Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 22 de março de 2011

Andy, I love you!


Sabe aquele quadro que o Andy Worhol fez, juntando uma porção de imagens de Marilyn Monroe? Essa coisa da reprodução em série rende muitos panos para mangas, tanto para analisar a indústria cultural, a dessacralização da arte, o consumo de massa (para você, mano véio, que pensa que consumo de massa é ingestão de lasanha e pizza), os ícones do pop e , claro, guarda uma silenciosa comunicação com os postulados filosóficos de Walter Benjamin, quando este discute a obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica.
Acontece que, enfim, eu começo a ver que os meus mais íntimos amigos estão certos: meus namorados são como uma reprodução em série das mesmas caras. E, se não das caras, das mesmas características.
Inventei de arrastar Cléo para ir ver L.E., por quem ando muito interessada – duvido que ele saiba que eu exista, apesar de a gente se ver pelo menos uma vez por semana, por conta das circunstâncias comerciais que regem as minhas necessidades e o emprego dele – ele trabalha num lugar a que vou com freqüência.
Andei dizendo que ele parece com C., antes de levar Cléo até lá.
Assim que Cléo viu L. E., me falou dos olhos dele. Aí eu pude ver que eram os mesmos olhos de C., olhos que não se encontra por aí, em qualquer um. Mas são um tanto mais vivos.
Cléo comentou que já havia notado ele. Concluímos que não há mulher que não note aquela obra máxima de Deus, ali, exposta ao público. Ela comentou que ele parece alheio e eu repliquei que ele parece altivo – não metido, nem indiferente, mas alguém que tem que lidar com muitas mulheres, o tempo todo, e manter a devida dignidade. Concluo que ele não seja cafajeste, afinal, não gosto de cafajestes.
Depois comentei, antes de vermos que ele estava realmente lá, que eu acreditava que ele não estaria ali, num domingo, porque eu creio tê-lo visto ao longo da semana, todo o dia, o dia todo. Mas ele estava e não sei por que, passou por trás de mim, de modo que eu só vi que ele era ele um pouco depois. Mas acho que ele não me vê.
Entretanto, isso revela outro detalhe dos meus namorados em série: eu gosto dos homens ocupados, me apaixono pelos workaholic num piscar de olhos. C. é workaholic, tanto quanto o Ex-Grande Amor da Minha Vida: viciado em trabalho. Eis os problemas da minha neurose!
Hoje, quando eu saí da UFBA, de manhã, procurei nem pensar em nada que me lembrasse C.
O dia estava horrível, numa chuvinha desanimadora, na maior paisagem de velório...lá fui eu, dar uma circulada com a minha amiga – chatésima amiga porque está apaixonada e, não sei se por preconceito meu ou por outro motivo, acho que o grude de amor de mulher com mulher é mais controlador que entre os heterossexuais. Enche o meu saco o grude das duas, a todo momento na procura e no interrogatório: “Você está onde?”, “Tá fazendo o que?”; “Tá com quem?”; “Blablablá!”.
Para ter mais privacidade em seu blábláblá, ela se sentou no café lá da Saraiva, pediu um café e resolveu ir se esconder atrás de umas prateleiras de CDs, me largando sozinha na mesa e deixando o café mais frio do que coração de psicopata.
Aí é quando vem a idiotice: toda vez que alguém nos pergunta por que fizemos determinada coisa e a resposta é “sei lá”, acredite: você fez por mera idiotice. Por isso não há resposta, porque responder é confrontar com nossa capacidade de fazer idiotices. Bom, eu mandei um torpedo para C., como eu não devia, sei lá por que...
E sabe o que é você ser idiota e infantil, prescindindo do bom senso, da sensatez, do orgulho... aí eu escrevi tatibitate: “Já que você não tem coração, faça um transplante. Ou aceite o meu, que é todo seu.” Não fosse só a vergonha de escrever coisas ridículas (está vendo aí porque “Todas as cartas de amor são ridículas”?), eu é que me pergunto: onde eu estava com a cabeça?
Aí minha amiga voltou bem na hora em que eu estava rindo de mim.
Confessei meu delito e ela quase me matou – porque eu me traí e porque, de fato, esses omitidos “blábláblás” diziam coisas que não se diz sem suscitar uma promessa.
Como a mensagem foi lida e comentada em tom de voz normal, o povo da mesa ao lado ouviu e inventou de me perguntar uns negócios que não tinham nada a ver, sobre internet e wireless, ali, na livraria do shopping, certamente procurando um pretexto para falar sobre a mensagem e coisas correlatas, mas eu tive vergonha, respondi – ah, gente, **taqueopariu! Eu respondi sobre a p%rra do wireless que eu não tinha nada a ver, tornando natural uma conversa totalmente fora do prumo – respondi com naturalidade, sem demoras, avançando pela escada para fugir do ridículo que havia se tornado público...e ainda não me perdôo pela falha.
Aí, voltamos ao ponto da reprodução em série: acho que procuro compensar as coisas, buscando homens com a mesma fisionomia, como se a história fosse a mesma.
Certo, tem as minhas preferências; tem processos de identificação; tem outros fatores em jogo, mas eles são muito parecidos – lembrei de coisa bem piores e impublicáveis, não por serem relativas a sexo, mas por serem coisas antiéticas, nesses negócios de estar com pessoas que têm a mesma cara.
Mas, acima dessas coisas, poxa, eles são muito bonitos. São homens bonitos mesmo: de porte, de expressividade fisionômica, de uns olhos tão incríveis, de mãos fantasticamente lindas e firmes, com a devida habilidade para carícias...Eles são tão iguais e tão outros!

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