Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Corpo e mente


Nesta intensa medicamentalização da vida, nem sei como a gente sobrevive: inventa-se o remédio para as vicissitudes normais do ser humano, mas que nunca serão resolvidas de fato e, em contrapartida, todo desfrute gastronômico é condenável.
Não se pode consumir ovos, nem óleo, nem farináceos, nem isso e nem aquilo, segundo os aconselhamentos médicos via mídia televisiva.
Também nos desacostumamos a sentir as emoções comuns a qualquer ser vivo de carne, osso e ectoplasma e, por conta disso, para tudo há remédio. Claro, tarja preta.
Para angústia, qualquer lítio ou diazepínico e seus correlatos; para tristeza, vide bula; sensações de perda e de luto?disk-pharmacon, recomendada desde os tempos de Platão!
Para tudo tem que haver uma classificação clínica, um número de C.I.D, porque todo mundo tem alguma coisa, ninguém passa incólume à indústria farmacêutica e aos grandes deuses da medicina. Mas, se por ventura, você apresentar sintomas inclassificáveis, com certeza será dito que você tem virose.
É, meu filho, de perto ninguém é normal; e sob o microscópio ninguém é saudável.
Não estou ironizando para simplesmente execrar os desesperos clínicos, não.
Olha que eu estou na academia há 09 meses - e cuidar do corpo é, hoje, uma recomendação médica. No meu caso é que foi minha vontade mesmo - e incorporei a musculação à minha rotina.
Reconhecidamente eu sou hiper-ativa: tenho fogo no espírito, não aguento ficar paradinha e quieta, tipo uma mumiazinha bem-comportada; não gosto de bebida alcóolica e, por isso, me impaciento em sentar num bar para ficar contemplativamente me enchendo de álcool, do que quer que seja ou, traduzindo melhor, preciso me movimentar.
Indo à academia eu queimo energia, me movimento, consigo expurgar toda energia que eu tenho e que não descarrego no meu cotidiano. Não sou, entretanto, uma pessoa nervosa, que viva no limite da paciência, descarregando ódios e frustrações sobre os outros...mas tenho pouca paciência com meu semelhante, sim, em várias situações.
Aí eu, que também não sou dada a comidas gordurosas, aprendi o real sentido das chamadas gorduras TRANS.
Além de qualquer gordura, ou lipídio, para quem quiser ser chique, ser efetivamente, uma base oleosa, um ácido graxo, as gorduras trans são aquelas que foram muito processadas, passaram por tantas transformações que perdem seus nutrientes essenciais, constituindo uma verdadeira gordura saturada que, uma vez no organismo, aciona o aumento dos níveis de colesterol.
Mas estas explicações são bastante abstratas. Portanto, os Laboratórios Louquética de Alimentos e Administração de Drogas observa que a melhor forma de entender a presença, os efeitos e a tudo mais sobre as gorduras trans é observar que este tipo de gordura está presente em sua alimentação quando:
TRANSborda gordura pelos lados dos cós de sua calça, formando flancos e pneus em seu corpo;
TRANSforma sua barriga numa montanha íngreme que lhe impede de enxergar os seus próprios pés;
TRANSfigura um bumbum feminino em uma cratera lunar, afundada por vário buracos de celulite;
TRANSmite a sensação de que estamos com uma silhueta redonda, rotunda, em estilo rolha de poço e cintura de ovo;
Interessante notar que em tempos de tanta invenção e nomeclatura médica, dentre as coisas que eu mais admiro estão as anestesias.
Tenho alergias a algumas delas e resistência neurológicas a outras tantas, especialmente lidocaínas, o que para mim é um absurdo porque eu vivo repetindo a metáfora de que para as dores existenciais não há anestesias. Em meu caso, nem para as dores físicas tenho anestesias a contento.
Mas, voltando a elas, não é incrível que alguém corte a gente, invada o nosso corpo, faça incisões e mil procedimentos e, entretanto, os dispositivos de dor estejam bloqueados?
É uma ilusão humana e gostosa essa de não sentir dor... Claro, são ilusões, coisas artificializadas... E depois o efeito da anestesia passa, meu amigo. E vem a dor. E haja outro arsenal de remédios para evitar a dor.
Daí que eu acho um absurdo partos com dor. Para quê? já é tão difícil parir, por que não usar anestesias?
E eu sou covarde, não quero ser mãe nunca! mas reconheço que também para isso aí deveria haver um atenuante da dor.
Mentira pura isso da covardia: é preciso muita coragem para assumir que não vejo graça na maternidade, não é meu objetivo, não está em meus planos e eu jamais tive a menor vontade de ser mãe.
Mas esse meu papo todo cheio de farmacopéias é porque eu estou irada por estar em casa, doente, caindo aos pedaços, com o meu nariz dolorido de tanta crise de rinite, com uma dor de cabeça tamanho King Size, toda sem energia, lerdinha e lenta, tanto que agora, neste horário eu estaria na academia mas, nem fui lá - nem daria mesmo: eu estou espirrando por minuto, tossindo como um motor de carro enguiçado e iria sufocar se fosse me exercitar.
No momento, mens insana in corpore insano!

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