Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 31 de março de 2011

Ignorar ignorantes: um ato de liberdade


Acho que ele, o Outro Lá, nunca vai entender que eu gosto da minha solidão.
Não é a solidão brava, de não ter um abraço para lhe acolher, um lado para o qual correr quando o bicho pega, um ouvido atento nas horas de angústia, nem olhos atenciosos para as nossas mágoas: é a minha solidão tranquila, quieta, bem minha, tão minha.
É este prazer de que minha cama esteja ali, à minha espera, sem incômodos, sem barulhos, sem explicações, tudo à minha escolha - inclusive de quem um dia possa, quiçá, estar em minha cama...mas é que eu não gosto disso sempre, todo dia...
Meu amigo hoje estava me dizendo que não se casará pela terceira vez caso o seu matrimônio venha a se dissolver: é que tudo vira obrigação, inclusive a companhia do outro - e o sexo, e as despesas, e as datas comemorativas em que não há o que se comemorar.
A minha solidão tem a ver com a minha liberdade, porque eu gosto de estar só, é escolha: por mais que eu goste de alguém, seja amigo, namorado, ficante, parente, etc., eu gosto de ficar sozinha. Talvez isso seja o egoísmo de gostar de mim mesma e precisar ficar a sós comigo mesma - ah, quem disse que eu estou à procura de explicação? É bom e eu gosto.
Gosto de todas as outras companhias, porque são companhias: não quero ninguém em meu osso vinte e quatro horas por dia.
Talvez tenha a ver com o fato de que sempre escrutinaram minha vida, minhas agendas, meus diários, meus escritos, minhas fotos: a vida toda houve um bisbilhoteiro em minha cola...
Tudo aquilo que a gente não conta, acaba criando lendas urbanas sobre nós mesmos, do tipo: traumas nunca sofridos, namoros que nunca ocorreram, atos que nunca cometemos, mas que, enfim, como criação coletiva acaba pegando. Nem ligo! ligo apenas quando é injúria real, fofoca; e quando o negócio é descabido. O resto, o que imaginam ou que criam, não me irrita.
E por falar em irritar, andei notando que eu estava me irritando pelo fato de que um certo Ser Humano fazia cara de paisagem ao me ver. Eu achava isso uma afronta: a gente se conhesse há uns 04 anos, tivemos uma certa aproximação; e a última vez em que ele me cumprimentou foi na Páscoa do ano passado.
O problema é que eu me importava, porque eu queria que a gente fosse amigo como começamos a ser, mas ele foi se distanciando inexplicavelmente.
Hoje eu o encontrei: passei por cima dele como se ele fosse transparente - ah, todos os fantasmas são.
Foi para ferir mesmo, porque sei que os que têm ego imenso, ao perceberem que não são significantes como pensam, quando finalmente viram passado e não despertam em nós nenhum desejo de lembrança, sofrem o impacto de nosso gelo.
Sei que fiz por maldade: passei por ele, na ida e na volta, como se ele fosse transparente, fiz cara de paisagem, ignorei, passei por cima. Fiz isso mais para mim do que para ele, para que eu visse que aquela minha desconfiança, na verdade uma dúvida, sobre cortar o contato mínimo, excluir das redes sociais, deletar de minha história, já estava mais do que clara como a certeza de algo que eu deveria fazer. E fiz. Não quero mais papo, nem contato, nem gracinha.
É que eu achava mesmo que ele tivessea algum significado para mim, mas,tanto faz: eu me interesso tanto por ele quanto pelos rumos da Economia do Sri Lanka ou pela territorialidade cíclica das formigas na Noruega...
Os cumprimentos não devem ser uma obrigação burocrática, no caso das nossas escolhas. Escolhi que não quero mais contato, qualquer que seja, nem mesmo aquele contato que a Educação exige.
Coisa boa é esvaziar gavetas, jogar fora o que apenas ocupa espaço,se livrar do que não é útil, se desfazer daquilo que não soma nada à nossa vida...
E estou me sentindo tão bem!

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