Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O que fica


Vivemos repetindo que somos mal interpretados, falamos de mal-entendidos, desconfiamos das aparências das coisas e das situações e não há quem ainda não tenha se dado conta de que alguma coisa foi editada ou que esta mesma coisa possa ser apenas uma versão da totalidade de um fato.
Vi que Marcos ficou meio com cara de quem tomou uma pancada na cabeça porque me viu, ali, sentada, almoçando com meus dois ex-namorados. Dava para ler na cara dele: "O que está acontecendo? será relação a três?"...e a gente, lá, sem entender o mal entendido.
Tenho meus ex-namorados como amigos e promovo a amizade deles entre si. Daí que a relação de amizade e cumplicidade se sustentam.
Há pouco eu estava ouvindo um deles, em seus segredos profundos, querendo uma opinião acerca de um caso. Boa conversa!
Um mau ex-namorado foi apenas Ricardo. Todos os outros, mesmo com os infortúnios que determinaram as separações, os fins de relacionamentos, sempre tiveram outros aspectos que permitiram o contato e eternizaram a relação no sentido de tê-la transformado em boas amizades.
Em meu caso, esses ex de tempos atrás não fazem a fila andar em círculos: são meus amigos, nem lembro de intimidades sexuais ou coisas do gênero, não tem mais aquela malícia erótica do tempo do namoro. Isso não exclui umas brincadeiras de duplo sentido, nem alguns desconfortos das namoradas e esposas deles, mas com o tempo se passa a naturalizar a relação.
É meu velho mas válido argumento: se houvesse interesse de outra ordem, não seríamos ex.
Trocamos confidências, tomamos decisões em conjunto, pedimos opiniões, intervimos reciprocamente em assuntos variados de nossas vidas, enfim, a ligação ganha outros contornos.
E para sanar curiosidades, esclareço que almoçávamos a três porque um dos meninos estava comprando um carro zero e tinha muitas dúvidas para dirimir, além de pedir ao outro, que se tornou seu amigo por minha causa, que lhe ajudasse na compreensão da mecânica do modelo pretendido. Mas nós nos gostamos o suficiente para aproveitar o pretexto da compra e almoçar, debater coisas, rir... os olhos conservadores de meu amigo é que não entenderam - eu sei que é difícil, especialmente para Marcos, que acompanhou todo meu namoro com um deles, nos tempos da universidade, entender que após 5 anos juntos tudo tenha virado amizade.
"Ih, deixem que digam, que pensem, que falem, deixa isso para lá, vem para cá, o que é que tem?"

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