Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A tréplica


Algumas coisas são tão fáceis de resolver quando se tem gente bem resolvida pelo meio, não é? Assim foi que passei N.M. para Cléo, resolvendo o meu problema e os deles: ela precisava de companhia, ele precisava de alguém que o aturasse e lhe desse atenção; e eu precisava me livrar dele. Incrível! Como somos todos amigos, maiores de idade, independentes e livres, resolvemos entre nós os nós que nos afligiam.
Já outras coisas são mega-difíceis, porque, também, envolve gente de raciocínio difícil e situações mega-difíceis. Diz Bauman no seu Amor líquido:
“Relacionamento” é o assunto mais quente do momento, e aparentemente o único jogo que vale a pena, apesar de seus óbvios riscos. Alguns sociólogos, acostumados a compor teorias a partir de questionários, estatísticas e crenças baseadas no senso comum, apressam-se em concluir que seus contemporâneos estão totalmente abertos a amizades, laços, convívio, comunidade. De fato, contudo (como se seguíssemos a regra de Martin Heidegger de que as coisas só se revelam à consciência por meio da frustração que provocam – fracassando, desaparecendo, comportando-se de forma inadequada ou negando sua natureza de alguma outra forma), hoje em dia as atenções humanas tendem a se concentrar nas satisfações que esperamos obter das relações precisamente porque, de alguma forma, estas não têm sido consideradas plena e verdadeiramente satisfatórias. E, se satisfazem, o preço disso tem sido com freqüência considerado excessivo e inaceitável.” (P.09)
O velho assunto sempre recoberto de máscaras novas apenas mostra a aceleração da frouxidão dos laços humanos como um todo, e dos amores em particular.
Hoje em dia a gente tem uma paciência ainda menor em relação ao futuro de um amor ou de uma amizade. Se as coisas já se mostram complicadas no começo, geralmente, desistimos, passamos em frente, fazemos novas apostas e parece ser consenso observar o cansaço que dá construir uma relação.
No plano especificamente do amor, tudo é bem mais frágil e impreciso, recheado de insegurança e medo de vínculos sérios que, em paralelo, convive com o conflito interior que é a vontade de ter um descanso, de achar a pessoa certa (e nunca a pessoa SEMPRE CERTA, porque esta é insuportável) e viver a sorte de um amor tranqüilo. Tudo simplesmente complicado.
Às vezes eu aplico as minhas técnicas de fuga das coisas sérias e por isso eu também aprendi que há ocasiões em que o relacionamento não é sério, mas os sentimentos ali envolvidos são. Mas odiamos complicações, queremos ser livres e desimpedidos. Daí que um relacionamento exige muito de paciência, renúncia, dedicação e muita flexibilidade – e se eu tivesse esses elementos disponíveis eu aplicaria tudo em favor de uma forma de me entender com C., que é quem eu gosto, mas que requer de mim muita paciência.
As minhas técnicas de fuga giram em torno de minhas ocupações. Logo, não tenho tempo para amores porque tenho mais o que fazer, sou ocupada mesmo quando a Universidade está em greve. E estando ocupada, afrouxo os laços dos relacionamentos, me desvio, aposto em outros setores, me envolvo com outras coisas, focalizo outras necessidades e coloco certas coisas complicadas como último item da minha lista de prioridades. E C. também é assim, o que faz com que a gente viva se lascando à unha por estas coisas, de modo que ele é workaholic pela mesma razão que eu sou atirada em outras atividades. O diferencial é que ele adora ser aplaudido, adora cerimoniais e gosta que eu seja o adereço da vaidade dele, apenas para enfeitar, um apêndice, um acessório, embora reciprocamente a gente se goste e eu saiba disso perfeitamente.
E na guerra de nervos que isso suscita não me coloco como vítima, mas como sobrevivente – alimentando novas guerras, porque a gente é igual até para brigar. Mas, sim, eu gosto do bruto. Admito!
E é por essas e outras, meus amigos chegadíssimos (vocês, queridos, que sabem que eu sou uma assumida chata), que o edital para o preenchimento daquela vaga em minha vida continua aberto. Esta foi a minha tréplica.
Ah, sim, o último a ocupar a vaga pediu exoneração e este meu querido C, amado até hoje, não conseguiu passar do estágio probatório...está aí, querendo ser readmitido, com liminar da Justiça e tudo em mãos. E eu louca para deferir o pedido!

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