Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 3 de março de 2011

Alívio Imediato


É muito difícil não achar o Humberto Gessinger um cara arrogante e antipático, mas, à parte as antipatias, admitamos: ele compôs muito bem nos tempos áureos dos Engenheiros do Hawaii.
Adoro Toda forma de poder, Refrão de Bolero e Alívio Imediato. Incrível a atualidade da letra, porque quando eu cantava essas coisas era no fim dos anos 1980, aquelas tensões todas de 1987 e 1988, Queda do muro de Berlim e outros caos que faziam a gente, que ainda estava no Colegial, pensar no futuro e temer.
E não é que "A Líbia bombardeada" está na ordem do dia e a "libido e o vírus" pouco mudou ao longo desse tempo, porque a AIDS continua, apesar de coquetéis e comprimidos.
Tem uma parte que eu discordo, mas que nos ilude fácil: é que em Toda forma de poder a banda canta: "A história se repete, mas a força deixa a história mal contada".
Parece, né? a história parece mesmo se repetir, tanto assim que a música continua atual, pois a Líbia segue bombardeada.
Mas a História nãos e repete por que o tempo não anda para trás: repetimos erros, ações, estratégias, mas o Devir histórico não permite a repetição.
Isso significa que tudo sempre muda, d ealgum modo, ainda que sutil. E pode mudar para pior.
Mas, então, sou encantada pelos versos: "Há um muro de concreto/entre os nossos lábios,/Há um muro de Berlim/Dentro de mim". Há um muro mesmo, gente!
Por outro lado, o título, Alívio imediato, me remete aos meus amigos, aqueles que não aturam as angústias da vida sem um tarja preta, que acham que ao menor sofrimento é preciso o alívio imediato de algum fármaco e, assim, repetem o ciclo até o fim da vida, sempre atenuando sintomas e nunca curando a causa - alívio imediato é sempre uma promessa deslumbrante (tanto quanto trazer a pessoa amada em 03 dias ou "Páre de sofrer agora!"), queremos anestesia - e pode ser a anestesia de qualquer origem, até de origem duvidosa.

Engenheiros do Hawaii - Alívio Imediato

O melhor esconderijo, a maior escuridão
Já não servem de abrigo, já não dão proteção
A Líbia é bombardeada, a libido e o ví­rus
O poder, o pudor, os lábios e o batom
Que a chuva caia
Como uma luva,
Um diluvio,
Um delírio,
Que a chuva traga
Alivio imediato.
Que a noite caia,
De repente, caia
Tão demente
Quanto um raio
Que a noite traga
Ali­vio imediato.
Há espaço pra todos, há um imenso vazio
Nesse espelho quebrado por alguém que partiu
A noite cai de alturas impossí­veis
E quebra o silencio e parte o coração
Há um muro de concreto entre nossos lábios
Há um muro de Berlim dentro de mim
Tudo se divide, todos se separam
Duas Alemanhas, duas Coreias
Tudo se divide, todos se separam
Que a chuva caia
Como uma luva,
Um diluvio,
Um delírio
Que a chuva traga
Alivio imediato

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