Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Gente interessante


Há um desgaste semântico tão sério sofrido pela expressão "formador de opinião" que a gente já não leva em consideração o que está sendo dito. O certo é que dizer: "legal!"; "Gostei"; "Também acho" e "Interessante!" pelo menos para mim, não expressa opinião nenhuma. No máximo, exprime simpatia ou antipatia acerca de algum assunto. Em suma: isso está longe de exprimir um juízo sobre qualquer coisa.
Mas, para mim, dizer de algo ou de alguém: "Que interessante!" é, de fato, mostrar o quanto eu estou interessada.
Não é interesse sexual, é interesse mesmo - algo que nem chega perto da curiosidade maléfica pela vida alheia, nem se aproxima de conotações outras, de malícias variadas. Se alguém desperta o meu interesse, fico alerta, disparo querendo saber o máximo que eu puder pela pessoa.
Minha amizade com Tati começou a partir de quanto eu a achei interessante. E olha que em princípio, nós éramos distantes. Hoje, estou aqui morrendo de saudades de São Paulo e de Petrópolis,mas sem Tati faltaria alguma coisa, porque as pessoas interessantes parece que tornam todos os lugares e situações mais interessantes ainda.
Externamente, Tati parece uma evangélica das mais rígidas: se veste cobrindo o corpo inteiro; fala pouco; é discreta...mas ao abrir a boca, aquele tesouro que é a inteligência, se mostra. E o aparente moralismo se dissolve na hora: foi ela quem me aconselhou a adotar a fórmula do Carcará, porque ficou pasma por eu ser tímida, ser sem jeito e ser dependente da iniciativa masculina sempre, sendo incapaz de retribuir adequadamente a alguma investida.
Ela continua sendo uma pessoa interessante - e cá para nós, ela me acha uma chata castradora que fica fazendo seleção o tempo inteiro. De modo que, para ela, eu elimino mesmo os candidatos, quando o normal seria aplicar a lógica do Carcará e descomplicar minha cabeça. E esse negócio de eu gostar dos homens magrelos e clarinhos é, para ela, tão incompreensível quanto é para mim, o fato de que Tati adora os homens orientais e seus descendentes.
E por eu gostar de gente interessante, estou bastante interessada na vida de um determinado ser humano - se eu pudesse, eu saberia tudo sobre ele: o que ele gosta, o que ele faz, onde ele anda, o que ele quer, como o que ele sonha, o que ele pensa sobre mil assuntos...
Sabe, isso é análogo a consultar um oráculo (coisa que não me atrai nem um pouco, mas é análoga, por que negar?): a vontade de saber.
As pessoas administram esta vontade das mais variadas formas e se querem saber de si e dos outros, recorrem a regressão espiritual, a consultas esotéricas, aos amigos em comum, a uns enredamentos investigativos que mais parece uma versão individual do C.S.I.
Bem, para mim vale tudo, menos cartomante. Eu já disse!
Talvez que a minha busca por respostas seja na analista que, por sua vez, mostra as respostas que estão em mim. Acho que o cerne de tudo é isso: as respostas estão na gente. À medida que a Psicanálise ou a vidência conseguem ler a gente, decodificam esse texto que nós todos somos. Não há milagres: as pessoas acuram suas leituras, só isso.
Os melhores leitores de nós mesmos são os outros. Isso não significa que a leitura será sempre idônea e clara: pense na leitura que os nossos inimigos fazem de nós? e aquele povo que faz a primeira leitura e forma sua opinião de que somos egoístas, chatos, esnobes, antipáticos...e as leituras que são influenciadas por outras leituras? estas,então, um perigo em termos de tendenciosidade:ouve-se uma versão e uma interpretação sobre nós. Esta é uma antecipação, um conceito antecipado ou um pré-conceito, a depender da referência. Se o que ouvimos for bom, antecipamos nossa simpatia pelo Outro; se for um conceito negativo que ouvimos, previamente odiamos o Outro, e daí em processos sucessivos.
Mas eu falo da boa leitura, aquela que se acerca de nós, que olha as linhas, as entrelinhas, os gestos, as imagens, o conjunto - e em se tratando de Psicanálise, a leitura é tão extensa que não prescinde do nosso inconsciente, examinando o interior do texto que somos nós.
E esse meu blablablá vago, só por que uma pessoa me despertou o interesse nesses ultimos dias e eu aqui, louca para saber o que há por trás de um grande homem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário