Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Inteligência para dar e vender!


É um protocolo ter que explicar, falar ou discutir a ética na pesquisa e os cercames todos da propriedade intelectual, especialmente nessa nossa era em que tudo se resume a copiar e colar.
Faz é tempo que vejo caras ofendidas porque o professor surpreendeu e provou o plágio. Só acho engraçado é o jeitão de ofendido do ladrão. Não esqueçam: apropriação indébita das idéias, argumentos e textos alheios é roubo, tá? eu nem falava agora dos meus próprios alunos, falava dos colegas, dessa graduação que eu (re)comecei neste ano. Olha, se fosse comigo eu morreria de vergonha!
Um aluno meu da Federal de Sergipe, acima de qualquer suspeita, sem a menor necessidade de plágio,fez exatamente um CTRL+C/CTRL+V, num ensaio que eu havia solicitado.
Por incrível que pareça, a coleguinha dele, do noturno, inventou de proceder da mesma forma, com o mesmo texto, numa daquelas coincidências de fazer partir a cara ao meio!
Ladrão tem que ser desmascarado!
Se você acha a impunidade na Política um absurdo, procure não deixar impunes os infratores do cotidiano: então, tirei xérox, anexei coisas, apresentei ao Diretor e as duas lindas pessoas passaram um semestre a mais para chegar à formatura, reprovei com gosto e com justiça.
Mas, há espertos e espertos. E se eu me sentir vitimada pelo roubo intelectual, pode apostar que invisto fundo na avaliação investigativa.
Não vejo como aqueles que encomendam trabalhos a terceiros, não se tocam: Ora, se vocês não sabem mostrar uma argumento coerente, se escrevem abaixo do nível desejado, se têm uma fama consolidada (isto é, todos os seus colegas já sabem que seus trabalhos nunca alcançariam certos parâmetros de escrita), como é que julgam que, estando num dia escrevendo: "Nós num vai resolver dois pobrema com dez real", amanheçam gênios que argumentam: " Em face de nossas sérias restrições orçamentárias, dificilmente teremos êxito na resolução destes problemas". Cuma?
Aí reclamam quando em bancas de Seminário de Pesquisa os arguidores fazem óbvias arguições. Ah, filhinhos, nós sabemos o que você fizeram nos semestre passado.
Tem um aspecto interessante nisso: é o outro lado!
Lembro da minha primeira redação de vestibular (o que eu fiz, passei e cursei), que trazia a seguinte citação de Marleau-Ponty: "Mas é que o erro das pessoas inteligentes é tão mais grave: elas têm os argumentos que provam".
Nunca esqueci!
E fico acusando mentalmente as pessoas inteligentes que possivelmente venderiam seus neurônios por alguns bons reais, a fim de favorecer um desses seres humanos desonestos.
Elas só são suspeitas porque são inteligentes - e talvez por uma inteligência ainda maior, deduzam que uma hora a casa cai para os seus compradores.
A transação é especialmente interessante para elas, que aprendem ainda mais, que lêem, que reforçam seus conteúdos e suas referências e que, afinal, dão a parte escrita para o Jeguerino Desonestino da Silva, mas, por serem realmente inteligentes, retém para si o conteúdo. Todo trabalho intelectual tem uma parte escrita e outra internalizada.
Eu, pessoalmente, não condeno quem vende, porque têm um duplo ganho: do dinheiro e do conteúdo.
Assim as coisas não saem do lugar: o relapso Desonestino nunca vai se esforçar por aprender, nunca vai alcançar nenhum mérito, enquanto quem sabe vai seguir sabendo mais e mais - aí vem o mega-povo da Pedagogia duvidar do caráter reprodutivista das relações intelectuais de hoje em dia.
Comigo seria o contrário: se eu visse que alguém subestimou minha capacidade intelectual, fosse aquele colega que não me quis na equipe, fosse o professor que não quis ser meu orientador, eu iria ralar para provar o contrário, iria dar boas lições de moral, deixaria o povo calado e provaria, sim, que fui eu quem escrevi, que fiz, que pesquisei...mas o que eu vejo, até agora, é um apego à Lei do Menor Esforço...e por conta disso eu tenho mais atitudes de piedade do que de punição.
Não sou negligente, não deixaria de aplicar a punição cabível, não deixaria impune um ser humano desse tipo (e esse tipo não é ser humano: é Cero, Mano!).
Louvo, sim, a quem tem inteligência para dar e vender. E vende, mas não vende tudo, não!fica com os maiores lucros, com os verdadeiros frutos do investimento intelectual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário