Louquética

Incontinência verbal

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ele, sempre ele!


Coisa chata é quando eu tenho que dialogar com o meu orgulho: ele sempre vence.
Como o sono é um bom conselheiro, eu, que dormi mal, resolvi ligar para ele, desafiando o meu orgulho. Em outras palavras: nem ouvi conselhos interiores.
Eu não sei onde meu orgulho iria me levar, mas sei que esse momentinho em que eu me desvencilhei dele, apostei na insensatez, me deixei levar pelo momento, porque, afinal, nessa manhã de domingo eu estava, novamente, Easy like a Sunday morning e, portanto, tudo deu certo.
Mas meu orgulho estava ali, me impedindo de dizer que ele me faz falta, que eu cansei de brigar, que estava com saudades, que eu precisava que ele me escutasse...e meu orgulho venceu essas pequenas disputas.
Ele ficou muito feliz por nossa conversa - incrível, já que homem odeia conversar e joga as coisas embaixo do tapete para nem ter que limpar.
Minhas amigas são totalmente cúmplices dele - acho que são cúmplices dos meus pares, em geral. isso me dá uma raiva! - e ficaram acompanhando meu telefonema, se metendo,dando indiretas, risadas, tirando foto e gritando a legenda: em breve no orkut, "Mara falando com * ao telefone"...ah, elas enchem o menino de ousadias.
Não consegui dizer tudo o que eu queria, mas pelo menos saltei um obstáculo subjetivo que eu ergui.
Não foi o bastante para eu admitir com todas as letras: "Eu preciso que você me entenda!", mas admirei a coragem dele em se despojar do seu orgulho pessoal, porque todos nós temos orgulho, e ouvi-lo dizer que o dia dele estava melhorando ali, que estava com saudades, que quando as coisas entre nós vão para o brejo, ele desmorona, bem, isso é coisa boa de ouvir, mas que nunca me convence.
Se eu insinuo coisas desses tipo, das que põem em dúvida qualquer declaração dele, aí é outra crise paralela que atesta que eu realmente não acredito nele...ah, que droga! todo mundo gosta dele!quando eu penso nisso só me vem à cabeça o Dom de iludir, a letra inteira dessa música.
Vejo tudo como somatórios de dispositivos de dominação, vivo com medo constante disso,de que alguém ou algo me domine.
Tenho medo da fé manipulada, dos delírios coletivos, de paixões que me descentrem, de voltar atrás numa decisão (ora, mas que idiotice, né? se a decisão é errada, por que não reconsiderar?),de admitir desejos, de me sentir vulnerável, de ficar frágil, de perder meu espaço, de dependências emocionais, de disputas afetivas, de decidir por impulso, da fugacidade de certos sentimentos e de certas felicidades ( e de maneira infantil, tenho medo de virar uma idiota que acredita em cartomantes, por exemplo.)...
Ao primeiro sinal de me colocar na gaiola, eu pulei fora da relação com Felipe, vendo nele toda a tirania que veio à tona numa única ida ao shopping, num único momento fora da universidade, e isso já tem mais de um ano. Ali eu vi que ele não se relacionaria com quem ele não dominasse.
Os dilemas particulares fazem com que sejamos quem somos e eu sou assim... mas seja lá como for, como quer que seja, acho que eu fico, estou e sou mais feliz quando tudo está em paz entre nós - nisso, nós nos parecemos muito.
Será que é isso mesmo? será que...

Amor é privilégio de maduros,
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, o amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe.

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio,
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.
(Carlos Drummond de Andrade)

Bem, é que ainda é cedo...

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