Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 3 de março de 2011

Sinceridades perigosas


De vez em quando eu me sinto como O Misantropo, de Molière: me dá uma vontade de ser extremamente sincera e responder com a mais cruel das honestidades a tudo quanto me perguntam (assim fez Alceste, personagem principal de O misantropo).
Minha amiga resolveu me pedir uma opinião sobre a namorada dela. Vê se pode!
Eu não entendo nada de sapatania, sou leiga. Meus amigos gays são do sexo masculino,se é que assim se pode dizer.
Só tenho uma amiga do babado, com quem eu nunca toco nos assuntos dela com a esposa - aliás, estão se separando agora, pelo que eu soube.
Mas, me deu uma bruta vontade de derramar a verdade.
Que ela não saiba o que eu penso sobre a namorada dela, se não a terra ia tremer!
Se eu andei de brincadeira com o filósofo cearense Falcão, quero me retratar: ele fala da viadagem congênita e da baitolagem adquirida e isso não pode ser subestimado. Há , de fato, os homossexuais que assim são por conta de configurações já arraigadas nos genes. Até uma amiga minha, que tem irmão gay, bem como a tia de outro, falava das crianças gays, que muitas já podem ser reconhecidas como gays desde cedo.
Tive alunos assim, desde crianças, gays - e com todos irmãos gays; tenho colegas de outros campi assim, que dizem que têm outros irmãos gays.
Não redundo as coisas a um determinismo biológico (eu sei que você pensou em boiológico, viu?), mas tem um fator congênito.
E tem, claro, a escassez, que é o caso de minha amiga: sempre heterossexual, sem a menor caidinha para a sapatania, que se deixou seduzir por uma proposta bem feita, pela insistência da outra, pelas demonstrações de um amor que um homem nunca foi capaz de dar a ela, até porque, não há mais homens e muito menos homens do sexo masculino que sejam heterossexuais.
Tinha um tempo em que discutíamos que há honestidade na solidão. E era essa honestidade de não querer ficar com o lindo que vai nos trazer dor e nos tratar como marionete; de não querermos os brilhantes que têm o ego maior que o pau ou que nem sabem usar o que têm; de não querer ceder aos desesperos de causa e pegar quem não tem nada a ver.
Por falar nisso, minha amiga pôs o maior fogo para eu ficar com K.C., e não façam trocadilhos por que não é Ká-Cê (te), juro! menino gente fina, mas não para amassos. Nem por isso deixa de rolar a pressão para ficarmos.
Nunca mais quero isso para mim: ficar com quem eu não deseje realmente, pegar para quantificar, nada feito. Demorou, mas na analista eu vi bem claramente que eu prefiro nenhum sexo a um sexo ruim, e muito menos ter por companhia alguém que não desperte o que um homem deve desperta em nossos desejos.
Eu lembrei foi dos Titãs: "Eu nunca mais vou dizer o que realmente penso,/Eu nunca mais vou dizer o que realmente sinto...", porque eu iria arruinar minhas amizades:
Eu diria que eu acho ridículo você assinar um e-mail com todos os títulos e ocupações profissionais das pessoas. Putz! reproduzem o currículum. Fica algo assim, sabe: Zé da Silva Orleans e Bragança Rockffeler Onassis , professor titular de Teoria da Titicagem, Mestre em Pamonhologia, Especialista em Orgias Ocultas, membro da Sociedade Brasileira de Crocodilogia, Doutorando em Egolatria Aplicada, Presidente da Liga Nacional pelos direitos dos Canhotos;
Eu diria que eu abomino o discurso desgastado de quem ama o poder, de quem idolatra a cadeira que ocupa, de quem adora a hierarquia, mas se esconde atrás da máscara da seriedade e da idoneidade moral que ele comprou de terceiros;
Eu diria que eu tenho o maior bode de andar com certos amigos de meus amigos, aliás, eu assumiria com eles que deixei de ir a qualquer programa conjunto, porque não quis estar na mesma mesa que certos malas;
Eu diria na cara de quem eu gosto tanto, de quem eu admiro e com quem eu acabei de romper a relação: "Meu amor, você é um puxa-saco ridículo!"
Eu diria a todo mundo que aquela bruxa é um whisky paraguaio: é falsa é dá dor de cabeça;
Eu diria a quem nunca foi minha amiga: "Saiba agradecer àquela que você escrachou, mas que foi sua amiga e abriu as portas para tudo que você tem hoje, inclusive seus novos amigos, herdados a partir do contato com ela, e agradeça ainda mais pela sua vida profissional, seu monstro mal agradecido! reconheça que você é venenosa, ingrata e má!"
Eu diria à minha chegada: "Não adiante aprender a dança do ventre, seu marido é galinha, sempre terá outras amantes, eternamente."
Eu diria três amigos; "Faça um esforço, tome banho e escove os dentes!"
Eu diria à minha paixão deste mês: "Eu vou te amar para sempre, até que pinte coisa melhor ou até que o tédio me atinja em cheio!"
Eu diria ao bêbado incômodo que me cata no final da festa: "Olha, o problema não é com você, é comigo, que não consigo ter atração nenhuma por homem desleixado e desagradável!"
Eu diria para N.M.: "Eu nunca mais te liguei porque não valeu a pena! se eu gostasse teria sido diferente", e mais: "Sim, é muito pequeno! estou fora!"
Eu diria ao "trio" que eu acho ridículo e muito mal educado o ato de você ignorar e-mail que contém perguntas, que pedem conselhos, que é humilhante para quem enviou e ainda mais aviltante para quem se acha e ignora as palavras do outro;
Eu diria para a Mulher Pequena; "Você é amarga demais e não parece tão nova quanto você pensa!
Eu diria para Um Outro cara: "Você gosta de subestimar os outros. Onde erstá mesmo sua superioridade?"
Eu diria ao meu amigo: "Seu namorado é muito falso, duas caras e interesseiro!"
Eu diria a um outro amigo: seja homem, tenha a sua opinião!
E uma hora eu ia ter que dizer à minha amiga tudo que eu penso sobre a moça. Olha , eu nem precisaria dizer, apenas quando ela me perguntasse: "E aí, o que você achou dela?", eu apenas diria: "Corra, Lola, corra!"
E como eu não vou poder falar nada disso, deixa eu me resignar antes que me apareça um Kadafi e me ponha no exílio, ostracismo político.

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