Louquética

Incontinência verbal

sábado, 12 de março de 2011

Os opostos


Basta a gente inverter um termo para mudar todo o sentido das coisas:
Pequenos prazeres é algo diferente de prazeres pequenos;
Lábios grandes é uma coisa bem diferente de grandes lábios;
Grande homem é deveras diferente de homem grande, e assim sucessivamente.
Mas, vamos lá a uma inversão que nem sequer se inverte: nos relacionamentos de hoje em dia, tem gente que casa e quer morar separado e tem gente que mora junto, mas não casa. Não acho mal nenhum destes casos, apenas, de modo particular, não tenho saco para morar com ninguém.
Também confirmo que não sou de fazer birra por causa das diferenças, desde que estas não sejam diferenças que me assustem. Daí que quem me conhece sabe que odeio pêlos; que eu detesto gente inimiga do banho e de perfumes; que eu defendo os direitos das mulheres e, portanto, tenha cuidado com palavras machistas; que eu não suporto discurso evangelizador salvacionista nem paranóicos religiosos e sua fé manipulada; que eu odeio cigarro e água gelada, e que não, eu não acredito em cartomantes e não leio auto-ajuda (ora, sinto muito, mas eu não acredito que ninguém me traga a pessoa amada em 03 dias e muito menos em quem me promete a vida eterna), e jogo meus próprios defeitos no ventilador porque acho uma afronta alguém não assumir erros e defeitos.
Há diferenças administráveis e outras que detonam guerras.
Acho que comecei a falar dessas coisas porque tem um casal de amigos meus que, definitivamente, não dão certo,não se querem, se alimentam de brigas, mas nenhum dos dois tem a iniciativa de encerrar a relação.
O oposto é verdadeiro: é preciso ser muito besta, muito quadrúpede, muito imbecil para ficar esperando quem nunca virá.
Na perda de tempo dessa espera vã, a pessoa fica lá, "esperando, parada, pregada na pedra do porto", como disse Chico Buarque, deixando a vida passar e as oportunidades sumirem. Claro: quem quer a gente, fica com a gente! o resto é ilusão de cabeças apaixonadas.
Mas, então, num casamento,quando a pessoa já não quer a outra, fica cozinhando, esperando ver quem vai ceder primeiro, num joguinho besta...
Uns arrolam o nome dos filhos, outros se dizem velhos e cansados, uns tantos, alegam que todo mundo é igual mesmo,então, melhor ficar no tédio... e arrastam a porcaria da relação mais em ruína do que prédio depois de terremoto.
As pessoas morrem em nós, à medida em que, sendo os mesmos, nos tornamos outros. Tudo muda e aí as peças não encaixam mais, o par já não funciona. Lembra que quando a gente perde um dos pés do sapato ou da meia, a gente fala que "descasou"? é, já não forma um par.
Lembrei de minha amiga, por falar em par,que entrou no Par Perfeito, pagando uma assinatura mensal em troca de pretensos contatos que nunca vieram. Estão aí coisas que eu nunca vi na vida: gente que ganhou no sorteio da capitalização, nem gente que constituiu par através de agências virtuais de relacionamentos.
Não digo que a pessoa entre ali no Bate-papo, jogue umas mentiras e escute outras em dobro e acabe dando uma saidinha com o loiro, alto, de olhos azuis e bem sucedido que, na vida real, não passa de um baixinho problemático,de cabelo descolorido por água oxigenada a là pagodeiros, estagiário ou officeboy da empresa do tio, com duvidosas habilidades sexuais. Esses aí existem, mas o resto é pura invencionice.
Bem, minha amiga jogou dinheiro fora e partiu para outra, literalmente.
Os meus amigos, estes de que trato, seriam mais felizes separados, esse é o caso.
Juntos eles são infelizes e fracos - a força do costume arrasa com tudo e talvez seja o caso de quando um deles cair fora, se é que isso possa acontecer, distantes eles encontrem meios de reatar - nesse caso,seria o mero prazer de ter por perto alguém para azucrinar.
O casal neura existe, não é ficção...só espero que as torturas recíprocas não durem até que a morte os separe.

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