Louquética

Incontinência verbal

domingo, 5 de junho de 2011

Quebrando o silêncio


Sou daquelas pessoas que odeiam a ‘não-resposta’. Aliás, acho que alguns silêncios são altamente suspeitos. Deste assunto, entre o que eu mais detesto é a incapacidade que algumas pessoas têm de completar as informações que dão.
Prefiro que me digam na cara: “Por favor, não fale mais comigo, porque X, Y ou Z me contaram que você falou mal de mim” e agüentaria perfeitamente bem se um homem me dissesse: “Bem, valeu o nosso encontro, mas a gente não vai namorar porque você não me agradou em vários aspectos”. Tudo é sempre melhor do que o silêncio. Acho este tipo de silêncio uma covardia. E é covardia frustrante, porque ficamos sem saber o que houve. Uma vez não sabendo qual o motivo das coisas, construimos nossas próprias respostas, que podem ser falhas, insuficientes, incompletas, enganosas.
Eu esperei onze anos para obter uma resposta. E onze anos é tempo de sobra para todas as partes esquecerem o ocorrido, os nomes, as circunstâncias, todo o contexto. Mas eu não esqueci e tampouco perdi a oportunidade de tirar a limpo a traição do amigo. E tirei mesmo. Sou rancorosa. Assumidamente, não esqueço nada do que me dizem ou em fazem.
Lamento muito uma outra amizade que eu perdi, porque a pessoa acreditou na minha inimiga, que à época até eu julgava que fosse minha amiga. O tempo passou, a máscara caiu, mas eu nunca reconstruiria a amizade com quem não confiou em mim e me negou o direito de defesa. No meu coração, nada muda: gosta dela, dos familiares dela que eu conheço, continuo achando que ela é uma pessoa esplêndida, linda, inteligente e generosa com os amigos, mas amizade, nunca mais. Eu que perdi a confiança, porque foi tudo tão frágil que qualquer fofoca destruiu. Não tive chance de defesa, nem voto de confiança, e muito menos a pessoa me deu o benefício da dúvida.
No meu caso de mais de uma década, eu pensei muito bem se eu realmente queria saber da verdade. Ao notar que a vontade de saber não passou, corri atrás, corri o risco e agora vou poder descansar minha consciência em paz porque eu sei muito bem que tipo de pessoa o amigo traidor é. Talvez fosse melhor sofrer uma decepção que, neste caso, mostraria que malvada fui eu, ao atribuir esta capacidade de vilania a ele. Eu adoraria estar errada.
Dói muito menos a verdade: ela pode ser dura, cruel, terrível, mas se recuperar da verdade é bem mais fácil do que suportar a eterna dúvida ou o convívio com a mentira. Geralmente a verdade não é dita para preservar o fofoqueiro, que não assume que está ali porque odeia a pessoa que é objeto de fofoca e está empenhado em contar o que supostamente ouviu, para tentar fazer o mal para esta. No trabalho, por exemplo, se tem aquela deixa do “não diga que eu te disse”, já está na cara que este que deseja o anonimato está a fim de destruir o terceiro elemento desta tríade.
Há aquela agonia das famílias que buscam os corpos dos filhos e parentes, vítimas de tortura ou de acidentes, mesmo contando com todos os indícios da morte, seguem procurando, como se precisassem do corpo para completar o seu luto, sua experiência de luto. Sou assim também: enquanto não há a chance de tirar a limpo, meu coração não sossega, eu perco a noite, eu perco a paciência e, se um dia, como aconteceu agora, a oportunidade aparece na minha frente, ah, eu vou lá reclamar a minha parte.
Também em silêncio contemplo os meus inimigos. O que acho é que eles não sabem que eu sei que eles são os meus inimigos: para estes eu nunca abrirei a porta, nem darei as senhas de acesso à minha vida e aos meus segredos reais. Vão espreitar nas frestas dos muros, vão fazer elucubrações, vão procurar informações em outra freguesia, porque inimigo que é inimigo vive vigiando os passos da gente e, claro, tentando conseguir mais inimizades para nós, de modo a nos deixar isolados, no ostracismo.
Às vezes dá certo, porque todo mundo toma partido, especialmente da parte que parece ser a mais frágil, inocente, delicada e sensível...o problema é que, de tão sensível e delicada a pessoa, o vento bate e leva a máscara da bondade e da inocência junto. Que bom, hein?
Mas, os verdadeiros amigos se machucam com a verdade, para não permitirem se destruir com a mentira.

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