Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 31 de maio de 2011

Mário? Que Mário?


Das utopias

Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que triste os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!

Pois é, é do Mário, do Mário Quintana. É dele, mas é da minha vida, porque eu fui arrumar essa minha estante bagunçada, na verdade, à procura do meu Estrela da vida inteira, que desapareceu, como convém desaparecer quando emprestamos livros aos outros – e volto a dizer, **takiupariu, porque p%rra é que me pedem livros emprestados, quando sabem muito bem que eu odeio emprestar? Não obstante o ódio, a cada vez que empresto considero uma doação involuntária, porque os picaretas nunca devolvem meus livros – e nada dos meus livros de poemas.
Aí vi essa edição de onde retirei o poema acima, tão linda a edição, com compra datada do final de 2007 – Oh, que dor! Foi comprado na Escariz do Shopping Jardins, certamente num momento de tristeza meu, naquela cidade triste e má que é Aracaju – e eu lembro como eram as minhas tristezas da tarde, naquele lugar vazio, de gente vazia de sentimentos, da menor solidariedade, daquela cidade que não sabe acolher, nem integrar... mas aí eu acho que eu tinha reencontrado o Ex-grande Amor da Minha Vida, na cidade dele, ali perto, porque fui visitar meus estagiários, em novembro...
Vi o Ex-Grande Amor da Minha Vida, conversei, beijei, abracei, chorei e fui embora ( e tinha uns, sei lá, nove meses que a gente não se via).
E sei lá o que dá em mim, mas eu digo facilmente a um amigo que o amo, mas reconhecer o amor por um homem é muito difícil para mim. Às vezes eu ignoro, não é só coisa de orgulho e altivez, eu ignoro que amo... talvez isso esteja acontecendo exatamente agora, ou é que eu não digo que amo porque realmente tenho dúvidas. Ou pode ser que admitindo eu vá perceber o quanto me faz falta não ter... e esse poema aí é exatamente um poema do não ter.
Eu mandei para ele um pouco depois da relação acabar – é, era inatingível, não dava...
Depois, num outro contexto, um poeta interrompeu minha palestra, em 2008, e me perguntou mil coisas e me pediu soluções – poeta e cretino, termos pares neste caso, assim como em todos os outros em que namorei poetas cretinos – e aí ficou em minha cabeça o nome do poema Das utopias, enquanto ele destilava seu materialismo histórico e dizia que Marx pregava a rebelião pelas armas. Não, isso não é ficção. Aconteceu. E eu olhei dentro daqueles olhos azuis, azuis de ilusão e convicção, e lhe disse que o maior erro de Marx foi ignorar que os homens também sonham; que além da materialidade das coisas está nossa porção simbólica, contendo tantas coisas que ultrapassam ideais e deslumbramentos... e lhe disse, ainda, que o que ele fazia ali, sem assumir Utopias? e o u-topos, meu filho, é o não-lugar, é o lugar que não existe.
E para quem quiser saber, como toda boa história de amor e ódio, “nosso amor não deu certo, gargalhadas e lágrimas”, porque nunca passou de um flerte e morreu no dia em que ele me chamou de pequeno-burguesa e eu não sei que resposta eu dei neste dia, mas sei que talvez fosse o caso de ele nem merecer resposta, porque, definitivamente, ele, coitado, não sabia nada do que estava falando, um fantoche dentro de um Partido. O que ele merecia ouvir? um sonoro “ora, foda-se!”. Se eu não disse, fiz com que assim fosse entendido.
Mas, enfim, o Mário! Que figura o Mário!

Um comentário:

  1. olá mara! sim, é, o tal poema. às vezes faço umas coisas assim para me entreter dentro da ironia. Agora o Mário é outra loiça... Grande quadra, acho que vou roubar.

    beijo,
    júlio

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