Louquética

Incontinência verbal

domingo, 29 de maio de 2011

Zapping (ou vapt vupt?)


Fala-se por aí que vivemos a era do zapping. E quanto mais tecnologia, mais zapping, mais superficialidade e menos paciência.
E olha que eu sou reconhecidamente impaciente.
Minha impaciência é limítrofe com a intolerância: eu não tenho a devida paciência para esperar e acompanhar a exposição de um raciocínio lento, tipo o Ronaldo Ex-fenômeno, por exemplo. Qualquer fala lenta, raciocínio lento, coisas lentas, gente paradona, me deixa irritada.
Gosto de respostas rápidas, de coisas para ontem, de objetividade e clareza – tem a ver com a minha hiperatividade, essa pressa com as coisas da vida, suponho eu.
Mas, então, essa conversa do zapping mexe comigo porque, no momento as pessoas abrem mil caixas de diálogo no MSN e vão respondendo, numa boa. As pessoas têm mil chips e sabem muito bem como é atender quem, em que operadora, em qual telefone; as pessoas têm 160 canais e não se fixam em nenhum. Aí é que está: eu faço zap, sim: troco canais, tiro daqui, coloco ali, mudo músicas e estações de rádio, nem sempre assisto, ouço ou vejo por completo nada – eis a teoria da superficialidade – mas se algo me conquista eu sou literalmente cem por cento atenta.
Isso em fez criar vícios, do tipo: assistir ao Café Filosófico todo domingo, às 22 horas, haja o que houver, desde que não falte luz. Faz parte de minha rotina de domingo, tanto quanto ir à academia às 17h30min quando estou em Feira.
Se não temos, no geral, a paciência de assistir, ouvir ou ver um conteúdo qualquer por inteiro, certamente isso resvala no outro lado da moeda, em conseguir se fazer ver, ouvir, assistir, em ter consistência para segurar o zappeador.
Mas a gente zappeia em tudo, né? Os namoros são ficância instantâneas, as amizades são troços descartáveis, nenhum relacionamento é eterno, ninguém é insubstituível e assim seguimos na era da pouca durabilidade de tudo. E não podemos reclamar: nós criamos isso tudo. Lembro bem desta frase que está em Nós que aqui estamos, por vós esperamos: “O homem cria as ferramentas, as ferramentas recriam os homens”, cuja autoria eu não lembro, mas deve ser de McLuhan ou algum filósofo contemporâneo.
Não parece que tem gente que vê a vida como um imenso Buffet de degustação? e aprendemos que é preciso experimentar de tudo e que para tudo há uma primeira vez. Entretanto, não há tempo, em nossa vida mundana, para experimentar.
Às vezes a qualidade da experiência vale bem mais do que o tempo – quantas coisas, meu Deus, eu já vivi em profundidade, em tão pouco tempo...quantas vezes a intensidade da experiência me fez duvidar do tempo, do passar do tempo!

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