Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 25 de março de 2011

E o tempo levou...


Hoje de manhã eu estava vendo a polvorosa que uma nova pesquisa sobre longevidade despertou na imprensa e na opinião pública.
Sou uma pessoa muito mal humorada com a idéia de viver demais - já sabem, papo de Eternidade não me conquista. Acho que a grandiosidade das coisas está, justamente, no fato de que nada é eterno, tudo tem seu tempo de acabar,tudo tem seu tempo de durar.
Quanto à morte, a gente pode adiar, mas não evitar.
Vivemos um dia a mais, sacrificamos isso e aquilo, acreditamos em bons hábitos de vida e etc., mas não tem jeito: todo mundo vai morrer.
Contudo, cada um decide que preço quer pagar por uns tempos a mais de vida.
Em meu caso, é bem possível que eu não pague o preço de uma vida sem açúcar, sem prazeres alimentares, sem pequenos hábitos, em troca de permanecer sobre a face da Terra por mais 01, 05 ou 10 anos.
Eu digo isso e nem me reconheço , porque eu sou daquelas pessoas que pisam no chão devagarinho, que são comedidas, que pensam muito antes de arriscar, que têm um bom cuidado consigo mesmas no sentido de evitar perigos desnecessários.
Tem um trechinho de uma música de Léo Jayme, Nada mudou, que sempre ficou em minha cabeça:
Os velhos jogam dama na praça
Professores de tudo que é dor
Fingindo esconder a falta que faz
Viver um grande amor.
E eu penso que viver a vida sem amores, assim como estar vivo sem uma série de outras coisas, nem é viver.
Diz a velhíssima mãe de um amigo meu, que, por sinal, é meu ex-namorado além de amigo, que a vida tem outros valores.
Tenho uma ironia com a vida, sabe? quando vejo aqueles anúncios estatais sobre a educação e Lázaro Ramos fala que o bom professor deve ter brilho nos olhos, dentro de mim eu fico pensando em comprar sombra-glitter, porque, francamente, brilho nos olhos diante do quadro geral da educação, só se for com maquiagem de qualidade.
A Psicanálise até diz algo similar em relação às pessoas, nos tempos atuais: queremos parecer jovens para dar este efeito de maquiagem, para esconder que caminhamos para a morte. Envelhecer é caminhar para a morte. Se a velhice está na cara, se está evidente, se está na aparência,pensamos que estamos passando.
A meu tempo, na primeira série, quando a professora nos falava e eu repetia com a classe que os seres vivos:"Nascem, crescem, reproduzem-se e morrem", demorou para eu ver que esquecia um item: envelhecem. Eu esquecia disso ou penso não ter ouvido senão bem mais tarde.
É que eu não queria ser uma velhinha descompreendida, não queria ser anacrônica, extemporânea, tipo Serguey ou Mick Jaegger, tá? e do jeito que eu sou, como é que eu vou deixar de gostar de rock and roll, como vou viver sem aventuras amorosas e sem sexo?como é que eu vou me adaptar à velhice, caso eu chegue lá?
Para a sorte de minha geração, já não somos sessentões aos sessenta, embora continuemos quarentões aos quarenta - mudou tudo: de hábitos a sonhos e aparências.
Mas eu comecei a, assim como minhas amigas, ter medo de quando os quarenta chegarem: é que Ilmara me convenceu de que a gente faz quarenta anos num dia e no dia seguinte todas as doenças do mundo pegam a gente. Daí que é essa a nossa primeira morte, que dá uma crise do cacete! que nada nunca mais será como era antes, que a gente se percebe velha, velha, velha. E tudo dá errado!
Todas as doenças que você só ouviu falar através de estatísticas aparecerão nos seus exames.
Minha amiga Cléo, que está na fase da revolução, espantada consigo mesmo, atribui suas mudanças - ela que era Sandy e agora é Lady Gaga - a uma crise pré-quarenta anos.
Tatiana conta, desesperada, que está nesta crise também, achando que não conquistou nada enquanto o tempo passou - um absurdo! minha amiga é incrível, fantástica, produtiva...
Aí eu fiquei pensando em Vanilla Sky, no filme que eu adoro, sabe?não que eu quisesse me congelar e acordar numa outra era um século ou mais após ter morrido, mas se eu pudesse eu ficaria trancadinha aqui, na casa dos trinta.
Veja a confusão: antes de termos quarenta anos sofremos com medo que este dia chegue. Aí daqui a uns anos o dia chega e nós já teremos sofrido com bastante antecedência.
Agora olha o meu pavor: tenho pavor de passar por uma mamografia, porque parece que colocam nossos seios numa sanduicheira e achatam.
Aí em todo concurso tem lá o dispositivo legal, a exigência de que a coitada da aprovada tem que apresentar este exame, caso ela tenha a partir de 40 anos.
Ouvi na Globo News que o exame é cobrado a partir dos 40 anos porque é nessa fase que a consistência dos seios está menor, permitindo que o aparelho ( a sanduicheira de peitos) detecte qualquer anomalia.
Agora eu não sei se tenho mais medo do aparelho ou de que a consistência dos meus seios vire esse negócio aí...
Como bem disse o senhor Machado de Assis: "Matamos o tempo;ele nos enterra!"

Nenhum comentário:

Postar um comentário