Louquética

Incontinência verbal

domingo, 13 de março de 2011

Mortal Kombat ou Dias de luta


Sabe aquela música do Belchior, Comentário a respeito de John, que diz:
Saia do meu caminho
Eu prefiro andar sozinho
Deixem que eu decida a minha vida
Não preciso que me digam
De que lado nasce o sol
Porque bate lá meu coração
Sonho e escrevo em letras grandes,
de novo!
pelos muros do país
João,
O tempo
andou mexendo Com a gente,sim!
John,
Eu não esqueço
A felicidade
É uma arma quente
Saia do meu caminho
Eu prefiro andar sozinho
Deixem que eu decida a minha vida
Não preciso que me digam
De que lado nasce o sol
Porque bate lá meu coração
Sob a luz do teu cigarro na cama
Teu gosto ruge,
Teu batom me diz
João,
O tempo
andou mexendo com a gente, sim!
John,
Eu não esqueço
A felicidade
É uma arma quente.

Pois é, eu lembro de ter visto não sei onde, uma entrevista do próprio Belchior dizendo que tinha um amigo que dizia que John Lennon andava conversando com ele, perseguindo ele e tudo mais, revelando, claro, que tal amigo estava era em franco estado de esquizofrenia.
Quantas vezes a gente não se sente perseguido? E também nesse quadro, recentemente foi Lobão quem declarou no programa Pânico (da Jovem Pan) que ou ele, o próprio Lobão, era um paranóico ou o Hebert Vianna copiava as idéias dele. E explicou, com muita clareza e propriedade que ao lançar a música Me chama, na sequência Os Paralamas do Sucesso lançaram Me liga; Lobão fez Cena de Cinema e os Paralamas fizeram Cinema mudo e daí ele engata as várias paridades de títulos e conteúdos diversos que confirmam que não há nada de paranóico, sendo tão explícitos os beira-plágios que comparando-se Canos silenciosos e Alagados, além de outras experiências com samba-funk, não tem remédio: Lobão foi, sim, mais que uma inspiração para as experiências musicais dos Paralamas.
Excedendo as circunstâncias patológicas, tem vezes em que a gente é tão perseguida na vida real, que sequer acredita. Pelo menos assim ocorre comigo... besta sou eu, se não acreditar.
Mas tem outras vezes em que o nosso perseguidor somos nós mesmos.
Isso faz com que a gente até antecipe o fracasso numa luta, porque presumimos que já há um vencedor; isso faz com que a gente fique impossibilitado de lutar ou de concorrer porque a batalha é julgada previamente perdida.
Para Tati a reação deveria ser outra: mesmo cantando derrota antes do tempo, o melhor a fazer é dar trabalho para ser derrotado.
Se você se sente perseguido ou preterido, o melhor caminho é se aperfeiçoar, melhorar, se fortalecer, de modo a que, aquele que você pensa antecipadamente vitorioso, o queridinho, o favorito, tão ciente de sua superioridade e da sua própria vitória tenha que suar para vencer – se é que vencerá mesmo.
É muito comum que na vida da gente nós não apliquemos os próprios conselhos que damos, mas eu não entendo direito isso, salvo, claro, pelos dispositivos internalizados e inconscientes.
Tem gente que se sente perseguido, preterido, vigiado, e tem outros que se sentem amparados, como se houvesse um ente ao seu lado, o tempo inteiro, invisivelmente lhe dando força.
Sou defensora da ética: para mim, não teria sabor uma vitória de cartas marcadas, uma luta desigual, um duelo sabotado. Eu nunca me permitiria o aproveitamento de contatos e amizades para ser aprovada em nada nessa vida, de tese a concursos, fosse lá o que fosse, porque a vitória suja não é vitória e contradiz a minha necessidade de lutar um bom combate, sem golpes baixos, sem recorrer às atitudes baixas, mas é também notório que há quem manipule as nossas inseguranças e manipule nossa força – e nem sempre isso é feito pelos nossos inimigos.
Hoje a minha amiga Tati me deixou bem claro isso, de que é preciso ver quem está ao nosso lado e quem está ao nosso lado para manipular a gente, porque pode ser confortável fazer da confiança depositada um cartão de acesso a uma intimidade que dispense nosso bom senso e que nos ponha a serviço dos interesses do outro.
Também falávamos de que é preciso mesmo saber dar trabalho aos favoritos. Então, se há gente que vai levar a melhor em relação a você, se há os que vencem as batalhas utilizando a lei do menor esforço, procure você se esforçar! Dê trabalho!Já viu como é que acontecem os jogos de Baleado, na nossa infância (é o mesmo Queimado ou Baleou, viu, gente? Diferenças regionais na nomenclatura)? Você pode ir arremessando a bola para acertar as pessoas, mas tem lá os fortes, que sempre vão se desvencilhar da rota da bola. Nessa, você pode perder a bola e se tornar o alvo.
Entretanto, você pode cansar seu adversário, fazendo com que ele corra e se desgaste. Mesmo que ele vença, você deu trabalho.
No boxe é bem parecido: tem horas em que o mais fraco está ocupado em se esquivar e, para isso, vale ficar correndo pelo ringue, aumentando a fúria do adversário, mas cansando muito ele.
Em termos práticos, todo mundo pode articular um bom contra-ataque, mesmo que o prêmio seja apenas a preservação da dignidade e por isso há a expressão "vá à luta", porque não é correndo dela que se resolverá a questão.

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