Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Socialismo Etílico e outras histórias


Héber acha que o remédio para a minha vida é o álcool. Eu concordo. Contudo, meu problema é não suportar um drink, não ter resistência fisiológica para 10 ml de qualquer coisa.
Sorte a minha que, das poucas vezes em que me arrisquei nas aventuras alcoólicas, tinha um parente, um primo por perto: daí ele explicava aos demais que aquele meu quadro não era brincadeira, mostrava que minha pressão arterial tinha caído e que, portanto, era verdade o meu queixume de que havia buracos no chão e que tudo rodava muito rápido, que eu ficava gelada e não era pelo poder refrescante da menta.
Mas todo mundo acha isso esquisito. Só Manoela entende, porque ela sofre sintomas idênticos com outras substâncias. Quem tem intolerância, já era.
Mas, por mim, eu beberia até confundir troglodita com poliglota; fuzileiro naval com funileiro nasal; e ficaria rindo de tudo, especialmente porque eu lembro muito bem que minhas pernas ficam anestesiadas e eu rio de mim.
Há uns amigos meus, de meu tempo de universidade, que ficavam falando que invejavam tanto barato, tanta sensação que me acometia e que eles consideram “uma viagem”.
Recentemente descobri que as meninas jogam buraco apostando copos de água. Pelo amor de Deus! Olha que tortura: cada rodada perdida vale uma jarra de um litro, a ser bebida de uma única vez. A ida ao banheiro fica proibida por uma hora... Pessoas assim precisam de álcool para fazer bobagens?
Agora à tarde estava passando um curta-metragem/documentário sobre boteco, bebidas e afins, e o sujeito declarou que acreditava no Socialismo Etílico.
Eu acredito também. O Socialismo Utópico, como era Utopia, isto é, “lugar que não existe”, é impossível. Mas o Socialismo Etílico ele garantiu que acabaria com a luta de classes, porque uma vez entupidos de álcool, o bêbado rico conversa com o bêbado pobre em pé de igualdade; e eu acrescentaria que c* de bêbado não tem dono, nem classe.
A assunção plena do Socialismo Etílico é essa: C* de bêbado não tem dono! Abaixo a propriedade privada! - privada, só se for para vomitar.
Vou repetir a velha lição em Latim, que o Professor Clodoaldo me ensinou, mas que atribuiu a uns alunos assanhadinhos de Direito: Anus beborum non dominum habet. Pode traduzir que vai dar na mesma expressão popular que eu citei poucas linhas acima.
Pensem bem na expressão: “C* de bêbado não tem dono”. Não é uma maravilha? Estando bêbado, você não pertence mais a si mesmo, está à toa na vida, socializou até o corpo e suas reentrâncias, orifícios e partes improdutivas em geral.
Dizia a minha tia, que álcool causava problemas nas pernas das mulheres: abriam a toda hora. Minha mega-amiga, um dia, tomou uma taça de vinho lá no apartamento da gente, quando eu tinha chamado um convidado que morava no Porto da Barra, para resolver uns problemas de ego ferido pelo amigo dele, meu ex-namorado. Minha amiga, então, depois de escolher os CDs adequados ao momento, me veio com uma de “eu não respondo por mim”... abafa o caso que eu não vou contar o que veio depois. Mas conto o que veio depois do depois: o namorado dela, o Cornivaldo Galheiras, resolveu fazer uma surpresa. Ele morava aqui em Feira e nós duas tínhamos alugado o apartamento no Farol porque detestávamos trabalhar em Camaçari e dormir por lá...
(PAUSA FILOSÓFICA: Rapaz, eu poderia ter dito que chamei o menino lá porque eu quis conhecer a vizinhança, né? Bom, fica então essa versão: chamei Ernesto para me entrosar com a vizinhança– se pensaram no Che Guevara, que também se chamava Ernesto, sugiro dividir as sílabas... KKK!!!)
Só sei que de repente o miserável do Cornivaldo telefonou dizendo que estava chegando, e este “chegando” era coisa de poucos minutos, e daí em diante a gente se comportou como baratas que fogem quando a luz acende. Convocar a naturalidade é fundamental nessas horas.
Alguma coisa se passou pela cabeça do Cornivaldo – deve ter sido o chifre mesmo. Devo dizer que não deu (ui!!!) para salvar a minha amiga desta vez porque eu já estava de saco cheio de inventar que os rolos dela eram casos meus. O Cornivaldo achava que eu era a maior periguete do pedaço.
Esta, sim, é uma mistura perigosa: álcool e corno não devem ocupar o mesmo espaço. Menino, o caso é sério e as conseqüências são irreversíveis. Tem esse negócio do efeito específico: uns ficam generosos, outros ficam sociáveis, tem que fique carinhoso, tem quem fique emotivo, mas corno que bebe tende a ganhar coragem. E corno valente risca faca e troca tapas.
Mas, se eu bebesse cerveja eu não pagava Psicanálise. Eu pagava mico, mas não pagaria psicanálise mesmo! E o melhor da bebedeira é essa noção de que se bebe para esquecer... Comigo deu tão certo, que até hoje eu me esqueci de beber.
Quem não bebe parece chato, ortodoxo, cristão ortodoxo ou paranóico naturalista. De todos os tipos, o que mais detesto é este último: povinho idiota que quer impedir a gente de comer pão, de comer carne, de comer açúcar, de comer o próximo, porque tudo isso faz mal e reduz a expectativa de vida. Ora, me mate hoje, mas não tire o sal, o açúcar e o pão da minha vida... E se o próximo for interessante, eu topo entrar num acordo. Onde já se viu? Para que porcaria eu iria querer viver 110 anos, 80, 70, 60, sem os prazeres da gula? Eu nem sou muito de comer carne, mas sou a favor dos prazeres da carne, sim. Vai dizer que não vale a pena a chuleta, a maminha, a picanha e bons músculos? E eu só não citei a lingüiça porque tem gente maldosa que lê esse blog e depois me telefona enxergando coisas que não existem.
Não beber reduz minha vida social, subtrai oportunidades amorosas, impede que eu seja convidada para certos lugares e me deixa embaraçada quando o cara me convida para um drink ou para um vinho. Geralmente, digo que não bebo e ele interpreta como rejeição... Teve um que falou com um amigo meu que não ia sair comigo se eu não bebesse, porque seria difícil que eu encarasse ficar com ele de cara limpa...E o inseguro era gato, inteligente e interessante...tudo bem que ele parecia saído do The BigBang Theory, mas eu não precisava de álcool para ficar com ele, eu precisava de pretexto.
Ah, uma dose de coragem!

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