renunciar àquilo que se quer. Mas não falamos de aquilo e sim de aquele, ou seja, de um ser humano com capacidade de decisão. Então ele já decidiu que não a quer para si como namorada.
Resta a dignidade da desistência porque insistir demais é mal-educado. É bastante desagradável ter alguém pegando no seu pé, alguém que você não deseja, não quer, não corresponde, mas que fica forçando as coincidências, aparecendo, telefonando, insinuando...
Esta, sim, é uma lição dificílima: saber que é preciso desistir e procurar outro caminho.
A insistência por quem não quer a gente só nos transforma em objetos da vaidade do outro; um trunfo, alguém eternamente disponível, alguém que vai perdoar tudo e estar sempre à espera.
(Minha amiga * Maria, eu sei que você vai ler isto aqui daqui a pouco. Não são as palavras mais doces e mais fáceis de digerir, mas a sinceridade tem isso de nos parecer incômoda e dolorosa... Cair das nuvens ou do terceiro andar machuca do mesmo jeito – e nem para mim mesma eu teria antídoto ou anestesia se estivessem em seu lugar, este lugar que eu tanto conheço...)

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