Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Depois dos pecados


Depois do pecado sempre vem o dilúvio. E se o salário do pecado é a morte, sei bem que fiz hora extra e terei que aguentar os duros acréscimos no salário.
O dilúvio já veio.
Sábia é a voz do meu amigo Jota Neto me dizendo, a seu modo,há tantas semanas atrás, que eu procuro a repetição. Então ele sentencia: "Ele é igual ao dentista!". Acertou!
Ele é igual ao dentista em tudo de mal, em todos os piores defeitos - sinal de que sim, eu repito.
O dentista em questão é Thales, meu profissional ortodôntico preferido, que sempre me hipnotizava com aqueles olhos cor de violeta, que me paralizava com a beleza dele, aquela réplica de Hugh Grant, com uns 15 anos a menos de vantagem sobre o original.
E ali era o problema: namorar um homem lindo é um problema, até porque sou uma simples mortal enquanto ele é um deus. O encontro entre deuses e mortais alimentou todas as tragédias gregas.
Mas, Thales passou.
E era um vício tão perigoso este "estar-se preso por vontade", embora eu fosse lá consciente de que ele adorava que eu fosse instrumento da vaidade dele, que quando eu resolvi que era hora de extirpar o vício, saí cortando tudo - só me restaram os pulsos, que eu não cortei por me amar demais, apesar das burrices que eu cometo contra mim mesma. E cortei Thales de minha vida, das redes sociais, das coincidências do dia, das possibilidades de cruzarmos um mesmo caminho.
Mas, de fato, eles são muito parecidos - não fisicamente, porque eu reconheço que repito meus namorados, são em série, todos iguaiszinhos, sequenciais...até que depois algum outro quebre a sequência e comece outra.
Mas, em tempo de pecados e tentações - Por quê erro tanto, meu Deus? - desço eu mesma um dilúvio de impropérios, cobranças, ódios, faço a casa cair, digo absurdos, exponho verdades, quebro a mesa, parto os vidros, estilhaço cristais, solto os bichos, falo, grito, me exaspero, digo que nunca mais, mostro que não é assim, aciono terremotos, revolto as águas dos rios, disparo raios, não atendo, não respondo, não ouço, não estou, não quero,contesto, duvido, exijo, destruo... Ele olha em silêncio para minha cara, num silêncio aquiescente e diz: "Eu te adoro!".
Perco o senso. Perco tudo. Estou perdida.
"Seu corpo combina com o meu jeito,/nós dois fomos feito muito para nós dois,/não valem dramáticos efeitos, mas o que está depois..." - eu já conheço isso, eu já sei a trilha sonora.
Ou seria outra?
Dê amor, dê paixão.
Dê espera, dê esperma
Dê prazer, dê fogo,
Dê uma nela, de carinho,
De sacanagem, de sarro, de fato,
Dê amor, dê segurança,
De anca na anca dela
E amanheça de cabeça dentro dela
Dê amor, dê paixão
Dê espera, dê esperma
Dê prazer, dê fogo,
Dê uma nela, de carinho,
De sacanagem, de sarro, de fato,
Dê amor, dê segurança,
De anca na anca dela, cadela
E amanheça de cabeça dentro dela
E amanheça de cabeça dentro dela
E amanheça de cabeça dentro dela
E amanheça de cabeça dentro dela.

(Fernando Deluqui/Cérebro eletrônico - Dê)

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