Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

As identidades em suas crises


Depois das teorias de Stuart Hall, todo mundo se acha no direito de declarar que a identidade é uma instância móvel e fragmentária. Sim, temos várias identidades e várias modulações identitárias. O problema é a interpretação disso: o fato de as identidades não serem fixas não quer dizer que não tenhamos individualidade, que tenhamos duas caras, que não tenhamos firmeza em nada.
Sabemos o que é uma pessoa mau caráter e sabemos o que é uma pessoa sem personalidade , o vulgo "Maria vai-com-as-outras".
Isso tem um tempo certo para acontecer: enquanto você é um bestão que está na Universidade, construindo seu arcabouço teórico, se deslumbrando com Marx, com Marley, com Luther King, com Deus, com Frederic Jameson ou se achando um gênio incompreendido da literatura e da poesia, em particular, se identificando com Clarice Lispector ou com Lord Byron, até aí, tudo bem.
Sabemos que o normal é que o bestão nessa fase seja, num semestre, marxista, num outro niilista, depois se torne ateu, aí se filia ao PCO (Partido da Causa Operária)ou qualquer partido afim, passa a usar sandalinha de couro do Mercado de Artes, vai frequentar aquele barzinho aqui de Feira de Santana que homenageia Os Filhos da Erva (agora em alusão à banda feirense liderada por Duda, lembram de Duda, de Economia?), acha que quem tem tribo é índio, mas faz parte de Tribos urbanas (vai ser punk e ouvir o The Clash ou vai ser Pós-punk e ouvir The Cure), enfim, tudo é esperado.
Nessa mesma fase, todo tipo de droga será bem vinda e as orgias no Feira VI, em seus velhos saraus nas repúblicas farão uma versão retrô da geração de nossos pais e seu também velho clichê de "sexo, drogas e rock and roll", para o qual o povo atual contrapôs a "masturbação, antidepressivos e Restart"...olha como estamos f*didos!
Mas temos nossas decisões e coisas que são mais permanentes em nós.
Respondendo por mim, digo com todas as letras e sem o menor pudor que há coisas em minha identidade que nunca mudarão: eu serei eternamente heterossexual, eu vou odiar beringela e rúcula até o fim dos meus dias, eu nunca deixarei de ser uma pessoa honesta, eu nunca irei a um carnaval no Rio de Janeiro, eu nunca irei gostar de bebida alcoólica e há uma série de coisas, de teor sexual que não citarei aqui, que eu garanto que nunca vou fazer.
Aí está o outro ponto. Parafraseando o magnífico filósofo brasileiro Beto Barbosa, "Fantasia na cabeça, todo mundo tem!".
No reino da fantasia, nosso superego se afrouxa, permite mil coisas, passeia por muitos territórios e tudo é permitido.
Nossa fantasia pode ficar nuns fetiches bobinhos ou pegar pesado, indo de gangbang a menàge a tròis, percorrendo trilhas que desafiam a religião e zombam da vigilância moral. Mas nem tudo será tornado realidade. Fantasia é fantasia mesmo e muitas vezes o melhor lugar em que ela funciona é na imaginação.
Minha amiga, ontem, me perguntou se eu já havia transado com mulher.
Perguntou isso todo engasgada,sem jeito,claramente sem noção porque ela queria uma resposta de mim e uma resposta para si.
Como eu não vi a pergunta como ofensa, respondi a verdade: Não, nunca transei com mulher.
Daí veio uma meia-confissão sobre a outra minha grande amiga que, na interpretação daquela minha amiga ali, era apaixonada por mim.
Lembro que esta amiga citada um dia falou que procurou logo ter filhos porque andou se sentindo em crise de identidade sexual. Ora, para mim, problema dela!
Essas que me conhecem muito sabem que eu não vejo graça em mulher, sexualmente falando.
Tenho muita liberdade para achar uma moça bonita, admirar alguma coisa, ser carinhosa com uma amiga, essas coisas que nós, mulheres, fazemos.
Então ela me disse que sempre foi heterossexual. Ora, ela estava dizendo para mim, que já a conhecia desde os tempos de universidade, que como marujos dos piores navios, discutiamos os volumes penianos dos meninos de Engenharia e que hoje em dia ainda discutimos a velha teoria do tamanho.
Assim como eu, ela declara a importância do tamanho: ah, que me perdoem os pouco agraciados pela natureza, mas tamanho é fundamental. E olha que eu não estou falando do tamanho do pé!
Seguindo a conversa, ela confessou sua própria crise, sua angústia, sua agonia, porque agora ela se sentiu seduzida pela moça que está investindo tudo nela.
Imagino que ela esteja como aqueles gays que procuram se tornar crentes para segurar as pulsões sexuais e não saírem distribuindo purpurina por aí.
Ela teve medo de nossa amizade acabar, porque eu poderia achar que ela sapataneou de vez e que iria procurar ousadias comigo. Eu só pude rir!
Acho que minha amiga apenas está vulnerável e, no momento da sede, lhe veio uma água boa, no momento de fome, lhe veio uma mesa farta...e a comida desconhecida despertou mais a curiosidade do que o apetite.
Foi assim que um grande amigo meu deixou seu armário se abrir um pouquinho: apesar dos trejeitos, ele certamente nunca tinha se dado conta de que realmente era gay. Aí veio ele, com a ousadia que só os mais novos têm, e de erro em erro,de impetuosidade em impetuosidade,cercou, pegou e venceu o mais velho.
Acho que a identidade sexual é o que é.
Penso como Parmênides: nesse caso, não há devir pois, "O que é, é. O que não é, não é, nem pode vir a ser".
Mas acho que se há a dúvida vale tirar a prova.
Na dúvida, ultrapasse: ultrapasse as caretices morais, vença seu superego e chegue a uma clara conclusão.
Ela argumenta o óbvio e certo ditado que preconiza que não há ex-gay. Por isso ela teme experimentar e se tornar lésbica.
Eu adverti: pode não ser isso, você pode se tornar bissexual ou, simplesmente, pode continuar ainda mais heterossexual após notar que não há atração real pela pessoa do mesmo sexo.
Crise de identidade sexual uma pessoa muito próxima a mim teve, também. E foi realizar a fantasia: não realizou foi nada, ficou com nojo, sem jeito, não viu graça e voltou à sua base de segurança, com a fantasia desfeita.
Pior é se tornar aqueles que não se aceitam, os que já consolidados como gays ficam recobrando memórias de experiências heterossexuais passadas, como se isso fosse prova de heterossexualidade.
Sexo é descoberta (bem que eu queria que o meu vizinho gostoso viesse aqui, descobrir o meu!kkkkk!), então, é isso. E podem se misturar a estes fatores da descoberta as carências, os medos, as fantasias...
Faço comentários politicamente incorretos, repito machismos, falo coisas grossas, mas não discrimino ninguém pela orientação sexual - não há, é claro, quem passe incólume a um mal comentário diante de uma biba "fechativa",uma lésbica machadão, qualquer categoria que corresponda a um estereótipo. Sim, falamos, rimos, erramos, mas política e humanamente nós jamais permitiríamos qualquer desrespeito real ou violência contra nenhum homossexual.
O que eu disse a ela foi para parar de falar da possível relação homossexual como um erro ou como um crime. Depois, que se perguntasse se estava maltratando alguém, tirando algo a alguém, agindo em desfavor de alguém. E se a resposta for não, viva sua vida!

É vida vida amor brincadeira a vera
Eles se amaram de qualquer maneira a vera
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor vale a pena
Pena que pena que coisa bonita diga
Qual a palavra que nunca foi dita antes
Qualquer maneira de amor vale a aquela
Qualquer maneira de amor vale amar
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor valerá
Eles partiram por outros assuntos muitos
Mas no meu canto estarão sempre juntos muito
Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira de amor vale amar
Eles se amam de qualquer maneira a vera
Eles se amam é pra vida inteira a vera
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor vale amar
Pena que pena que coisa bonita diga
Qual a palavra que nunca foi dita diga
Qualquer maneira que eu cante esse canto
Qualquer maneira de amor me vale cantar
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá!

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