Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Com- puta- dores


Dentre as coisas que mais me dão uma sensação de impotência estão as panes nos eletrodomésticos. Considero computador um eletrodoméstico. Ora, por essa nem mesmo eu esperava, porque assim como qualquer outro ser humano que tenha vivido em família, que tenha estado num lar, fica a noção de que o eletrodoméstico é apenas um utensílio (olha aí que carrega a ideia de útil desde o nome) para facilitar as tarefas da casa. Vão aí os liquidificadores, as geladeiras, as torradeiras, os ferros de passar roupa, enfim, qualquer coisa com uma utilidade prática, mas é prática na ação, sabe? Não é aquela prática simplesmente prática, mas algo que ajuda a tornar ágil a vida de uma casa.
Não estou nem um pouco interessada na classificação técnica ou tecnológica: computador é eletrodoméstico aqui em casa – e se eu trabalhasse fora, num escritório ou numa repartição, apenas iria somar mais uma função, agregar outro adjetivo que não deixaria que esse meu raciocínio parco e insistente deixasse de considerar a high-tech como eletrodoméstico.
Não tenho nenhum computador móvel, portátil – seja lá com o nome que você escolher nesses tempos de “the e-book is on the tablet”, conforme propaganda de cursinho de inglês. E podem matar e morrer por essas causas tecnológicas pois eu continuarei achando que lugar de computador é em minha casa. Lógico, o meu computador.
Acho que criam muitas necessidades tecnológicas falsas, também. Por causa disso, não serei eu a engordar o consumo marginal.
Mas chamar o computador de eletrodoméstico é construir uma relação afetiva com ele. E eu tenho: gosto do meu computador. Quer dizer, gosto dele quando ele não me dá trabalho; quando não interrompe meus papos no MSN com gente com que eu gosto de falar; quando ele não empaca como uma mula travada no meio da ladeira; quando meus arquivos não somem sem explicação, quando o HD não queima e detona junto tudo aquilo que é vital para minhas obrigações acadêmicas, enfim.
Mas então, de tanto ser surrupiada por gente com experiência técnica, gente que teoricamente é expert em computador, mas, que sempre dá a dica de que em três meses solicitaremos uma nova visita, passei a ter mais autonomia com tudo quanto posso, de modo a resolver sozinhas as situações.
Mas eu sou do tipo esquentadinha. Eu odeio dependência: troco lâmpada, troco botijão de gás, troco resistência de chuveiro, tenho olhos e ouvidos abertos com os carros (nunca um mecânico me enrolaria por causa de correia dentada, de pastilha de freio, de fios soltos e de supostas panes elétricas), de modo que eu tenho muita raiva de não saber o bastante para comandar o meu computador (ah, tá bom, e os meus eletrodomésticos em geral).
Eu me sinto tão impotente quando um problema se instala e eu não posso fazer nada! Chamo o técnico quando é o caso de chamar o técnico, seja lá técnico em que for, mas imaginar que eu vou me privar do eletrodoméstico e que eu não posso fazer nada para resolver o caso, estando, portanto, na mão da assistência técnica, me deixa louca, transtornada.
Como eu disse, eu odeio dependência – toda e qualquer dependência – mas eu preciso tanto dos recursos tecnológicos que seria uma hipocrisia ridícula ignorar que eu gosto, uso e aprovo tudo que facilita a vida.
No momento, meu computador anda me mordendo, travando, caindo...e é tudo junto: a conexão cai, a edição cai, o apagão se instala - me sinto irritada com isso, com a falta de obediência da tecnologia: juro, parece perseguição.
Se você tem prazos, compromissos e coisas importantes a fazer, o computador vai aprontar, com certeza. Se é Lei de Murphy, eu não sei, mas nunca aconteceu uma coincidência que favorecesse meus interesses - o computador me boicota, parece que está vivo e está se vingando.
O cérebro eletrônico definitivamente machuca o meu limitado cérebro humano e me faz perder a cabeça - tantas vezes, meu Deus, eu quis esmurrar o computador e quantos de nós não acha que se der umas pancadas na televisão ou no eletrodoméstico enguiçado vai fazê-lo funcionar? a violência reativa é prima-irmã do sentimento de impotência... e ao término do processo, eu é que fico com puta dores de cabeça!

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